o grande colecionador

Se você estiver com pressa, nem comece a ler, pois o papo, desta vez, é longo, literalmente. Ontem à noite, morreu Oswaldo Campos, aos 81 anos. Técnico em contabilidade e funcionário do Banespa, aposentado, seo Oswaldo foi um grande colecionador de objetos diversos, em grande parte, títulos de arte, como pintura, literatura e cinema. Em 13.12 de 2002, foi publicada no semanário Atitude, uma entrevista com o colecionador guaxupeano, então com 73 anos, alguns anos antes de o Mal de Helzheimer apagar, pouco a pouco sua memória. Mas seu legado cultural, de acordo com sua vontade, deverá ser preservado e, consequentemente, seu nome ficará na história (clique na foto para ler o original).



Sala da casa onde viveu, com a tapeçaria Gobelin ao centro.


Seo Oswaldo patrocinou a impressão de mil cópias de um quadro produzido pelo artista plástico Henry Vítor, especialmente para serem encartadas no Atitude e distribuídas, gratuitamente, aos leitores do jornal, no Natal de 2002. Na arte naíf do artista, três pessoas, entre elas uma criança, "pescam" num barquinho batizado de Atitude. Infelizmente, a impressão da única cópia que guardei não ficou boa.

E por falar em atitude, sou fã do trabalho desenvolvido pelo coletivo Beerock, sempre valorizando as artes e unindo música ao audiovisual. Por meio de uma parceria com o Instituto 14 Bis, os integrantes do coletivo indicam filmes para serem exibidos em uma sexta-feira do mês, no Cineclube 14 Bis. Na última, o filme Uma Espécie em Extinção, sobre a vida conturbada do jornalista norte-americano Hunter Thompson. Na trilha sonora, Neil Young fez uma releitura de uma música que eu ouvia muito anos atrás, Home on the Range, bem no estilo faroeste, ao som delicioso de uma gaita. Foram momentos bem agradáveis, que me remeteram, temporariamente, para bem longe dos problemas recorrentes da organização de um bloco de carnaval.

Retomando, há jornalistas e jornalistas. O cara (Thompson) criou um novo estilo de jornalismo ao misturar ficção e informação. Escreveu vários livros, entre eles, Medo e Delírio em Las Vegas, protagonizado por Johnny Depp (taí outro filme pra passar no cineclube). Foi colaborador da revista Rolling Stone. Fez duras críticas ao governo Nixon e Bush. Nunca li nenhum texto escrito por ele, mas o filme e sua biografia me instigaram a fazê-lo (viva a wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Hunter_S._Thompson ). Tampouco trabalhei com a mente encharcada de LSD ou barbitúricos, embora converse com meus cachorros (ele dava cerveja pro seu cachorro de estimação beber, um dobermann, com quem conversava). Outra semelhança, talvez, seja defender a descriminalização das drogas e as ciclovias. Thompson suicidou-se, aos 68 anos, com um tiro de espingarda na cabeça.

Muito mais eficaz e honesto do que pular de lugares altos, por exemplo. Em Guaxupé, as torres de celulares são palcos ideais para espetáculos suicidas, pois muitas oferecem fácil acesso. Há quem prefira pular de telhados e correr o risco de ser motivo de chacota. Na quarta retrasada, um padre pulou de um, perto da casa paroquial. Não morreu, claro, mas virou notícia, estranhamente não publicada nos jornais, fora a charge do Caetano, no Correio. O detalhe principal é que o referido padre estava nu e berrava que era homossexual. Havia outro homem com ele no telhado, supostamente, um namorado. O fato é que a Igreja Católica precisa rever, urgentemente, seus conceitos. Nunca se falou tanto em pedofilia envolvendo padres como hoje em dia.



MINHA HISTÓRIA
Maria Helena Elias Benincasa comprova que risadas, hidroginástica e ioga são grandes fontes da juventude.



Aposentadoria, nem pensar!

