SOMOS TODOS DESCARTÁVEIS?
Pio e Jerônima Damião:
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Pio Damião viveu até metade do século passado (1953). Ele e sua esposa, Jerônima, acreditavam que a vida era fazer caridade. Não tiveram filhos, criaram muitos. Para eles, o ser vivo não era descartável. Naquele tempo, as relações de amizade, parentescos, etc., tinham valor e eram respeitadas, embora nem todos se dedicassem tanto como eles aos outros. Isto é uma questão de dom, de caráter. Somos o que somos ou podemos nos transformar em seres melhores?
Vivemos a era do individualismo, ou seja, cada um mais preocupado com si mesmo que com o todo. Semana passada assisti ao filme Jardineiro Fiel, dirigido por Fernando Meireles, com atores americanos (ou ingleses, não posso afirmar), filmado por volta de 2005 (?). Exemplo dos horrores descritos no Zeitgeist. Uma beleza de fotografia, roteiro e direção. Mas uma história apavorante. Os fins fustificam os meios? Para salvar pessoas é preciso sacrificar inocentes? Este é o lema da indústria farmacêutica, das táticas de guerra, do capitalismo (que aceita como naturalidade o trabalho escravo na China em prol dos consumidores americanos - norte, centro e sul). Somos coniventes quando compramos produtos baratérrimos sem questionar suas origens.
Não podemos fazer nada para mudar o mundo, a não ser lapidarmos nós mesmos, nossa espiritualidade. Esta constatação, para um jornalista, é brochante. Uma das funções do jornalismo é informar a população, sempre em busca do bem comum. Mas como fazer isso num mundo dominado pelo capital e pelo individualismo? Como ser honesto, íntegro e ético nas atuais condições? No Brasil ainda é comum o assassinato de jornalistas. Muitos, pelos confins do país, nem são divulgados. Talvez entrem apenas nas estatítiscas. Não há provas do coronelismo ainda vigente. Temos liberdade de imprensa até certo ponto, desde que não ameacemos o status quo.
"Em verdade temos medo, nascemos escuro, as existências são poucas, carteiro, ditador, soldado, nosso destino incompleto", gritava silenciosamente o querido poeta Drummond.
Pio e Jerônima Damião não foram descartados porque praticavam o bem ou porque não ameaçavam o mal. Pior, fazendo caridade limpa-se um pouco do veneno que escorre do poder. Não se muda a forma de governar o mundo, atenua-se os malefícios da ganância desenfreada pelo poder e pelo dinheiro. E se esquecem que estamos aqui só de passagem. Que o tempo é curto e há tantas belezas pra se viver.... Mas como aproveitar as coisas boas com tanta gente em estado de sofrimento constante?
Bem, colegas, não somos números, "não sois máquina, homem é o que sois" (Chaplin).
Quem dera pudesse
A dor que entristece
Fazer compreender
Os fracos de alma
Sem paz e sem calma
Ajudasse a ver
Que a vida é bela
Só nos resta viver
(Gonzaguinha)
Já que vamos viver e não há vida sem relacionamentos, pois o homem é um ser naturalmente social, vamos procurar ser parcialmente felizes, né? Numa conversa, Rosane Ricciardi sugeriu discutir sobre este tema: relacionamentos descartáveis. Até que ponto somos amigos ou usamos os outros por interesse? Quando alguém não nos serve mais descartamos no limbo da consciência, sem dó. Será?
("dormiremos entre monstros da nossa própria criação, serão noites inteiras, talvez por medo da escuridão, ficaremos acordados imaginando alguma solução pra que nosso egoísmo não destrua nosso coração" - Legião Urbana)
No Acontece deste final de semana, escrevi reportagem sobre os 120 anos da abolição da escravatura, por sugestão do seo Otto Vilas Boas (Minha História). No próximo, um pouco da história da Frente Negra, associação criada por Pio Damião na década de 30 para o lazer da comunidade afro-descendente.
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Pio Damião viveu até metade do século passado (1953). Ele e sua esposa, Jerônima, acreditavam que a vida era fazer caridade. Não tiveram filhos, criaram muitos. Para eles, o ser vivo não era descartável. Naquele tempo, as relações de amizade, parentescos, etc., tinham valor e eram respeitadas, embora nem todos se dedicassem tanto como eles aos outros. Isto é uma questão de dom, de caráter. Somos o que somos ou podemos nos transformar em seres melhores?
