domingo, na casa da vó maria

A partir das 17h, a Associação Artístico-cultural Viralatas do Samba promoverá Contação de Histórias com os contadores do Instituto Elias José, apresentação da peça teatral Esta Propriedade Está Condenadas, às 19h (tem 1/2 hora de duração) e Canções de Todo o Mundo, com a cantora e musicoterapeuta Anny Laure Taron, que tem trabalhos realizados na Espanha, Alemanha, Argentina e França. Ainda, haverá exposição de fotos da Marcha Mundial pela Paz e bar.

Mais sobre a francesa em www.annie-laure.com.ar

Pós-queimada

Olha como ficou o terreno localizado em Área de Preservação Permanente - APP, entre as pontes do Taboão e da Rua Mancini. O clima ceco vem proporcionando cenas tristes como estas em todo o País. Infelizmente, esses acontecimentos atendem, em muitos casos, a interesses econômicos. Resta saber se a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente fará cumprir a legislação ambiental. Neste caso, o terreno sem vegetação (incluindo parte do bambuzal que não foi queimada, mas posteriormente arrancada) propicia o assoreamento e outros danos ao já quase morto e mau-cheiroso Rio Guaxupé (de acordo com depoimento do Engenheiro Florestal do IEF para reportagem anterior).






MINHA HISTÓRIA
Uma pincelada nos 100 anos de histórias de Nair Ribeiro Ferraz revela uma mulher amorosa e muito, muito paciente.


A paciência é uma virtude


Ouvir histórias de uma pessoa de 100 anos tem algo de sublime e, por este motivo, devem ser interpretadas com a alma. A entrevista de Nair Ribeiro Ferraz carece de datas precisas e, talvez, contenha algumas distorções. São trechos da vida de uma simpática e destemida centenária, que vivenciou muitas tristezas - como a perda de diversos entes queridos - e muitas coisas boas (como ela mesma fala, com os olhos ora marejados, ora risonhos). Dias atrás, um padre foi visitá-la e lhe perguntou o que era preciso para viver 100 anos. Ela respondeu: paciência (risos). Tia Nair, como é chamada pelos 44 sobrinhos e 116 sobrinhos-netos, diz não temer o que vem pela frente, confiante em Deus. A atitude dela remete à poesia de Lenine: “Enquanto o tempo acelera e pede pressa / Eu me recuso faço hora / Vou na valsa / A vida é tão rara...”


“Nasci em Guaxupé, dia 18 de junho de 1910, na fazenda Pererinha. Não vi passar o tempo porque trabalhava muito na fazenda. Sou filha de Manoel Gonçalves Ferraz e Cândida Ribeiro Ferraz, a terceira de onze irmãos: Eunice, Anita, eu, Marina (Nete), José, Maria, Jesuína (Zininha), Francisco, Manoel (Neca), Sebastião e Eulina.
Papai veio de Cristina, interior de Minas, ele leu no jornal que a estrada de ferro chegaria a Guaxupé. Um tio, Antônio Costa Monteiro - aquele da estátua na avenida - arrumou pra ele emprego de administrador na propriedade da dona Ana Ribeiro do Valle, que era viúva e tinha duas filhas, Cândida e Jesuína. Papai casou-se com a mais velha. Como era bom de negócio, foi adquirindo mais terras com o passar do tempo.
Eu brincava muito. Subia nos morros pra pegar serralha (erva comestível com sabor semelhante ao espinafre). Entrava descalça no ribeirão e pescava lambari com a peneira. Brincava de casinha sob as laranjeiras. Depois, papai construiu uma casinha de verdade para as filhas brincarem.
Nos finais de semana, vínhamos de trole (charrete coberta puxada por cavalos) pra cidade. Papai comprava uma grande quantidade de sorvete, abacaxi e melancia para nós. Era aquela festa. Ele era muito bom pra família.
Estudei no colégio das Irmãs Concepcionistas. Papai e outros fazendeiros doaram as terras para a construção do Colégio Imaculada Conceição. Fui interna durante seis anos. Ficava na fazenda somente oito dias de julho e de dezembro a fevereiro. Era um rigor danado, achava triste ficar na escola, fechada. Salma Sabbag era minha colega, sentava perto de mim.
Tínhamos aulas de matemática, inglês e geografia. Conhecemos o mundo pelo Atlas, naquela época não existia avião. Jogava Orticã, um jogo de bola com a cabeça. Era boa pra jogar, porque era miudinha e esperta. Havia dois times, o nosso ganhava sempre. (Orticã foi um dos primeiros jogos de competição praticados no colégio. Acredita-se que tenha chegado ao Brasil por intermédio das irmãs italianas. No caso de Guaxupé, dona Nair diz que as irmãs eram espanholas).
Sempre fui muito amorosa, chorei quando me despedi das freiras. Saí do colégio, mas sem diploma de professora. Somente depois o curso foi equiparado ao de normalista. Havia umas 70 famílias na fazenda, passei a dar aulas para os filhos dos colonos, que me pagavam como podiam. Não era formada, se fosse, a prefeitura pagaria salário para mim. Mas não gostei de lecionar. Minhas duas irmãs, Maria e Zininha, que receberam diploma, tornaram-se professoras. Zininha foi lecionar na Fazenda Aliança. Maria entrou no meu lugar na Pereiras.
Fui Filha de Maria, uma irmandade da Catedral. No 1º domingo do mês a gente tinha que usar um uniforme branco. Nas procissões era uma beleza, ficávamos todas enfileiradas.
Eu costurava pra toda a família. No colégio tive aulas de corte e costura. Também passei a criar galinhas. Carregava a lata de ração no ombro. Trabalhava porque gostava muito, não era porque papai mandava. A gente comprava pintinhos e os colocávamos debaixo de campânulas para ficarem aquecidos. Luiz Fávero, quando buscava os frangos de caminhão para vender em São Paulo, costumava tomar café e comer bolo com a gente.
Inicialmente, a granja tinha cercas de bambu. Uma vez, entrou um lagarto no galinheiro. Eu gritei tanto que veio um camarada e matou o lagarto. Depois, nosso negócio se modernizou, fecharam a criação num galpão grande. As coisas foram melhorando.


