o tempo não para

MINHA HISTÓRIA
Ceci de Almeida, muito religiosa, agradece a Deus, diariamente, por tudo que conquistou na vida. (última)

Hoje, faltam 19 dias para o carnaval. A partir de agora, peço desculpas aos meus leitores, se não for tão assídua por aqui. Minha ação está focada nos preparativos para o desfile do Viralatas do Samba (5 e 7, sábado e segunda de carnaval, às 21h30), na revitalização da Casa da Vó Maria, nas pessoas que precisamos contratar para trabalhar, nos tecidos, aviamentos, adereços, colas, paredes, tambores, peles e foliões. Só não perco o sono, pois dormir é fundamental.

E filosofar, claro. Porque acontece em qualquer lugar, quando a gente menos espera. Gosto muito, na fila do açougue. Me deparo com pérolas como esta: fomos educados para nos envenenarmos, pouco a pouco, e, de tão acostumados ao veneno, não procuramos antídotos ou paliativos, acreditamos que não seja possível viver (ou morrer!) sem ele. Por exemplo, sabemos que o frango de granja tem hormônios nocivos à saúde, pois, em pouco tempo, essas aves estão em tamanho adequado ao abate. Mesmo assim, permaneço na fila à espera de um quilo de moela, que não me será doado, mas comprado por mim. Afinal, refogadinhas, cozidas lentamente com bastante cebola, as moelas são fundamentais... Ops, fundamentais?

Amanhã, vai passar no Jornal TV Sul reportagem que o Wellington Gonzaga fez durante o último ensaio do Viralatas do Samba, com imagens feitas pelo cinegrafista Clélio Doce. Por falar em TV Sul, Ricardo Zaiat, ao lado da esposa e companheira Viviane Martins, quase me atropelou enquanto fazia fotos do Empório Aparecida, na semana passada.




EMPÓRIO APARECIDA

Muitas postagens atrás, fotografei o imóvel onde, atualmente, funciona o Empório Aparecida, em situação de abandono. Foi bastante louvável a atitude do proprietário em restaurar o imóvel, construído no início dos anos de 1900. O espaço ficou bastante convidativo para saborear uma cerveja e um bate-papo entre amigos. Como fazem, costumeiramente, Mariângela e Antônio Ferraz, futuros avós de primeira viagem. Se estivesse em São Paulo, o empório ficaria bem mais agitado, pois lugares como este são valorizados por lá. Pena que vendam somente cervas em lata e long neck. Nas prateleiras e freezers, diversos tira-gostos estimulam o apetite.







MUSEU DE POUCAS NOVIDADES

Pode ser que museus não sejam o lugar mais propício a se buscar novidades, ou, talvez, tudo dependa do sentido da palavra, que contém em si o novo e o velho. Geralmente, as pessoas descobrem universos desconhecidos ao visitarem um museu. Mas, infelizmente, por enquanto, este não é o caso do Museu Municipal de Guaxupé, batizado Comendador Sebastião de Sá (seo Zizinho). Exceto por uma imagem de São Luiz Gonzaga, galeria dos ex-presidentes da câmara dos vereadores, taças de jogos de futebol e de algumas reproduções antigas, colocadas dentro de móveis com tampos de vidro, o local, que já foi sede de Prefeitura e da Câmara dos Vereadores, não é muito atrativo à visitação.

O imóvel foi reformado na administração do Abrãozinho, com o acompanhamento de profissionais especializados, para ficar adequado à instalação de um museu, como iluminação e temperatura interior, por exemplo. Recentemente, algumas sessões do Cineclube 14 Bis aconteceram na sala de multimídia, muito bem equipada para atividades deste tipo. O funcionamento de um cineclube nesse espaço era uma das pretensões do secretário de Cultura, Marcos David, com quem conversei tempos atrás. Guaxupé, no momento, parece não comportar dois cineclubes, mas uma parceria poderia ser bem interessante, até mesmo para os participantes das sessões de filmes. A não ser pelas cadeiras, que não são ideais para quem precisa permanecer sentado por mais de uma hora...









Educar, uma tarefa de amor

Maria Auxiliadora de Souza Vianna Almeida ou Ceci de Almeida nasceu em 23.6.28, na zona rural de Santa Rita do Sapucaí, filha de Miguel Ribeiro de Souza e Maria Mendes Vianna de Souza. Irmã de José de Alencar, Sydia, Zoraide e Miguel, Ceci sempre foi uma mulher ativa e dinâmica. Soube conciliar, muito bem, casamento, maternidade e vida profissional. Muito religiosa, agradece a Deus, diariamente, pela vida boa que tem. Aprendeu, com a maturidade, a saborear um momento de cada vez. Professora aposentada, afirma, com orgulho, seu slogan: "Educar é uma tarefa de amor".

