dona terezinha

A entrevistada da última edição da Minha História, Terezinha Fávero Damitto, foi minha professora do 1º ano primário. Infelizmente, não tenho uma memória privilegiada, como muitos dos meus entrevistados. Porém, guardo sensações. Quando penso no Grupo Barão, sinto, novamente, carinho por minha primeira professora. Fiquei chateada por não ter uma foto dela, dessa época, para publicar.


Professora e dona de casa

Terezinha Fávero Damitto nasceu em Guaxupé, em 13.08.28, segunda filha de Mário Fávero e Raquel Conti Fávero. Contando com ela, eram cinco irmãos: Nilda, Orlando, Maria Elza e Célio. Atualmente, apenas Terezinha e o caçula. Senhora de aparência conservada e fala mansa, conta que na sua família ninguém gostava de tirar retratos. As poucas fotos que a mãe guardava num baú de madeira foram consumidas por cupins. Também avessa a bailes e festas, Terezinha nunca manteve uma vida social. Segundo ela, se tivesse que sair para arrumar namorado, estaria solteira até hoje. Com simplicidade, explica que sempre gostou de lecionar e fazer os serviços de casa.

“Nasci no dia treze, mas meu pai registrou meu nascimento cindo dias depois. Meus aniversários sempre passaram em branco, nunca gostei de comemorar. Meu avô, Olívio Fávero, era dono da fazenda Serrinha, onde meu pai tinha um sítio com o mesmo nome.
Nasci na casa dos meus avôs maternos, Constantino e Zita Conti, pelas mãos da parteira dona Lazarina, que morava quase em frente à vovó, na Rua Aparecida.
Fui criada na roça até os seis anos. Brincava de casinha, andava a cavalo, pulava cerca.
Nessa idade vim morar com vovó Zita. Nilda, minha irmã, um ano mais velha, já morava com ela e frequentava a escola. Em 1936, entrei no Grupo Escolar Delfim Moreira, minha professora do 1º ano foi dona Conceição Lopes. No ano seguinte, passei para o Grupo Barão de Guaxupé, pois tia Iolanda Conti foi convidada para ser a diretora dessa nova escola.
Nas férias de julho, no sítio, quebrei o fêmur pulando do mourão em cima de um monte de palha de feijão. Naquele tempo não havia ortopedista, Dr. Mário Ribeiro do Valle viu minha radiografia e determinou repouso absoluto. Fiquei hospedada na casa da tia Iolanda uns 40 dias.
Como o acidente aconteceu no meio do ano, papai achou melhor interromper meus estudos até que eu me recuperasse totalmente. Tive que repetir o 2º ano. Minha professora foi dona Lula Silva. No 3º, dona Edina Lacreta Rondinelli, e, no 4º, dona Nair Milhão. Gostei de todas, nunca tive problema com professoras.

Rumo ao magistério
Quando terminei o primário, em 1940, tia Iolanda me perguntou se eu gostaria de continuar estudando. Respondi que sim. Ela me arrumou uma bolsa de estudos no Colégio Imaculada Conceição. Até então, nunca havia pensado em seguir o magistério.
Seo Zizinho foi meu professor de Português, Francês e Ciências. Professor muito rigoroso, era difícil tirar notas boas com ele. Mas nunca repeti o ano. Minha turma não era muito unida, havia vários grupinhos de amigas. As freiras falavam que eu era muito quietinha, só me relacionava com duas ou três colegas.
Após cinco anos de Colégio, recebi o diploma, em 29.11.45. No ano seguinte, fui para São Paulo, visitar uns parentes, pensando em arrumar emprego por lá. Mas fiquei apenas um mês, papai quis que eu retornasse.
Nessa ocasião, tia Iolanda me convidou para dar aulas no lugar de uma professora que estava de mudança para Belo Horizonte. Trabalhei como substituta durante alguns meses, e, em seis de outubro de 1946, fui nomeada. Eu adorava lecionar. No Barão havia seis classes de 1º ano, cada uma com cerca de quarenta alunos.
Nos primeiros anos, o grupo funcionou no prédio do antigo Hotel Central. Quando os proprietários pediram para desocupar o imóvel, o grupo ficou dois anos junto com o Delfim, um funcionando no período da tarde, o outro, de manhã. Em 1954, o Barão foi transferido para o endereço atual. Tia Iolanda se aposentou mais ou menos uns dois anos depois.

