Um animal passeia nas
montanhas.
Arranha a cara nos espinhos do mato, perde o o
fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto
andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo
a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede,
confia
apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para
cima, o animal é um ímã,
numa escala de formiga, que as montanhas
atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao
cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu
seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a
descer.
Conheci o poeta Leonardo Fróes na revista Vida Simples. Curiosamente, essa edição passou despercebida, atraindo minha atenção recentemente. Talvez porque cada coisa tem a hora certa de acontecer. Não nascemos prontos para ver, tampouco sentir. Vamos colhendo e colecionando aprendizados ao longo da nossa existência. Muitas vezes, na nossa prepotência, achamos que está tudo conquistado - como o animal orgulhoso por chegar ao cume e sem se dar conta do que está por vir. Viver é complicado. De volta ao início, Fróes também me encantou (como o canto dos passarinhos, um céu de diversos matizes salpicado de nuvens, uma obra de arte, música e dança). E de que vale uma humilde existência sem os encantamentos que nos surpreendem pelos caminhos? Ainda, a matéria da revista diz que o poeta é um precursor da consciência ambiental no Brasil. Da minha parte, reverência total.
SOBRE UM TEMA DE CONFÚCIO
Que fique pelo menos um homem
sozinho num bar deserto pensando
em nada de especial e curtindo
pessoas atarefadas que passam.
Que a ele pelo menos aquilo
tudo — a pressa das tarefas e os carros —
pareça uma paisagem vazia
e até certo ponto sem cabimento.
Que esse homem sentado, soterrado
talvez em decepções amargas, se oriente
para ouvir a canção além dos passos
e além de sua própria pessoa
que assim no delírio urbano ressoa
sem função social senão deixar
que a boca filosofe assobiando
e o ouvido obediente perceba.
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