“Meu pai era agricultor e, minha mãe, dona de casa. Antes de se casar, ela dava aulas e era conhecida por Zica Vianna. Foi a primeira professora normalista de Santa Rita formada pelas Irmãs Dorotéas, de Pouso Alegre. Desempenhou a função com sucesso, ganhando nome de rua. Nasci na fazenda das Posses, mas, aos quatro anos, nos mudamos para a fazenda das Palmeiras.
Às 7 da manhã, fazíamos ginástica com o professor Oswaldo Costa, pelo rádio. Depois, mamãe caminhava conosco por uma trilha de mata próxima à sede da fazenda. Colhíamos flores pelo caminho. Até hoje tenho este costume. As flores avermelhadas do Cipó de São João marcam meu aniversário. Lembro-me de uma vez ter perguntado à minha mãe quanto tempo faltava para meu aniversário, e ela respondeu que seria quando brotassem estas flores nas cercas.
Mamãe alfabetizava os filhos dos colonos, à noite. Meu irmão mais velho, que ficava com ela, alfabetizou-se, espontaneamente, aos cinco anos. O mesmo aconteceu com meu primogênito, que assistia às aulas que eu dava para minhas empregadas domésticas, também à noite, muito tempo depois.
Nossas brincadeiras eram no balanço de corda amarrado às árvores, de casinha de bonecas, a começar pelas de pano, depois papelão e, finalmente, celulose, como o querido boneco Zezé, com olhos de vidro, que ganhei da tia Mariazinha, aos quatro anos, e guardo até hoje. Para ele escrevi até um poema.
Quando nasci e meu irmão José viu que era uma menina, quis saber com quem ele iria brincar, pois esperava um irmãozinho. Com ele eu brinquei de bolinha de gude, pinhão na toca ou no monjolinho de brinquedo movido à água. Também, experimentei andar com pernas de pau. À noite, dentro de casa, brincar de pique de esconder era a atividade preferida de todos os irmãos.
Em 1936, entrei no 2º ano do Externato Santa Rita, da família Baldino. Zé Moreira, nosso irmão de criação, nos levava de charrete para a cidade, que ficava a um quilômetro da fazenda. Na escola aprendi a fazer trabalhos manuais. No dia dos professores, minha mãe escreveu uma pecinha de teatro que minhas irmãs e eu representamos na escola.
Eu gostava de declamar poesia. No 3º primário tirei o 1º lugar por uma redação. Este fato despertou, ainda mais, em mim, o gosto pela escrita e me estimulou a seguir escrevendo. Sempre gostei de português e literatura. Gosto demais, também, de história. Só não me dei bem com matemática. Quem me passou, nesta matéria, sempre, foi São Judas Tadeu.
Em seguida, fiz dois anos de adaptação para o curso de normalista, na Escola Normal Estadual de Santa Rita. Depois, entrei no internato do Colégio das Irmãs Dorotéas, em Pouso Alegre, seguindo a tradição da minha mãe, onde estudei durante três anos.
Visitava minha família no 1º domingo de cada mês, pegava o trem da Rede Mineira de Viação. Era tão aplicada que, algumas vezes, na proximidade das provas, deixava de fazer esta visita para ficar estudando. Escrevia uma carta para minha mãe explicando o motivo da minha ausência. Sydia, que estudava comigo, se revoltava, porque era obrigada a ficar, também.
Adorava o internato, sempre gostei de estudar e rezar. Sou rezadeira até hoje. Na nossa formatura declamei a poesia “Em despedida”, no dia da colação de grau, e cantamos o Hino da Despedida, escrito por mim, com a melodia da música Luar do Sertão. Na comemoração dos 50 anos da nossa formatura, uma das colegas promoveu nosso reencontro, com uma missa realizada no próprio colégio. No almoço de confraternização, repeti a poesia e li uma crônica “Recordar é Viver”, de minha autoria, onde lembrei até o dia em que a colega Maria Ribeiro engoliu a cola para não ser pega pela professora.