Um namorado no caminho
Comecei a namorar Hélio Damitto também em 1946. Eu morava na rua Custódio Ribeiro Sobrinho. Após a morte do meu avô paterno, em 1940, a fazenda Serrinha foi vendida e minha família se mudou para a cidade.
Hélio morava na rua dos Macedos, perto de onde hoje é o Posto SP Minas. Passava todos os dias em frente nossa casa a caminho do trabalho. Eu sabia os horários dele e o esperava no alpendre ou na esquina. Mas a gente nem conversava, meu pai era rigoroso demais.
Dia sim, dia não, nos encontrávamos nos passeios na avenida. Na volta, ele me deixava na porta de casa, mas nunca entrava. Só entrou depois que ficamos noivos. Entre namoro e noivado passaram-se seis anos. Nesse ínterim, fiquei dando aulas e Hélio trabalhando na loja de tecidos do tio, Fioravante Damitto.
Em 20.01.52 nos casamos, na Igreja do Rosário, que nessa época funcionou como Catedral provisória, enquanto a atual estava sendo construída. Tivemos dois filhos, Hélio Tadeu, em julho de 58, e José Fernando, em março de 1955.
Eu quis contratar uma empregada pra me ajudar, mas mamãe não deixou, ficava com as crianças enquanto eu estava na escola. Nós morávamos na rua Francisco Vieira do Valle e, minha mãe, na avenida Dona Floriana. Era trabalhoso para Hélio levar as crianças no colo até a casa dela no horário do almoço. Tadeu tinha seis anos quando nos mudamos para uma casa própria, na Praça dos Expedicionários, onde vivo com meu marido até hoje.

Oração e família
Em 1974, aposentei-me. Passei a dar aula particular de Português, em casa. No mesmo ano que mamãe faleceu, em 1980, Maria Eulália Pinto me convidou para dar aulas de reforço no 1º ano do Colégio Dom Inácio, onde ela era diretora. Trabalhei lá penas uns quatro anos e parei. Achava que precisava me dedicar mais a minha casa e minha família.
Nunca gostei de passear ou viajar. Meus filhos foram morar fora, um em São Paulo, outro em Belo Horizonte. De vez em quando, Hélio e eu os visitávamos. Também conheci Curitiba, onde Tadeu morou durante um ano e, depois, retornou a São Paulo.
Gosto de cuidar da casa. Não gosto de novelas. Só leio revistas católicas e assisto à programação da TV Século XXI, Canção Nova e Rede Vida. Todo domingo vou à missa, dificilmente, falto. Há uns dez anos, meu marido adoeceu. Passei a dar atenção especial a ele. Atualmente, minha vida é essa: rezar e ficar em casa.
Minha saúde é ótima. Nunca fui a médicos, a não ser quando quebrei a perna. De vez em quando, tenho uma gripe, mas tomo uns comprimidos e ela desaparece. Por este motivo, tenho que agradecer muito a Deus.”
Atualmente, Terezinha tem quatro bisnetos, Mel, Leandro, Rafael e João Marcelo, e dois netos, Vítor e Raquel. O filho, Fernando, está sempre por perto. Ela conserva em seu semblante a serenidade típica daqueles que têm fé e confiam nos desígnios de Deus.

Foto:
1) Terezinha, formanda do Colégio Imaculada Conceição, em novembro de 1945.
2) Terezinha com seu irmão, Célio, e a cunhada, Romilda.


Apoio cultural:

Comentários

Anônimo disse…
Que Alegria encontrar informações sobre D. Teresinha, que, alem de ter sido minha primeira professora muito querida , é prima distante. Encontrei este site buscando informações sobre cidadania italiana e dos meus bisavós Constantino e Zita Conti .

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