minha história

As memórias minuciosas de José Evaristo Silvério, um grande contador de histórias, são dignas de um livro.

O homem que tapeia Deus

José Evaristo Silvério nasceu em 23.07.25, filho de Vergílio Evaristo Silvério e Pedra Maria Teixeira. Primogênito de cinco filhos: Odilon, Rita, Orlando e Francisca. Foi registrado como nascido dia 25, pois seu pai, ao chegar ao cartório dois dias depois do nascimento do filho, encontrou Major Sertório dando bronca em outro pai que também chegara atrasado. Com medo do major, o pai disse que seu filho nascera naquele dia, o mesmo em que comemora seu aniversário até hoje. Este é um dos muitos causos da vida deste homem, que aos 85 anos se mantém lúcido e bem-humorado: “To tapeando Deus, ele vê este coitado e diz, deixa ele ficar mais um pouco.”

“Nasci em Guaxupé, na Rua Amazonas, atualmente, José Costa Monteiro, pelas mãos de uma parteira chamada Brandina. Meu avô, Evaristo da Veiga, descendente direto de escravos, músico, tropeiro e representante do vinho português Montemor batizou a rua, porque achou que seria o nome mais fácil para localizá-la ao voltar das suas viagens. Quando decidiu morar aqui, o lugar estava sendo povoado, a terra era de ninguém. Escolheu um pedaço suficiente para construir uma casa boa, com quintal. Nesta casa também nasceu meu pai, filho único.
Ele era alfaiate, mais conhecido como calceiro. Também era músico, mas não compunha como meu avô. Minha mãe era dona de casa, bordadeira e costureira, fazia muitas colchas de retalhos. Aos cinco anos, ela me ensinou a ler e escrever num quadro de pedra, com lápis de pedra. Limpava os escritos com um pano úmido, dizia que era o modo mais higiênico.
Com sete anos entrei no Grupo Barão, que funcionava no mesmo prédio do Delfim. A diretora era Dona Iolanda Conti. Entrei direto para o 2º ano da professora Maria Coragem, muito brava e enérgica, tinha medo dela. Para escrever, molhava a caneta de pena na tinta. Um dia, manchei uma figura do Livro de Elza. Quando ela me perguntava sobre ele, respondia que ainda não o havia comprado. Ao encontrar, casualmente, com meu avô, dona Maria lhe perguntou por que a demora em comprar o livro. Ele revelou que havia comprado há tempos. Depois, me obrigou a contar a verdade: Vai lá e não chora, não, que você é homem.
No 4º ano, dona Lula Silva foi como uma mãe para mim. Durante todo o primário, minhas notas sempre foram 9 e 10. Ganhei uma medalha vermelha, de honra ao mérito, por meu desempenho em Matemática. Na formatura, ganhei outra, verde, por ter me formado aos 9, com apenas três anos de grupo.
Em 54, vovô iria me matricular no ginásio do Álvaro Costa, mas faleceu antes, devido a um infarto. Meu avô foi um dos fundadores da Filarmônica Guaxupeense, junto com Sudário Couto e outros. Aos 10 anos, parei de estudar, papai me arrumou emprego na alfaiataria do seo Rodolfo Criscouro, que me ensinou a fazer pontos de mão. Também, varria a casa e a oficina.
Em seguida, trabalhei alguns anos na Alfaiataria Brasil, pra baixo de onde hoje é o Banco do Brasil. Aprendi a fazer calças e coletes. Aos domingos, junto com Nenê Eclissato passava as roupas dos viajantes hospedados no Hotel Cobra, com ferro a carvão, por 1 mil réis o terno completo. Ganhávamos de 3 a 5 mil réis, cada um, por fim de semana. Entregava tudo ao meu pai.
Antes dos 18 anos, passei a trabalhar na alfaiataria do Lindolfo Barbosa, ao lado da tipografia e papelaria do João Pereira, no prédio da Associação Comercial. Ali aprendi a fazer de tudo, calça, sobretudo, paletó. Ganhava de 70 a 90 mil réis mensais. Continuava dando tudo ao meu pai, ganhava mais que ele.
Nessa época, fiz o Tiro de Guerra. Sargento Pedro, um pernambucano que veio substituir o Sargento Isauro, colocou apelido nos 64 atiradores. Me chamava de ‘varetão’. Ele era ruim, não gostava de ninguém. Certa vez, num exercício de guerra na Fazenda Santa Esméria, eu e quatro atiradores, entre eles, Fernando Jerônimo (o do bacalhau), empurramos, sem querer, o sargento pra dentro da trincheira. Ficamos marcados, tivemos que fazer vários trabalhos extras.
Congregação dos Marianos
Raramente saía, papai não deixava, tinha medo que fizessem pouco de mim porque era preto e pobre. Meu passatempo era ir à reza da noite. Dentro da igreja velha, à direita, ficava a capela onde se reuniam as Filhas de Maria. À esquerda, onde havia uma imagem pintada de São Jorge Guerreiro vencendo um dragão, aconteciam as reuniões dos Marianos.
Odilon Costa, presidente dessa congregação, convidou-me para participar. Fiquei ressabiado, pois achei que não permitiam a participação de negros. Mas ele me disse que ali era a casa de Deus, aberta a todos. Pra mim, foi como ganhar na loteria. Monsenhor Hermínio era nosso diretor espiritual. Mamãe ficou felicíssima, ela também havia sido Filha de Maria.
No decorrer do tempo, tornei-me secretário da congregação, escrevi muitas atas. A gente fazia muitas romarias. Uma vez, num piquenique próximo à estação ferroviária Dr. José Eugênio, Odilon nos convidou para nadar no Rio Pardo. Ninguém aceitou porque estava muito frio. Logo que entrou na água, ele começou a gritar por socorro. Tivemos que puxá-lo com uma corda.