Namoro e Educação
Nas férias, fazia cavalgadas com minhas primas. Quando estávamos na casa da cidade, gostava demais de jogar vôlei no clube. À noite, dava voltas no jardim com minhas primas e irmãs, as moças ficavam de um lado e os rapazes, do outro. Uma amiga, Leni Moreira, passava de casa para subirmos juntas para a praça.
Uma noite, avistamos o locutor do serviço de alto-falantes do cinema na entrada do jardim. O cinema ficava em frente à praça, ele sempre encerrava sua locução com um ‘despede-se o locutor Almeida’. Assim que o viu, Leni falou, ‘olha o meu locutor’.
No dia seguinte, ela foi para a fazenda. À noite, fomos para o passeio na praça e vi que ele me olhava. Pensei que procurava por minha amiga, mas na nossa 2ª volta, me chamou para conversar: eu havia gostado dele à primeira vista. Sentamos num banco em frente à fonte luminosa e começamos a conversar, para saber quem era quem. Esse banco está lá, até hoje. José Dias Almeida era bancário e havia estudado na mesma escola que meu irmão. Era novembro de 1945 e, aos 17 anos, estava para me formar.
Após a formatura, voltei para a casa dos meus pais. Passei a dar aulas, sem remuneração, no curso noturno de alfabetização de adultos, a convite de Olga Capistrano, diretora da escola. Da mesma forma, dei aulas de Religião na Escola Normal Estadual, onde estudei. Meu pai não me deixou trabalhar para não tirar o lugar de quem precisava do salário.
Quis continuar meus estudos, fazer faculdade de Farmácia ou Filosofia, mas preferi desfrutar mais a convivência com meus pais, pois ficara muito tempo distante. Escrevia regularmente para o jornal local, o Correio do Sul. A cavalo, de uma fazenda a outra, prestava assistência em enfermagem aos colonos do papai: dava orientações, injeções e remédios. Até hoje, faço isto para meus colonos.
Também, gostava de bordar e fazer trabalhos manuais. E, como sempre, de ir à igreja. Fui filha de Maria, participava das reuniões e missas. Não gostava de brincar o carnaval, mas torcia por um dos dois blocos de rua da cidade, Os Democráticos. Meu namorado e minha irmã Sydia participavam deste bloco.

Mudanças e maternidade
Após cinco anos de namoro, Almeida e eu nos casamos. Da lua de mel em Poços de Caldas fomos para Ouro Fino, onde ficava o Banco Nacional em que, nessa época, ele trabalhava. Nossa casa já estava mobiliada, graças à ajuda da Zoraide, minha irmã.
Em Ouro Fino, reencontrei colegas do Colégio das Dorotéas. Não tive dificuldade de adaptação, sempre fui muito independente. Estava aguardando a hora do parto do meu 1º filho, Antônio Marcos, quando minha irmã Sydia e o marido foram me buscar, me convencendo a viajar para a casa da nossa mãe. Fizemos a viagem de trem, em cada parada Aristeu, meu cunhado, me perguntava se estava tudo bem. No dia seguinte, meu filho nasceu, em 15.08.51.
Meu pai era doido por fazendas. Além das duas de Santa Rita, tinha a Capitólio, em Santa Cruz da Prata, e, outra, em Taubaté. Numa viagem de Guaxupé à Santa Rita, ele passou por Ouro Fino e convenceu meu marido a administrar a propriedade da Pratinha. Achei uma beleza, pois queria que meu menininho desfrutasse o ar do campo.
Almeida conseguiu uma licença do banco e, em 07.10.51, chegamos à Guaxupé. O caminhão que trouxe nossa mudança foi o mesmo que levou a do Benedito Cerdeira e da Finoca, que se mudaram para a casa onde morávamos em Ouro Fino. O filho deles, Ivan, então com três anos, tornou-se, como meu primogênito, médico, e foram grandes amigos.
Logo que chegamos, mandamos nossos móveis para a fazenda e ficamos hospedados no Hotel Royal, da dona Julieta Podestá e do seo João Rocha, que nos receberam muito bem. Alguns hóspedes reclamavam do choro do menino, à noite. Neste hotel, reencontramos nosso conterrâneo Carlos Adami, que era funcionário do Nacional, em Guaxupé. Como ele tocava violino muito bem, meu marido colocou apelido nele de Paganini. Almeida gostava de pôr apelido em todo mundo, era muito brincalhão.