Maria Helena Elias Benincasa nasceu em 8.9.44, em Guaxupé, filha de José Elias Uassuf e Catarina Abrão Elias, ambos descendentes de sírio-libaneses. Única filha, sempre foi paparicada pelo pai e pelos irmãos Moacir, Márcio e Nicolau. Mas nem por isto se acomodou, arrumou emprego assim que concluiu o curso Normal. Sempre teve energia para trabalhar em mais de um lugar, ao mesmo tempo: “Adoro trabalhar, não quero ser uma mulher aposentada.”

“Meu pai era contador e escrivão do fórum. A paixão dele era ser delegado, mas precisou trabalhar logo que se formou na Academia de Comércio São José e não pode fazer faculdade. Mamãe era dona de casa. Morávamos na Rua Francisco Ribeiro do Valle. Passei minha infância nessa rua, brincando com meus vizinhos e amigos da vida inteira, Maria Inês, Meire, Wilson, Fumo, Zé Felipe, Tuti, Marcos...
Gostava de brincar de queimada. No Sábado de Aleluia, fazíamos o boneco do Judas para, depois, ser apedrejado e queimado por nós. Uma vez, peguei uma roupa que papai ainda usava, para vestir o boneco. Ele ficou muito bravo, mas nunca me bateu, era doido por mim.
Meu pai fazia a contabilidade da olaria dos Carloni. Trazia argila pra gente brincar. No quintal, sob a mangueira, transformávamos essa argila em casinha e mobílias. Era muito bom.
Aos sete anos, entrei para o Grupo Delfim, onde estudei todo o primário. Minhas professoras foram dona Aparecida Reis, Maria Eulália Pinto, Marilda Bacci e Iolanda Stempniewski. Uma coleguinha levava pão com marmelada para comer no recreio. Nunca havia experimentado este tipo de lanche, então, pedi para minha mãe fazer e gostei. Passei a levar pão com marmelada no lanche. Ou então, dinheiro para gastar na vendinha da escola.
Era doida pra ganhar moeda e ir à venda do Dufe ou do seo Estevinho, onde eu costumava comprar sorvete de palito, especialmente, de coco queimado. Uma ficava na esquina abaixo de casa e, a outra, na Pereira do Nascimento.
Depois, fui estudar no Colégio Imaculada Conceição. Fiz prova de admissão para entrar no ginasial. O que mais aproveitei na escola foram os jogos de basquete e queimada nas aulas de Educação Física. Nossa professora era a Heloísa Magalhães. As aulas aconteciam no pátio, fazíamos abdominais deitadas no chão, com saia-calça até os joelhos, que era nosso uniforme de ginástica.
A camisa do uniforme tinha que ficar abotoada até o pescoço e eu me sentia incomodada, então, abria os botões. A madre superiora me mandava fechar, quando virava as costas, eu os abria de novo. Eu era terrível, gostava muito de rir, fazia molecagens. Ficava muito de castigo, em pé, na sala da madre superiora. Um dia, Amélia e eu estávamos de castigo e descobrimos balas Nilva dentro da gaveta da madre: pegamos o tanto que dava pra esconder no sutiã.
Uma vez, cansada das minhas peripécias, a madre falou que eu só iria para casa se meu pai fosse conversar com ela. Ele disse que não iria, de jeito nenhum, se dependesse dele, eu ficaria na escola. Teve época que fui semi-interna. À tarde, a gente fazia o dever de casa até a hora da aula de Educação Física. Meu maior castigo era não poder jogar.
No Normal, ganhei um pouco mais de juízo, mas não deixei de rir. Gostava de observar o comportamento das colegas do 3º ano: como elas dançavam quadrilha e jogavam jogos que eu não conhecia. Inicialmente, fiquei tímida, depois adquiri autoconfiança. Sandra Sabbag, Lela e Eunice Araújo se formaram comigo.