Após uma das reuniões da igreja, Odilon me chamou para conversar em particular. Informou que estava vago o cargo de auxiliar de serviços gerais no escritório de engenharia da 7ª Residência, da Mogiana, onde ele era o chefe. O salário era o triplo do que ganhava na alfaiataria.
Meu pai fez um alvoroço, não queria que eu mudasse de ofício. Minha mãe, que me chamava de Zico, falou: vai à igreja e reza pra Deus mostrar o caminho. Decidi aceitar, tinha dezenove anos. Saía de casa às 6h, ficava na alfaiataria até as 7h30, ia pra estação, trabalhava até as 16h e voltava pra oficina, até as 20h. Ainda levava serviços de mão para terminar em casa.
Quando recebi meu primeiro pagamento, mais de 300 mil réis, e entreguei a meu pai, ele ficou feliz da vida. Daí em diante, passei a fazer as despesas da casa. Continuei com seo Lindolfo mais um ano e parei. Pegava serviço particular para fazer em casa. Este dinheiro usava para despesas pessoais e para ir ao cinema. Não gostava de bebida alcoólica e cigarro.
De promoção a promoção
Após um ano, fui promovido a contínuo, no outro, a auxiliar de escritório; no 3º ano, passei a escriturário. Em 46, entrei na Academia de Comércio São José. No mesmo ano, fiz um curso por correspondência de Escrituração Mercantil e, outro, de Caligrafia.
Mais ou menos nessa época, Odilon começou a me cutucar: Escuta, Zé, quer virar Galo de São Roque? Você precisa formar família. Eu já andava cansado, meus irmãos me ajudavam muito pouco.
Em 1947, vi descer uma morena toda enfeitada do trem de São Paulo. Era Waldecyr Pinto, que eu conhecia de vista e fora trabalhar na capital paulista. Pensei, hoje à noite, na Festa da Aparecida, vou me encontrar com ela. E assim foi. Depois da festa, começamos a trocar cartas. Sábado sim, outro não, ia pra São Paulo, aproveitando meus passes-livres.
Em 48, interrompi meus estudos para economizar. Waldecyr e eu nos casamos na Igreja do Rosário, em 8 de dezembro, num dia de chuva. No ano seguinte, terminei o curso de contabilista, na Academia.
Em 1950, nos últimos meses de gravidez da minha esposa, houve um tremor de terra no começo da manhã. Saímos pra rua e vimos pessoas correndo, ela ficou muito assustada. Cheguei a chamar Dr. Mário Ribeiro, mas ele constatou que a criança já estava morta. Em 51, nasceu José Evaristo Jr., em 53, a Silvaldez, todos pelas mãos de Brandina, nossa parteira.
No mesmo ano do nascimento da minha filha, fui convidado para assumir o escritório de Franca, 5ª Residência, como encarregado. Meu filho, muito apegado a avó, não se adaptou. Ficaram morando aqui. Eu vinha todo final de semana. Saía na sexta, chegando às 10h do sábado, eram doze horas de viagem. Voltava no domingo. Um ano depois, minha família se mudou para Franca.
Em 1957, Odilon se aposentou e me indicou para ocupar seu lugar. O chefe do setor de engenharia, Dr. Homem de Melo, aceitou a indicação. Em 70, com a formação da FEPASA, fui transferido para Campinas, como supervisor da ferrovia. Dois casos marcaram minha passagem. Havia dois locais problemáticos, onde aconteciam muitos acidentes, um em Vinhedo, outro na entrada da estação de Aguaí. Fiz parcerias com os responsáveis pelas obras e resolvemos as questões.
Em 73, iam me transferir para o porto de Santos, mas pedi minha aposentadoria. Pretendia me formar em Matemática. Durante dois anos, mesmo continuando em Campinas, vinha para cá nos finais de semana para estudar na faculdade de Guaxupé. Mas não completei o curso.
Aposentado muito trabalhador
Após a aposentadoria da ferrovia, fui trabalhar numa construtora, como técnico em contabilidade. Em 1980, morávamos em um apartamento do prédio Itatiaia. Nessa época, omeçamos a cuidar de uma menina, recém-nascida. Após um ano, conseguimos adotar Mariana. Minha esposa se mudou para Guaxupé com nossas duas filhas. Em 83, juntei-me a elas, mas continuei dando assistência à firma, por mais três anos.
Para não ficar à toa, voltei a fazer serviços de alfaiate e outras costuras. Em 94, como Silvaldez foi trabalhar numa escola em São José do Rio Preto, fomos todos com ela. Lá, trabalhei muito, tinha uma freguesia muito grande.
Comecei a me interessar pela doutrina Espírita, em Franca. O colega Antônio Moreira Silva me apresentou o Centro Espírita Judas Escariotti. Comecei a participar das reuniões. José Russo, fundador daquele centro, me indicou vários livros para ler.
Em Guaxupé, passei a frequentar o Centro Espírita Nova Era. No início, comecei a escrever uns rabiscos. Com o apoio do Napoleão Jacob, continuei estudando, e comecei a receber mensagens legíveis.
Desde então, estudo em casa. Gosto muito dos livros de Ramatis. Devo ter umas 100 0bras sobre espiritismo. Graças a esta doutrina tive forças para superar a perda da minha filha mais velha, que faleceu em dezembro de 2000. O espiritismo me fez apreciar melhor a vida.”
José Evaristo voltou a morar em Guaxupé, em 2002, após a formatura da Mariana. Atualmente, com a ajuda da filha, cuida da esposa que tem alguns problemas de saúde. Faz questão de conservar sua coleção de selos do mundo inteiro, iniciada em 1957, a oficina de costuras e a paixão pelos livros espíritas e pelas plantas.

