valdick e o carnaval

O carnaval de Guaxupé deste ano reuniu alguns gatos pingados. A Prefeitura realizou matinês vespertinas no coreto ao som das marchinhas tradicionais. A participação colorida de integrantes do grupo de teatro Tramas & Dramas incentivou a alegria. À noite, seis blocos desfilaram na avenida central. Na terça-feira, as luzes foram sendo apagadas após a passagem do último bloco. Sinal do fim da festa, antes de os relógios marcarem meia-noite (foto). Como diriam meus companheiros, o carnaval está dentro da gente.

O espanto se dá porque Guaxupé já foi palco de carnavais memoráveis, tradição que poderia ter sido mantida no decorrer dos anos. O declínio começou no fim dos anos 80. A partir daí, teve altos e baixos. A característica principal, que eram os blocos de rua e as festas nos clubes particulares, foi pouco a pouco perdida. Este ano, os guerreiros que ficaram na cidade se dividiram entre o bar Santa Fé, Guaranésia, Muzambinho e até São Pedro da União!

Há como recuperar o charme dos carnavais de outrora? Acredito que sim. Com boa vontade, humildade, planejamento, valorização dos artistas locais e profissionalismo. O que não se pode é querer o mesmo padrão das cidades vizinhas. Muito menos copiar modelos bem-sucedidos que não espelham a cultura local, como aconteceu em outras edições. Há que se priorizar a qualidade. A quantidade será resultado desse trabalho.






Uma história pra contar

Tudo começou num Natal remoto, quando ganhei da minha prima Jacqueline dois cachorrinhos de pano. O marrom de orelhas curtas batizei de Lindomar Castilho; o branco de orelhas compridas, Valdick Soriano. Em abril de 2000, quando adotei um basset das ruas, tia Nádia e eu o levamos na veterinária. Ao decidir adotá-lo, permiti que minha tia, na qualidade de madrinha, desse um nome ao pequeno. Ela, apaixonada pelo São Paulo Futebol Clube, tentou batizá-lo de Zeti. Chamamos o cãozinho várias vezes de Zeti e ele nem te ligo. Daí, ao chamá-lo de Valdick ele me olhou na hora e nunca mais deixou de atender a quem o chamasse por esse nome.

A partir daquele dia, vivemos muitas aventuras juntos. Valdick realmente acreditava que não era cachorro não. Ele adorava passear e comer isca de tilápia frita no pesqueiro do seu Tião Ponteio (Espelho d’água). Era grande companheiro nas minhas subidas ao morro do Cascalho, onde saía a desbravar o lugar enquanto eu curtia a natureza. Também participou de muitas excursões a cachoeiras da região. Uma vez, na cachoeirinha do meio, quase andou sobre as águas de tanto desespero para se encontrar comigo, que nadava próxima à queda d’água. Noutra feita, ao tentar me alcançar, ficou pendurado numa pedra. Foi minha vez de correr em seu encalço e, no desespero, quase andar sobre as águas (risos). Vale ressaltar que Valdick nunca gostou de água (só de beber). 

Também fez muitas amizades. Na casa da minha prima Lidia, sentindo-se íntimo, fez xixi numa das almofadas da sala. Fez muitos aperitivos no “muquifo” da Léslie. Foi carinhosamente apelidado de Didico pela Margareth. Na chácara da Mirna, não aceitou dormir no chão. Quando acordei, estava ao meu lado na cama. Se pudesse, teria dito: Obrigada pelo carinho, tio Silvio!

Humanizado, apaixonou-se por uma basset chamada Monalisa. André Áccula e Luís Fernando (antes de virar Luís da Timba) foram testemunhas desse amor. A cadelinha vivia com sua dona Aldenir numa casa ao lado do bar do Lobão (outra testemunha ocular desse amor). Vira e mexe Valdick escapava e ia bater na porta da casa delas, independentemente da Monalisa estar ou não no cio. Como dizia a saudosa tia Fádua: “Não sei por que quando querem xingar alguém chamam a pessoa de cachorro. Eles são melhores que muita gente!” (risos) Vale lembrar que Valdick não foi tão fiel assim – depois apaixonou-se pela Funny, filha da ex-amada. 

Enfim, meu pequeno cão angariou muitos amigos, entre humanos e outros bichos. Destemido, sempre tentava fazer amizade com os cachorros que dele se aproximavam, sem se importar com o tamanho deles. Tanto que levou várias mordidas, por sorte, sem maiores consequências. Valdick viveu cerca de dezoito anos, como já chegou adulto, não dá pra determinar a idade dele com precisão. Foi um guerreiro, lutou pela vida.

Caio em contradição ao dizer que ele foi como um filho pra mim, já que anteriormente defendi o contrário, que amar um bicho de estimação é muito diferente do amor materno. Admito: Valdick foi um filho adotivo. Obviamente, respeitando-se as diferenças. É mais profunda a troca entre os seres da mesma raça, porque um acaba sendo o espelho do outro (mesmo cada um sabendo a delícia de ser o que é). O amor vem mais fácil entre seres semelhantes. O grande desafio está em amar o diferente. 

Um bicho de estimação não fala, não faz birra, não briga com quem ele ama, é solidário, etc. Por não envelhecer aparentemente, guarda em si a pureza e fragilidade infantis. O convívio próximo a um bicho de estimação gera alegrias e aprendizados. Aliás, como todo convívio bom. Finda a festa, já que o fim da festa é uma certeza, Valdick partiu na segunda-feira de carnaval. Só me resta agradecer pela oportunidade desse grande encontro.


Dizem que o cachorro é o melhor amigo do homem por sua lealdade. Na intenção de conhecer melhor este conceito, encontrei um texto bem interessante escrito pelo jornalista Ivan Martins. Merece ser lido:

Fidelidade ou lealdade?
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/07/fidelidade-ou-blealdadeb.html



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