Professora dona Maria Helena
Quando recebi o diploma, aos dezoito anos, passei a dar aulas de alfabetização para adultos, na escola do Taboão, à noite, meu primeiro emprego remunerado. Eu adorava ouvir as pessoas mais velhas me chamando de dona. Gosto muito de gente simples. Fiquei cerca de quatro anos nesse trabalho.
Trabalhei, também, na secretaria do ginásio, como auxiliar da Samira Abrão. A vida inteira tive mais de um emprego, concomitantemente. Quando não estava em um serviço, estava em outro. De manhã, dei aulas no primário da Escola Profissional, hoje grupo Nossa Senhora Aparecida. À tarde, ia para o ginásio e, à noite, estudava História na FAFIG. Quando me formei na faculdade, comecei a dar aulas de História no ginásio e na Escola Profissional.
De tardezinha, ia pra piscina. Quase todas as noites, frequentava a Churrascaria Bambu ou o Francisqueti Lanches. Desde aquela época, fiz um grupo grande de amigos. Ia pra onde me levavam, mesmo tendo um pai muito bravo. Mas a gente também não fazia nada que nos desabonasse. Eu não bebia, nem de cerveja eu gosto. O Baile das Orquídeas vibrava o povo de Guaxupé, ficava todo mundo esperando. A gente fazia vestidos longos, era aquela coisa chique.
Em 1976, tirei licença-saúde para fazer um curso de Psicologia, de seis meses, em São Paulo. Já era professora efetiva, mas queria ganhar mais títulos. Em São Paulo, fui com tia Adélia Abrão visitar o professor Safady, dono do Colégio das Bandeiras, em Pinheiros, e ele me convidou para lecionar História. Diferentemente do estado, escola particular exigia Carteira Profissional. Então, tive que escolher: pedi exoneração do cargo de Guaxupé.
Como já disse, sempre trabalhei em mais de um lugar. Na mesma época do Colégio das Bandeiras, prestei novamente um concurso público e passei. Lecionei em escolas bem afastadas do bairro onde morava. Cheguei a dar quase 50 aulas por semana. Depois, fui chamada para trabalhar na 13ª Delegacia de Ensino, situada perto do colégio, graças ao meu irmão Moacir, que era bem-relacionado e me indicou para o cargo.
O trabalho na delegacia era muito fechado, quis sair após um ano, mas a delegada, Vera Sione, não deixou, me transferindo para a sala da supervisão, mais ampla e mais light. Trabalhei com os supervisores das melhores escolas paulistas. No setor anterior, trabalhava em uma sala com quatro colegas; ficamos amigas e, até hoje, quando estou em São Paulo, saímos para jantar toda quarta-feira.
Aposentei-me pelo estado, em 88, mas continuei no Bandeiras: peguei mais aulas e mais cargos nos dois períodos. Fiquei vinte e três anos nesse colégio, só saí porque fechou. Os donos eram descendentes de sírio-libaneses, me sentia em casa. Quando o Colégio Jardim América, a uma quadra da minha casa, comprou todo o material do Bandeiras, a diretora me convidou para continuar na coordenação escolar. Após dois anos, saiu minha segunda aposentadoria, mas segui trabalhando, até 2008. Parei porque esse colégio também encerrou suas atividades.