Boxe
Mogiana no cinquentenário de Guaxupé
Em 62, nas comemorações do cinquentenário do município, não convidaram a Mogiana para participar. Eu e alguns colegas decidimos fazer uma festa à parte, cada um contribuindo com uma quantia. Realizamos um desfile com a banda de música da Escola de Cadetes e seus carros de combate. Abria o cortejo um carro patrocinado pela Loja Moderna, do Expedito Souza. Neste carro, estava sentada uma moça com um belo vestido azul-claro.
Oferecemos um baile, no Clube Guaxupé, também animado pela banda de cadetes. Foi um sucesso. Fizemos um arco, iluminado com cerca de 400 lâmpadas, de fora a fora da rua, em frente onde era a Padaria São Judas, saudando Guaxupé pelos seus 50 anos.
As comemorações marcaram, ainda, a chegada da locomotiva diesel-elétrica à cidade. Na estação de Coronel Manoel Joaquim, ramal de Jureia, fizemos um churrasco do meio-dia às 18h. Os proprietários da fazenda doaram a carne. Deixamos uma locomotiva e um vagão à disposição para levar e trazer o povo, de graça.
Juscelino Kubitschek, então candidato à presidência da República, compareceu à missa na Praça da Estação e do churrasco. Ele descerrou a placa comemorativa homenageando o cinquentenário, onde constava o nome de todos os funcionários da Mogiana que contribuíram com o evento. Foi colocada na entrada da estação. Atualmente, não está mais lá, não sei quando foi retirada.

