... e viveram felizes para sempre

Onde isso? Nem todo conto de fada promete o que não pode cumprir. Pelo menos não foi esse o destino do soldadinho de chumbo e da pequena vendedora de fósforos, ambos contos da Enciclopédia da Fantasia. Rica em fábulas famosas, essa coletânea infantil antiga mostra a diversidade cultural de diversos povos por meio de fábulas. Infelizmente, a realidade é bem diferente. Diria um índio americano retratado em filme, "nós quem, cara pálida?" A verdade é que mesmo bela, a indiazinha Guarani-Kaiowá não terá segunda chance se tomar veneno, como a famosa Branca de Neve. Nem os demais índios, cerca de 43 mil, que ameaçam suicídio coletivo caso não possam viver com dignidade na terra dos seus antepassados. E há condições de se conviver com tantas desgraças, ainda que alheias? O desrespeito à legislação e aos direitos humanos, como no caso dos índios, é comum em outras paragens, na nossa grande aldeia global, comandada pelo capital, como o que aconteceu em Pinheirinho, bairro de São José dos Campos (e acontece toda hora em prédios ociosos ocupados por sem-tetos). E quem detém esse poder é uma parcela ínfima da população do planeta, que controla outros mais ínfimos seduzidos pelo vaidade, poder e pela ganância. Mas o grande poder, mesmo, está nas mãos de poucos que se consideram privilegiados (talvez por não terem consciência) e estão distantes da mira dos marginalizados que atiram contra bandidos, soldados e mocinhos, para todo lado (o Jornal Nacional contabiliza diariamente esses assassinatos). Eles trafegam em carros blindados ou flutuam em jatinhos e helicópteros. Afinal, quem é o bandido ou mocinho nessa história? Se Rousseau estava certo, o homem nasce bom a sociedade é que o corrompe hipócrita.

Fonte de inspiração é o supercriativo blog criado por Cris Guerra, o Hoje Eu Vou Assim.

Relembramos as lições do jurista italiano Francesco Carnelutti em sua clássica obra "As Misérias do Processo Penal":

O delinqüente até que não seja encarcerado, é uma outra coisa, a que o autor sente horror, mas quando ele é algemado, a fera se torna homem. Não se pode fazer uma nítida divisão dos homens em bons ou maus. Infelizmente a nossa curta visão não permite avistar um germe do mal naqueles que são chamados de bons, e um germe de bem, naqueles que são chamados de maus. Basta tratar o delinqüente, antes que uma fera, como um homem, para descobrir nele a vaga chamazinha de pavio fumegante, que a pena, ao invés de apagar, deveria reavivar.

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