Colcha de retalhos
Em novembro de 51, acompanhei papai e mamãe até o Paraná, para assistirmos ao casamento do meu irmão Manoel com Sofia. Fomos de avião até São Paulo. Lá, ficamos hospedados na casa da tia Georgina. Depois, seguimos para Londrina, onde alugamos um carro até Jandaia do Sul, local da cerimônia.
Bento, o marido da tia Georgina, era bancário. Em 1913, ele construiu esta casa onde moro, na esquina da Rua Barão de Guaxupé, depois a vendeu para meu pai.
Aprendi a dirigir aos 65 anos, tirando carteira de motorista. Eu plantava café na Fazenda Pereiras, na parte que recebi de herança (Dona Cândida, a mãe, faleceu em 52; Maneco, o pai, em 71). Todas as tardes, eu pegava o carro e ia para lá. Tive três colonos que me ajudaram muito e foram muito bons pra mim: Antônio, Braulino e Osmar. Cheguei a ganhar o título de melhor produtora de café, da Câmara Municipal de Guaxupé. Gostava muito da fazenda, por isso me deram esse prêmio. Vendi esta minha propriedade há muitos anos. Ainda bem, senão como faria agora, sem andar?
Dizem que tenho saúde porque não me casei (risos). Certa vez, um pretendente, Contran, me convidou para ir ao cinema. O filme era Sangue por Glória. Papai não achou graça, fez questão de nos acompanhar com minhas irmãs. O moço quis pagar minha entrada, mas papai não deixou. Ia sempre ao cinema, às vezes, até sozinha. Havia duas sessões, uma às 19h e, outra, às 21h. Depois, dava voltas na avenida com minhas irmãs. Nunca gostei de ninguém que me fez sentir vontade de casar (risos).
A gente vê muita coisa triste, mas vê também coisas muito boas. Aproveitei a vida, fiz diversas excursões de ônibus pelo Brasil. Faltou pouco estado pra eu visitar. Gostei muito do Ceará, as praias de lá são branquinhas. O gerente do hotel nos levou para conhecer as rendeiras, mas nos avisou que ficaríamos tristes com a pobreza dessas mulheres. Elas ganham muito pouco.”
Até dois anos atrás, Nair tinha condições físicas para caminhar. Atualmente, tem problemas de audição, mas enxerga muito bem: lê jornal e revista habitualmente, sem óculos. Gosta de ficar bem-informada. Conta que o irmão, Doutor Neca, médico, era assinante da Folha de São Paulo. Como ele morava na roça, o jornal chegava na casa da cidade e ela o lia em primeira mão. Tia Nair é referência para toda a família, o elo de união entre presente e passado. Com o auxílio de várias colaboradoras e sem poder sair de casa, aguarda com paciência a visita dos entes queridos. Como acontecia quando era jovem e saudável, e a casa, sempre cheia.

Fotos:
1)Em pé, Sebastião, Lia (filha de Mário e Eunice), Nair, Neca, Zininha, José, Maria, Chiquinho e Nete. Sentados: Anita, a matriarca Cândida, Eulina, o patriarca Maneco e Eunice - em 1938.
2)As irmãs Eunice, Nair, Anita, Nete, Maria e Zininha. (se for preciso excluir alguma, tirar esta)
3)José, Nete, Eulina, Anita, Jesuína, Nair, Maria e Chiquinho – década de 70.
4)Nair, na granja da Fazenda Pereiras, com a sogra e o filho da Anita.
5)No Colégio Imaculada Conceição, Nair está entre as duas freiras à direita.
6)Passeio na Fazenda Aliança, em 2000: Nete, Célia (sobrinha), Glória (sobrinha), Nair, Maria e Ana Maria (sobrinha).


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Comentários

Lorêny Portugal disse…
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Rosane disse…
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bisteca disse…
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