a aerodinâmica dos pássaros



"Nos fios tensos da pauta de metal
As andorinhas gritam por falta de uma clave de sol"


Há quase três anos percorro de carro 50km de uma estrada bucólica e verde. Esses momentos me estimulam a observar a natureza. Foi assim que percebi a curiosa aerodinâmica de alguns pássaros, que conseguem interromper bruscamente seu voo e mudar de direção quando pressentem algum tipo de perigo. Os gaviões batem as asas parados no ar, aguardando o melhor momento para atacar suas presas. Outros pássaros, imprudentes, atravessam a estrada, muitas vezes perdendo a vida ao se chocarem com algum obstáculo. Tucanos voam mais alto, longe dos perigos do tráfego. Talvez a leveza seja a maior lição que os pássaros têm a nos ensinar. Como diz a poetisa Alice Ruiz, “a gente pesa, só vai onde pisa”.


Nós, seres da terra, somos guiados por um instinto de sobrevivência (em alguns mais aguçado, em outros menos). Buscamos nos conectar a algo que nos dê sentido para continuar seguindo em frente. Uns encontram força dentro de si mesmos. Outros buscam na família, no trabalho, nas amizades ou em um grande amor. Não há fórmula mágica, presumo. Mas sei que a amizade precisa estar em qualquer tipo de relacionamento.


“Aristóteles percebeu que a amizade, além de ser uma intensa fonte de alegria e prazer, ela também é bastante diversa e demanda uma postura ativa e paciente de cuidado em longo prazo. O filósofo grego agrupou os amigos em 3 tipos: ‘amizades de utilidade’, que dependem de atividades e projetos em comum; ‘amizades baseadas no prazer’, que duram enquanto houver esse sentimento na relação; e ‘amizades fundamentadas em amar alguém por quem é’, quando você conhece o outro e é conhecido por essa pessoa exatamente por aquilo que são de fato (embora o seu valor seja também proporcional à raridade)”.


A “dinâmica-terra” dos homens é complicada. Hoje, numa conversa sobre as alegrias da maternidade e suas consequências (netos, etc.) ouvi de um grande amigo que eu dedicava o meu amor maternal aos cachorros. Prontamente respondi que meu amor pelos animais nada tem a ver com instinto maternal. Ignorantes são aqueles que não percebem que o amor humano pode se expandir a todos os seres da Criação em diferentes expressões de afeto. Que somente esse amor poderia criar uma sociedade mais justa e plena. Já dizia Aristóteles que “uma andorinha só não faz verão”, ou que um indivíduo não deve ser julgado por um ato isolado.


Pena que a gente não dedica mais tempo à reflexão nos fins de ano. As festas e os compromissos sociais não dão muito espaço pra refletir. E um ano acaba atropelando o outro sem que realmente se possa abrir espaço à tão necessária mudança. “A interação com a diversidade faz bem ao apresentar e ampliar possibilidades e renovar ideias, nos tornando mais abertos para conhecer pessoas. Afinal, as mãos estão em pares para serem dadas. ‘Não nos afastemos muito’, aconselha o poeta Carlos Drummond de Andrade. Porque a amizade nos faz (bem) mais felizes”. 


Bem, se você conseguiu chegar até aqui, saiba que minha intenção não é definir nada, tampouco dar lição de moral: longe de mim essa pretensão. Vivo em constante busca por conhecimentos que me tornem um ser melhor, e na mesma proporção erro. Embora me pareça que a consciência seja inversamente proporcional à felicidade: Quero sentir mais (me ajuda?). O que realmente importa é compartilhar e curtir momentos felizes junto daqueles que amamos. Essa convivência harmoniosa é o meu, o seu, o nosso maior aprendizado. Como dizia o mesmo Drummond, é dentro da gente que o ano novo cochila e espera desde sempre. Feliz ano novo!


(Entre aspas, trechos do texto Amigos Possíveis, de Laís Barros Martins, publicado na revista Vida Simples – Edição 166, de janeiro de 2016)


 Aos meus amigos do coração, obrigada por todos os momentos especiais.

Comentários

Rodolfo boni disse…
Querida Sheila!
Palavras maravilhosas. Gratidão por compartilhar esse sentimento tão sutil.
Que seu ano seja cheio de claves de Sol.
Unknown disse…
Obrigada pelas citações! <3

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