POR GENTILEZA, LIBERE O MURO

“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca...” (Gentileza, Marisa Monte)

Marcos Paulo dos Santos mora em um bairro de periferia, em Guaxupé, onde a maioria dos adolescentes está vulnerável às drogas e outros vícios. E este jovem de aproximadamente 20 anos ousa querer mais. Na sua casa amarela, simples, ladeada por bananeiras e pé de mexerica, ele fez um grafite: dois soldados armados e um símbolo contra a guerra. Essa paisagem chamou minha atenção quando procurava imagens para registrar durante a primeira expo Um novo olhar sobre a cidade, em junho de 2007. Posteriormente, convidei Marcos Paulo para participar do também estreante sarau cultural Balaio de Gato. Durante a noite, sentado em uma das mesas onde haviam sido deixados papel e canetas, o grafiteiro pintou diversas cenas. Quieto, falou por meio da arte e obteve sucesso. É com arte que Marcos Paulo sonha ganhar o mundo. Recentemente, incomodado com a brancura sem-graça do muro ao lado direito do “Grupo Queridinha”, pediu autorização à diretora, Regina Mazza, para expor nesse espaço sua arte underground (atualmente, o grafite vem ganhando destaque em algumas capitais brasileiras e no mundo). Desenhou uma mulher varrendo sujeira pra debaixo do tapete, aproveitando uma ausência de reboque e os tijolos à vista, e um soldado britânico dando uma geral em um garoto com seu urso de pelúcia. Uma maneira irreverente e até ingênua de registrar determinados costumes sociais. A diretora da escola não gostou e pediu para o artista apagar tudo. Indignado, Marcos recusou-se a tal feito, mesmo assim colocaram tinta sobre sua arte. Penso nas barbaridades que Regina quer esconder sob o tapete. Sabe aquela história sobre carapuça? Uma educadora tolhendo a liberdade e a criatividade de um jovem artista que acredita ser possível mudar o mundo com sua arte, não tem sentido. A liberdade de expressão é garantida pela constituição nacional, ditadura nunca mais. Qual exemplo os alunos do Queridinha apoiariam, caso fossem ouvidos? Como se sentiram vendo um morador da periferia que, como eles, pode e deve ousar ser mais? Porque é possível. Nos anos 50 Andy Warhol revolucionou com sua Pop-art, altamente irônica e contestadora. O que aconteceria se Jackie Onassis, Marilyn Monroe, Elvis Presley e a Igreja Católica tentassem apagar as cenas em que foram retratados e que, hoje em dia, decoram galerias sofisticadas, livros de arte, museus, etc.? Uma pena ainda acontecer abusos de poder desse tipo, ainda mais debaixo do nosso nariz. E o neo-expressionista Basquiat, que usou seu talento para escandalizar e, hoje, suas obras valem milhões de dólares. Infelizmente, Basquiat morreu ainda jovem, de overdose de cocaína e heroína. Espero, ardentemente, que Marcos Paulo não se deixe abater com essa covardia.





“Jean Michel Basquiat tinha ascendência porto-riquenha por parte de mãe e haitiana por parte de pai. Desde cedo mostrou uma aptidão incomum para a arte e foi influenciado pela mãe, Matilde, a desenhar, pintar e a participar de atividades relacionadas ao mundo artístico. Em 1977, aos 17 anos, Basquiat e um amigo, Al Diaz, começaram a fazer grafite em prédios abandonados em Manhattan. A assinatura era sempre a mesma: "SAMO" ou "SAMO shit" ("same old shit", ou, traduzindo, "a mesma merda de sempre"). Isso gerou curiosidade nas pessoas, principalmente pelo conteúdo das mensagens grafitadas...” (Fonte: Wikipedia)


No próximo Acontece, as histórias de Waldomiro Ferreira, o último ex-combatente guaxupeano da 2ª Guerra, e reportagem sobre Pilates e Cardioboxe, duas ótimas opções para quem não gosta das tradicionais salas de musculação e tem dinheiro para investir em saúde e beleza.

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