câmera e ação

No final, Adolpho Radaelli, atual presidente do Núcleo dos Orquidófilos, um homem de bem com a vida.

VIRALATANDO

Eu viralata, tu viralatas, ele viralata: no singular, simplesmente, viralatas. Mas, no plural, o movimento é total: nós viralatamos, vós viralatais, eles viralatam. Curtiu? O importante nesse nosso movimento é gerar alegria, respeito pelo próximo, criar laços afetivos e amizades, estimular criatividades e pluralidades. Muitos namoros começaram na Casa da Vó Maria... Muitas recordações.

Uma de nós ouviu alguém dizendo que não sairia no Viralatas este ano, pois não quer abraçar ninguém na avenida, rs. É engraçado, mesmo, porque nosso tema é Abraça, Viralatas!, mas apenas a comissão de frente irá "oferecer" abraços gratuitos. Em contrapartida, serão abraçadas aquelas pessoas que estiverem receptivas. Ou seja, liberdade total. É nossa forma de incentivar a Cultura da Paz. Abrace e seja abraçado se quiser (ou se puder), apesar de o tema estar no imperativo. Sacou?

O pré-carnaval, sábado, no Clube de Campo foi superbacana, no clima da paz. A Associação Viralatas do Samba agradece ao Clube de Campo pela feliz parceria. Desde domingo, nossos ensaios estão sonorizados. O samba-enredo deste ano, escrito por Lorice Cury Saad, grande carnavalesca de Os Bicancas, foi musicado por outro grande parceiro, Washington Rodrigues. Este ano contaremos, ainda, com Itamar, para ajudar Washington a puxar o samba, e com Rafael e Rogério, nos cavacos. As inscrições estão abertas. Vambora que vai ser muito bom. Além do samba-enredo, as músicas que estarão na roda de samba da avenida (Não Deixe o Samba Morrer - Moleque Atrevido - Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua).

O muro da casa já começou a ser pintado pela equipe do projeto Olhar Poético, idealizado e coordenado por Wanda, professora de Português e Literatura do Polivalente. Um trecho da música Vai Passar, do Chico, já está pintado. Também, o espaço interno está sendo revitalizado para deixar a energia rolar solta, dentro e fora de nós. Compreendeu?





Abraça, Viralatas!
Composição: Lorice Cury Saad / Washington Rodrigues

Fica comigo, não dá bobeira
A folia é passageira
Amor, me dê um abraço
Quero você pra vida inteira

Quero um mundo diferente
Sem guerra e preconceito
Nos amando uns aos outros
Casa e pão pra toda gente

Quero um lugar florido
Sem lamentos e dores
Que me dê a liberdade
De poder colher as flores

Quero cantar, oba!
Quero sambar, oba!
Sou vira-latas,
Sou carnaval

Vem comigo camarada
Colorir a avenida
Vira-latas pinceliza
Com batuque e alegria

Quero uma noite estrelada
Lua brilhando no céu
Sou vira-latas cantante
Eu sou o menestrel

Quero cantar, oba!
Quero sambar, oba!
Sou vira-latas,
Sou carnaval.



MINHA HISTÓRIA


De pescador a orquidófilo

Adolpho Radaelli nasceu em 24.10.47, em São Sebastião do Paraíso, quarto filho de Antônio Radaelli e Maria Dizaró Radaelli, ambos descendentes de italianos. Há cerca de trinta e quatro anos, Adolpho se mudou para Guaxupé com a esposa, onde criou três filhos e plantou muitos amigos. Fuma e bebe, diariamente, uma garrafa de café sem açúcar. Também, adquiriu o hábito de tomar erva-mate (Tereré) gelada por influência dos filhos, que moraram no Paraná. Diz ser chato, exigente e cumpridor de horários. Nem por isto, afasta as pessoas com as quais convive, pois tem um jeito especial e bem-humorado de se fazer entender. De pescador a orquidófilo, vive de bem com a vida.

