a dor não nos matará

Quando li o texto com esse título escrito por Jonathan Franzen, senti vontade de compartilhá-lo com algumas pessoas.Talvez, agora, nem seja o melhor momento de fazê-lo e seu conteúdo nada tenha a ver com o que realmente quero dizer, mas vale a dica de qualquer forma. Destaco um trecho para servir de preâmbulo a uma prosa doída.
Em vez de continuar viajando por aí como cidadão do mundo, curtindo algumas coisas, descurtindo outras e guardando envolvimentos para o futuro, fui obrigado a confrontar uma parte de mim que eu tinha que aceitar na íntegra ou rejeitar absolutamente. É isso que o amor faz com uma pessoa. Pois a questão fundamental para todos nós é o fato de que vivemos por algum tempo, mas um dia vamos morrer. Esse fato é a verdadeira causa fundamental de toda a nossa raiva, dor e desespero. E podemos optar por fugir desse fato ou, por meio do amor, aprender a aceitá-lo.
Toco neste assunto um pouco tarde, mas serei breve. Não poderia simplesmente postar meu sentimento de pesar no facebook. Certamente, Ricardo Zavagli Suarez nem cogitava a hipótese de morrer naquela tarde ensolarada de quarta-feira, 15, quando saiu para a difícil lida diária com presidiários. Muito menos que o ataque partiria de um detento que logo estaria em regime semiaberto (ler notícia). O hábito deixa a pessoa despreparada para o inusitado. Se pressentisse o perigo iminente, talvez tentasse se defender utilizando golpes de Hapkido (o caminho da união, da força e do espírito), arte marcial que dominava com maestria. Mas ele foi enganado pelas surpreendências da vida, já que um jovem de 26 anos não se ocupa com reflexões sobre a morte.



Eu também me surpreendi quando vi pela primeira vez Ricardo com o uniforme de agente penitenciário. Guardo a lembrança do rapaz moreno, bonito e sorridente, que uma vez me perguntou se eu poderia oferecer um lanche ou refrigerante para os presos que trabalhavam na praça. Até então, costumava vê-lo de uniforme somente no tatame. Tampouco percebi que carregava uma arma. Acho que violência não combinava com ele (nem arma é sinônimo de segurança). Acredito que nunca tenha passado pela cabeça desse agente, até certo ponto inexperiente e ingênuo - que trabalhava nesse ofício pra bancar a faculdade de Direito -, que um dia precisaria usar sua arma contra qualquer um dos presos que vigiava, pois nenhum deles era considerado perigoso. Não sei como apenas um agente penitenciário poderia ser responsável pela guarda de seis detentos, sem ser arriscado. Talvez, depois deste fato consumado, aconteça uma mudança de procedimentos para evitar outras tragédias. Mas, infelizmente, para Ricardo não haverá uma segunda chance.
E isso dói.



De acordo com os jornais, essa foi uma morte anunciada, o detento foi levado a cometer o crime por pressão de outros presos. Será a verdade esclarecida pela justiça dos homens?

De qualquer forma, não tem como fugir da lei da ação e reação - a Lei da Física - ou, se preferir, da Lei de Deus. Que todos os envolvidos sejam revelados. E que assim seja.

"A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais à medida em que se desigualem".
(Frase de Aristóteles levantada por Silvinha de Sá, jornalista, para uma possível reflexão sobre esse crime, que infelizmente traz à tona nossa mediocridade)

Leia mais, aqui.

Fotos tiradas em 2007, no Clube Guaxupé.

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