Uma tarefa de amor
Pouco tempo depois, alugamos uma casa na Rua Tiradentes. Como Almeida se deu bem nos negócios, decidiu sair do banco. Passou a cuidar de todas as fazendas do meu pai. Nessa época, nos mudamos para a Capitólio, onde comecei a dar aulas na Escola Estadual Santa Rita, fundada por mim na própria fazenda.
Quando fui aprovada para lecionar através de concurso, em 1952, estava grávida do meu 2º filho, José Renato. Coincidentemente, ele me levou para assinar minha aposentadoria, em São Sebastião do Paraíso, trinta e dois anos depois. Ele nasceu na Santa Casa de Guaxupé, pelas mãos da irmã Olívia, uma velhinha muito boa. Nenhum filho meu nasceu com a ajuda de médicos, meus partos eram relâmpagos.
Nas Bodas de Pérolas dos meus pais, em Santa Rita, assim que acabou a festa fui para o hospital ter Regina Celi. Já, Márcia nasceu na Santa Casa de Guaxupé, com a irmã Elizete. Depois, veio Miguel e, em 66, Maristela. Minha amiga Noêmia Souza Ribeiro estava comigo quando tive a caçula. Ela tocou a campainha para chamar a irmã, mas não deu tempo, Maristela nasceu na cama do quarto. A Noêmia falou, ‘porcaria, nem cara feia você fez’.
Nunca deixei de dar assistência aos meus colonos. Sempre tive residência em dois lugares, aqui e na Capitólio. Quando meus filhos vieram estudar em Guaxupé, fui transferida para o Grupo Barão, depois, para o Queridinha. Sou da 1ª turma de Pedagogia da FAFIG, estudei na mesma classe do seo Milo Mantovani, que me convidou para organizar a biblioteca da nova sede do Colégio Estadual, onde fui, por sete anos, bibliotecária.
Nesse ínterim, estudei Direito em São João da Boa Vista. Gravava as aulas e, em casa, fazia um resumo de tudo. Estudava as gravações com Caibar de Souza, meu colega. Era muito estudiosa, sentava na 1ª fila, ao lado da parede, para ligar o gravador. No começo de 1973, passei no exame da OAB. Advoguei para muita gente sem cobrar honorários.
Simultaneamente, a partir de 1972, fui a 1ª diretora da Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida, anexa à Escola Profissional. Lembro-me bem do Padre Olavo, de batina preta, na minha casa ao me convidar para o cargo.
Nunca deixei de me dedicar à igreja, dando assistência à Paróquia de Santa Cruz da Prata, onde fundei a Irmandade do Apostolado da Oração e, em Guaxupé, onde já sou cidadã guaxupeana, como Ministra da Eucaristia e zeladora do Apostolado da Oração. Escrevi dois livros sobre este tema. A renda das vendas é revertida para a congregação.
No início dos anos de 2000, fui convidada para participar da Academia de Ciências, Letras e Artes de Santa Rita do Sapucaí. Como acadêmica, fiz dois trabalhos pela comemoração dos 90 anos da Escola Normal Estadual: um levantamento sobre a história da Educação e o ciclo das fazendas do município, desde 1884. Também, escrevi sobre o centenário do Grupo Delfim Moreira, que me rendeu uma menção honrosa.”
Em 2003, Ceci teve duas grandes perdas: o filho Marcos e o marido. Encontrou forças porque estava segurando nas mãos de Deus. Na fazenda, construiu uma gruta em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes, por uma graça alcançada. Atualmente, tem 14 netos e 4 bisnetos. A família está sempre reunida, seja na cidade ou no campo, onde ainda continua cultivando e apanhando flores.

Bibliografia de Ceci de Almeida: Minhas emoções, em 1996; Zica Vianna - 100 anos do seu nascimento, 1997; Retalhos de Emoções, 1999; Apostolado da Oração - O coração da Igreja, 2001; A vida preciosa do filho Antônio Marcos, 2007; Ceci de Almeida - 80 anos, 2008; ABC - A cartilha do apostolado da oração, 2010. Está no computador uma pesquisa sobre o município: A história de Guaxupé para os meus alunos.

Fotos:
1) Os irmãos Sydia, Miguel, José de Alencar, Zoraide e Ceci.
2) A noiva Ceci, em 20.10.50.
3) Os filhos Márcia, Nato, Regina, Marcos, Miguel e Maristela na comemoração das Bodas de Pratas dos pais, José e Ceci.
4) Ceci, entre as filhas e as nove netas, na festa dos 80 anos.


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