“Quando nasci, meus pais pensaram em me dar o nome de ‘Zebra’ (risos), porque antes de mim havia somente mulheres: Zenaide, Zoraide e Zuleide. Depois, vieram Zuleica e Antônio. Fomos criados numa chácara onde meu pai plantava verduras e flores, ele era feirante. Naquela época não havia floriculturas.
Muitas vezes, os fregueses batiam na porta da nossa casa, à noite. A chácara era muito grande. Eu segurava a lâmpada de querosene que iluminava o caminho para meu pai colher as flores. Desde pequeno, ajudava a cuidar dos porcos e das galinhas. Não me esqueço do cavalo Azulejo, que eu levava até meu pai para ser arriado à charrete.
Aos sete anos, entrei no primário do Grupo Escolar Coronel José Cândido. Quando não estava na escola, fazia o dever de casa e catava matinhos na horta. Levantava muito cedo para preparar as verduras e legumes que meu pai vendia na feira: hortaliças, berinjela, quiabo, jiló. Depois, ia a pé para a escola. Tinha verdadeira adoração pela professora do 4º ano, Abadia Malagutti. Ela era um encanto, foi uma 2ª mãe para mim, me ajudou muito.
Em seguida, fiz o curso de admissão para o ginásio e ingressei na Escola Técnica de Comércio, que funcionava à noite, onde fiz, também, o colegial. O diretor da escola, Monsenhor Mancini, era de Guaxupé. Ele fumava um charuto medonho de fedido, sua batina vivia cheia de furos de queimado. Muito bravo e rigoroso, proibia as moças de usarem roupas curtas e os alunos de fumarem dentro da escola.
Dos quinze aos dezenove anos, trabalhei na Serralheria Martoni. Minha vida era muito simples. Costumava caçar e pescar com meu pai. Nadava muito em Termópolis com a turma do trabalho e da escola. Levantava muito cedo para ajudar meu pai, depois, pegava no pesado na serralheria. À noite, na escola, não sabia se dormia ou se estudava, de tanto cansaço.
Não perdia o Baile das Orquídeas, em Guaxupé. Viajava de terno. Além de lento, o trem parava em muitas estações. Chegava às 22 horas, do sábado, e ia direto para o baile. Voltava no 1º horário da manhã. Fiz amizade com Walmor Russo e com o Guido Furlan, que, posteriormente, foi morar em Paraíso.
Tive um professor de Português, Fábio Mirib, uma pessoa fantástica e um grande amigo, que me incentivava a fazer Direito. Como não havia faculdade no interior, não tive condições financeiras de estudar fora. Ao terminar o Tiro de Guerra, optei por trabalhar em Campinas. A única lembrança boa que guardo do exército foram os desfiles da fanfarra, eu adorava tocar bumbo.
Trabalho na cidade grande
Arrumei emprego na linha de montagem da General Eletric, onde fiquei por oito anos. As aulas de desenho, durante o colegial, que antes achava não terem serventia, deram sustentação para eu fazer este serviço. Montava transformadores e geradores de eletricidade para usinas hidrelétricas e chassis de locomotivas. O governador de São Paulo, Laudo Natel, comprou da GE 50 locomotivas para a FEPASA.
Nas horas de folga, frequentava o Andorinha Parque Clube, a oito quarteirões de casa, no Bairro do Bonfim, onde fazia natação regularmente. Costumava pegar o bondinho para ir ao cinema no centro da cidade. Tinha uma festa muito famosa, a Festa das Nações, no bairro do Castelo. O movimento era incrível. Lembro-me muito de ver Orestes Quércia, grande frequentador do Clube Bonfim, onde eu costumava jogar pingue-pongue e ir aos bailes. Ele era vereador na época, andava num fusquinha bordô e sorria para todo mundo. Votei nele para Prefeito, depois, Senador.
Uma vez por mês, visitava minha família em Paraíso. A viagem era longa, seis horas de ônibus, com paradas em várias cidades e muita volta para desviar da estrada de terra, entre Mococa e Paraíso. De trem era mais demorada, onze horas. Nestas idas e vindas, conheci Detinha - Odete Gonçalves - num baile, e começamos a namorar.
Como ela era funcionária da Telemig, decidi voltar. Fui trabalhar na mecânica pesada da Pedreira e Britadora Cantieri, onde fiquei por dois anos. Detinha e eu nos casamos, em setembro de 1976. Quando voltamos da lua de mel, em Poços de Caldas – no hotel em que ficamos havia uns quinze casais recém-casados – Detinha havia sido transferida para a Telemig de Guaxupé.
Inicialmente, continuei na pedreira, indo e vindo de Paraíso duas vezes por semana. Em 1977, arrumei emprego de vendedor, na Cooxupé, que comercializava produtos diversificados para os agricultores. Lembro-me de um cooperado que, ao chegar à loja, sempre pegava um chapéu novo e colocava sobre o dele, na cabeça, sem falar nada. Na hora de acertar as compras, a gente cobrava o chapéu e ele pagava sem reclamar.