Casamento e maternidade
Logo que cheguei a São Paulo, conheci Fábio Benincasa, num barzinho em Pinheiros, na Teodoro Sampaio. Ele tinha uns olhos azuis que me encantavam. Toda vez que eu passava por ele, mexia comigo. Até que um dia me convidou para tomar uma bebida. Entre namoro e noivado passaram-se dois anos. Ele pediu minha mão para o meu pai e trocamos alianças como nos conformes. Nos casamos em 29.12.79. Papai faleceu seis dias depois, nem pode entrar na igreja comigo, pois estava internado em um hospital de São Paulo.
Engravidei logo em seguida, mas perdi a menina, Marcela, no dia do parto. Foi muito triste. Fiquei uns três meses de resguardo em Guaxupé. No ano seguinte, engravidei da Karina, que nasceu em março de 82. Mesmo assim, no final da gravidez precisei fazer repouso. Meu irmão Nicolau e sua mulher, Fátima, me deram uma força incrível. Quando minha filha nasceu foi uma felicidade, queria muito ser mãe. Fiz a maior festa de batizado para comemorar o nascimento dela, convidei todo mundo que eu conhecia. Desde então, nunca deixei de fazer festa de aniversário para a Karina.
Em 2000, meu irmão Moacir, então presidente da Associação dos Diplomatas da Escola Superior de Guerra do Brasil, me convidou para fazer o curso dessa associação – ADESG. O curso reunia pessoas de diferentes profissões, todas com ensino superior, para estudo de problemas brasileiros. Quando vi a grossura da doutrina da ADESG, quis desistir, mas Moacir não deixou. No final, senti o maior orgulho em receber o diploma de ‘adesguiana’ das mãos do meu irmão.
Nunca perdi o vínculo com Guaxupé. Mesmo após a morte da mamãe, em outubro de 2003, continuei no mesmo ritmo. Desde 2009, fico um mês aqui, outro em São Paulo. Digo que estou desempregada, mas não saio da rua, como secretária da minha filha e do meu marido. Penso: O que será que eu vou fazer? Você nunca vai me encontrar deitada durante a tarde vendo TV. Em São Paulo, faço hidroginástica e ioga, há muito tempo. Aqui, gosto de conversar com minhas amigas, à noite, na varanda de casa.”
Maria Helena pretende, futuramente, ficar mais tempo em Guaxupé que em São Paulo. Segundo ela, aqui é mais divertido, graças ao laço umbilical que manteve com os amigos. Claro que a visita do marido e da filha, nos finais de semana, para matar as saudades, é fundamental.

Fotos:
1) Com a mãe, Catarina, e os irmãos Márcio, Moacir e Nicolau.
2) Aos dez anos, Maria Helena, com Nicolau no colo, ao lado de Moacir.
3 e 4) O casal Maria Helena e Fábio, no aniversário de três aninhos da Karina, e atualmente.
5) Em 2000, Maria Helena recebe de Moacir o título de “adesguiana”.
6) Com as amigas de infância Maria Inês, Vera e Amélia.


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Enquanto isso, abraça, viralatas! Os ensaios da bateria do Viralatas do Samba acontecem toda quarta, sábado e domingo, a partir das 18h.


Comentários

fABiN disse…
Sheila
Acho que o fato da pessoa suicidar não tem nada a ver com a facilidade de subir numa torre. Pense nas cidades com linha ferroviária, metrô, pontes... etc...
Suicida quem quer.
bisteca disse…
rsrsrsrsrsrs
ai, Fabin...
senti sua falta no cineclube,
por onde andavas?

então, se aqui houvesse viadutos, o trem seria ainda mais feio... rs
na minha opinião, independente dos suicídios, o acesso às torres de telefonia deve ser dificultado.
da mesma forma que existem portas e porteiros nos prédios da cidade pra evitar que qualquer um suba na cobertura, por exemplo.
enfim... sei lá. as ideias vão surgindo e vou escrevendo. às vezes com, às vezes sem razão, o que importa é gerar reflexões.

bjs

Sheila
fABiN disse…
Sexta não deu pra ir Sheila.
Mas aquele filme é ótimo, neh!?!?!
Imagino que deve ter sido uma ótima sessão.
Então, o importante é a reflexão mesmo. As vezes escrevemos sem pensar direito. Mas é claro que precisa de mais segurança, porque além de candidatos a suicídio, uma criança pode subir e se ferir seriamente.
Lorêny Portugal disse…
Até que enfim uma corajosa como a Sheila pra botar as coisas pra fora nesta cidade...era padre mesmo!!! UMa vergonha essa religião católica...

Gostava da minha avó Isaura que dizia sempre, na suas loucuras, "eu sou católica, apostólica e muiiiiiiiito romântica"! De certo eles a ouviram falar assim, uai?!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
bisteca disse…
ai, Loreny,
vc sabe que detesto hipocrisia.
se fosse outra religião, como espírita ou evangélica, os jornais teria informado nome completo do padre e endereço para correspondências... rs

só os muito românticos, como sua avó, acreditam nos "religiosos" e religiões de hoje em dia.

bjs

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