Vivemos a era do individualismo, ou seja, cada um mais preocupado com si mesmo que com o todo. Semana passada assisti ao filme Jardineiro Fiel, dirigido por Fernando Meireles, com atores americanos (ou ingleses, não posso afirmar), filmado por volta de 2005 (?). Exemplo dos horrores descritos no Zeitgeist. Uma beleza de fotografia, roteiro e direção. Mas uma história apavorante. Os fins fustificam os meios? Para salvar pessoas é preciso sacrificar inocentes? Este é o lema da indústria farmacêutica, das táticas de guerra, do capitalismo (que aceita como naturalidade o trabalho escravo na China em prol dos consumidores americanos - norte, centro e sul). Somos coniventes quando compramos produtos baratérrimos sem questionar suas origens.
Não podemos fazer nada para mudar o mundo, a não ser lapidarmos nós mesmos, nossa espiritualidade. Esta constatação, para um jornalista, é brochante. Uma das funções do jornalismo é informar a população, sempre em busca do bem comum. Mas como fazer isso num mundo dominado pelo capital e pelo individualismo? Como ser honesto, íntegro e ético nas atuais condições? No Brasil ainda é comum o assassinato de jornalistas. Muitos, pelos confins do país, nem são divulgados. Talvez entrem apenas nas estatítiscas. Não há provas do coronelismo ainda vigente. Temos liberdade de imprensa até certo ponto, desde que não ameacemos o status quo.
"Em verdade temos medo, nascemos escuro, as existências são poucas, carteiro, ditador, soldado, nosso destino incompleto", gritava silenciosamente o querido poeta Drummond.
Pio e Jerônima Damião não foram descartados porque praticavam o bem ou porque não ameaçavam o mal. Pior, fazendo caridade limpa-se um pouco do veneno que escorre do poder. Não se muda a forma de governar o mundo, atenua-se os malefícios da ganância desenfreada pelo poder e pelo dinheiro. E se esquecem que estamos aqui só de passagem. Que o tempo é curto e há tantas belezas pra se viver.... Mas como aproveitar as coisas boas com tanta gente em estado de sofrimento constante?
Bem, colegas, não somos números, "não sois máquina, homem é o que sois" (Chaplin).
Quem dera pudesse
A dor que entristece
Fazer compreender
Os fracos de alma
Sem paz e sem calma
Ajudasse a ver
Que a vida é bela
Só nos resta viver
(Gonzaguinha)
Já que vamos viver e não há vida sem relacionamentos, pois o homem é um ser naturalmente social, vamos procurar ser parcialmente felizes, né? Numa conversa, Rosane Ricciardi sugeriu discutir sobre este tema: relacionamentos descartáveis. Até que ponto somos amigos ou usamos os outros por interesse? Quando alguém não nos serve mais descartamos no limbo da consciência, sem dó. Será?
("dormiremos entre monstros da nossa própria criação, serão noites inteiras, talvez por medo da escuridão, ficaremos acordados imaginando alguma solução pra que nosso egoísmo não destrua nosso coração" - Legião Urbana)
No Acontece deste final de semana, escrevi reportagem sobre os 120 anos da abolição da escravatura, por sugestão do seo Otto Vilas Boas (Minha História). No próximo, um pouco da história da Frente Negra, associação criada por Pio Damião na década de 30 para o lazer da comunidade afro-descendente.
Comentários
no primeiro caso
onde começa o acaso
e onde acaba o propósito
se tudo o que fazemos
é menos que amor
mas ainda não é ódio?
Marina Ricciardi
Ontem ouvi do Zé Raimundo: "O individualismo está deixando as pessoas muito solitárias". Se o individualismo é o grande vilão dos relacionamentos descartáveis, logo, vai gerar uma solidão profunda. Disse um poeta, o homem não é uma ilha. Essa falta de definição dos sentimentos descrita pelo Leminski gera muita insegurança, e assim não é possível ser feliz.
O que vc acha disso, querida Marininha???
bjs, saudadesss
To impressionada com isto...porem acho que estamos deixando de prestar atencao ao redor...e perceber a forca de tudo que interage conosco...e nem sempre descartamos o que eh descartavel...perdeu-se o referencial de importancia das coisas e pessoas.....e como consequencia jogamos fora pelas janelas criancas, lixos, cigarros, chicletes e algumas vezes arrastamos tambem pelas ruas meninos...e descartamos tambem outros pobres que dormem em frente de candelarias...sem candelabros...parece tudo free...pega, usa, e joga fora...
Bjos\
obs..sem acentos...problemas de configuracao de teclado..
Rosane Ricciardi
Infelizmente, somos todos descartáveis, sim, como o bira do cigarro. Espero que quando minha carcaça inútil estiver desprovida de alma, ela queime numa fogueira luminosa, e depois suas cinzas se espalhem com o vento....
onde acaba o acaso e onde começa o propósito?