Era absurdo o tanto que a cooperativa vendia de calças jeans. Precisou parar para não atrapalhar o comércio da cidade. Engraçados, também, eram os bilhetes dos sitiantes, que escreviam vacina afetuosa em vez de aftosa, nostro cárcio no lugar de nitrocálcio e por aí afora. Quando me perguntavam se tinha remédio para rato, eu rebatia perguntando se o rato estava doente (risos).
Fiquei um ano como vendedor e outros nove como comprador. Comecei a viajar para conhecer fornecedores, participar de seminários e congressos. Quando fui promovido a gerente de suprimentos, responsável por todas as compras da cooperativa, as viagens a trabalho se intensificaram. Tive a felicidade de formar uma equipe de suprimentos muito competente, que está lá até hoje.
Cheguei a fazer duas viagens para o exterior a trabalho. Uma para conhecer a fábrica de fertilizantes da Cargill, na Flórida; outra, para a África, como representante da Cooxupé, que recebeu um prêmio da Syngenta pelo volume de vendas e outros quesitos. Minha mulher e eu viajamos com dezenove casais de outras cooperativas. Visitamos lugares maravilhosos, na África do Sul, no Zâmbia e Zambebe.
Paternidade, pescarias e orquídeas
Enquanto estava na Cooxupé, tivemos nosso 1º filho, Giovani, em 1978. Francieli nasceu em 1980 e, Gustavo, em 1983. Como minha esposa trabalhava em turnos alternados, participei muito da criação e da educação dos meus filhos. Desde trocar fraldas, dar banho e papinha, até acompanhar nos deveres de casa. Mas nunca pude comparecer às reuniões da escola.
Já estava aposentado pelo INPS quando completei sessenta anos de idade, então, saí da cooperativa. Mas não parei de trabalhar, tornei-me representante da Fertilizantes Heringer. Meu cliente principal é a Cooxupé, mas vendo também para a Usina Monte Alegre e outras empresas.
Sempre gostei muito de esporte. Adoro vôlei, mas vejo mais pela TV. Participei do time de futebol dos veteranos da Cooxupé, até os 54 anos. Cheguei a participar de pescarias, no Mato Grosso, duas vezes ao ano. Pesquei até na usina de Yaciretá, no Paraguai, numa cidadezinha chamada Ayolas, por três anos seguidos.
Numa ocasião, estava pescando no rio Paraguai com um material de pesca novinho, dei uma distraída e o peixe puxou, levando a vara para dentro d’água, com carretilha e tudo. Não pensei duas vezes, pulei no rio. Fui eleito pela turma o pescador trapalhão. Cheguei a pegar um Pintado de 22 quilos. Gosto de cozinhar, principalmente, peixe: a moqueca de Pintado é uma delícia.
Acidentalmente, há doze anos, tomei gosto pelas orquídeas, por causa da Detinha que é orquidófila. Diminuí meu ritmo de pesca e, junto com ela, passei a me dedicar mais à orquidofilia. Temos 5.000 plantas no orquidário no fundo de casa. É um hobby que me toma muito tempo.
Oito anos atrás, fui presidente do Núcleo dos Orquidófilos de Guaxupé, por quatro anos. Atualmente, estou novamente no cargo, até 2012. Depois, pretendo passar a bola. O número de exposições é muito grande. Ano passado viajei durante 31 finais de semana, fica muito puxado. Nem sempre Detinha pode me acompanhar.
A grandeza da orquidofilia está nas amizades. Tem muitos jovens despontando, mas a maioria é aposentada ou em vias de se aposentar. Conheci cidades que nunca pensei em conhecer, com cultura e culinária diferentes da nossa.
Uma vez, João Carlos Gabriel (Peixinho) foi levar orquídeas para a exposição de Mogi Guaçu. Na volta, leu na placa do pedágio Sem Parar e passou direto. O segurança bateu atrás dele para cobrar.
Há uns anos, cheguei a pensar em voltar para Paraíso, por causa das nossas famílias, mas meus filhos não admitem essa possibilidade. Então, tirei a ideia da cabeça. Se Deus continuar me dando saúde, quero seguir trabalhando para manter a cabeça ocupada. Mexendo com orquídeas, estou de bem com a vida.”







Atualmente, os três filhos de Adolpho vivem em cidades diferentes, dois são agrônomos e uma, advogada. O primogênito já lhe deu até um netinho, João Antônio. Pai-coruja, faz questão de demonstrar seu orgulho: “Me realizei por intermédio deles, os meninos falam Inglês, fluentemente, e o mais velho tem mestrado.”





Fotos:
1) Adolpho, no Grupo Escolar Coronel José Cândido.
2) Casamento com Detinha, em 18.09 de 1976.
3) Detinha e Adolpho com os filhos Francieli, Giovani e Gustavo.
4) No Natal de 2010, em Primavera do Leste, Mato Grosso, vovô Adolpho e seu netinho, João Antônio.
5) Ao lado de Guto, Adolpho exibe o Pintado de 22 kg.
6) Os irmãos Antônio, Zenaide, Zoraide, Zuleide, Zuleica e Adolpho.


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