Fotos:
1) Os irmãos José Evaristo, 6, e Odilon, 4.
2) Casamento de Waldecyr e José Evaristo, em 08.12.48.
3) Na formatura da Academia de Comércio São José, em 49.
4) O patriarca com o filho José Evaristo, a filha Mariana Cristina e a esposa, Waldecyr.


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CURSO DE INICIAÇÃO TEATRAL 14 BIS

Emocionante ver atores iniciantes fazendo bonito no Municipal. Aquele palco bacana, textos interessantes, mistura de bom-humor e reflexão, gente de todas as idades reunida. Assim foi na noite de encerramento do curso de Iniciação Teatral do Instituto 14 Bis, este ano, na 2ª edição do projeto. Parabéns, Laíse Vieira e toda equipe envolvida neste trabalho.
“A apresentação, em si, foi um espetáculo, mas, para os envolvidos, mais um exercício aberto de seleção de textos e construção de personagens, contando com espectadores”, explica Laise. Segundo ela, o propósito do curso foi alcançado, “muito satisfatoriamente”. E dá a dica: O Instituto tem o Núcleo de Pesquisa Teatral 14 Bis, para aqueles que quiserem se aprofundar na área.
No decorrer do ano, o curso ofereceu quatro oficinas práticas - Cores e Batuques do Povo Brasileiro, com Rodolfo Bonifácio; de Interpretação Teatral, com a atriz Natasha Zanetti; de Criação Teatral – Performance, com Nathália Imbrizi e Musicalidade e Ritmo no Teatro, com Jovane Oliveira e Valéria Semar - e teóricas, com profissionais de diversas áreas sobre temas específicos, como Luciano Plez, Lauro Baldini, Adilson Ventura, Aline Moraes, Mauri Palos, entre outros. A equipe contou também com Tuany Mancini, a monitora do projeto, e Faustino dos Santos, que orientou a execução da trilha sonora.


“Superou minhas expectativas, esperava um teatro amador e não foi", afirma o professor Luíz Smaira, que assistiu, na 1ª fila, à apresentação da sua filha Clara (abaixo), aluna do curso, ao lado da esposa, Marta, e da caçula, Nina.









Fernanda após receber o certificado de conclusão do curso, abraça Tuany e Laíse.

Levi Valderramos e Mauri Palos, vereadores, e Marcos David, Secretário de Cultura, entregam certificado para Fabin Fantini.


FAMÍLIA DE SALTO ALTO

O lançamento de uma nova revista, Guaxupé em Família, aconteceu em grande estilo, com todo mundo de salto alto. Apesar de um pouco atrasada para um blog, publicamos as fotos do evento, que reuniu diversos secretários e diretores da administração pública no Teatro Municipal. Andreia Rezende, Valéria Roque e Fernanda Busso, da Salto Alto Comunicação produzem a revista em parceira com a Lumi, agência de publicidade de BH, atual responsável pela comunicação da Prefeitura de Guaxupé. Sérgio Cunha é o jornalista responsável pela publicação. Na 1ª edição, as duas últimas páginas foram dedicadas aos colaboradores da revista, fotografados por Cláudio Ferreira, segurando, cada um ao seu modo, um belo sapato vermelho.



O evento ficou mais bonito decorado com as telas do Zino.

Comentários

Lorêny Portugal disse…
Linda homenagem ao "Seu Zé", pai de uma também querida amiga, a Silvaldez, que infelizmente não habita mais este mundo!

Parabéns, mais uma vez, Sheila querida! Arra-Zoouuuuu

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