minha história

Proponho um protesto contra a bebida Red Bull. Se você concordar comigo e também gostar de energético, a partir de agora, escolha outra marca. Não podemos continuar engolindo informações sem triagem, o momento exige de nós consciência. Fiquei boquiaberta com a última propaganda da marca que assisti na TV. Continuando na linha das ilustrações e das temáticas de gosto duvidoso, desta vez o publicitário criativo se superou na babaquice. Um "homem" vestido de super-herói está em seu apartamento e ouve uma voz de mulher gritando por socorro. Ele vai até a janela e pede calma a ela, caminhando tranquilamente até a geladeira. Ao abri-la, ele se depara com duas latas do energético vazias. Os gritos desesperados da mulher aumentam, então ele vai e fecha a janela: sem a bebida, sem asas. Como se para praticar qualquer ato de solidariedade seja preciso asas. Basta um pouco de coragem para agir, pelo menos ligando pra polícia, gritando socorro pela janela, mesmo. Enfim, quem quer ajudar procura possibilidades, esses são os verdadeiros heróis do cotidiano. Ótimo exemplo para os mais influenciáveis. Agora é hora da publicidade tomar novos rumos, se engajar na luta pela sustentabilidade, mostrando que dá pra ganhar dinheiro com ética.

MINHA HISTÓRIA
Memórias de uma dama conhecida por Dona Lourdes desde os 12 anos, quando saiu do primário diretamente para o 1º emprego.


Uma dama de corpo e alma

Maria de Lourdes Menezes Ribeiro nasceu em 23.08.22, em Bebedouro, SP, filha de João Batista de Menezes e Ana Alexandrina de Menezes. Há 58 anos mudou-se com o marido para Guaxupé, cidade que adotou de coração, onde criou cinco filhos que lhe deram 17 netos e, por conseguinte, 18 bisnetos e 2 tataranetos. Dona Lourdes tem um estilo singular de comportamento que lhe confere a distinção de uma verdadeira dama.

“Meus pais eram primos irmãos. Tiveram sorte por terem sete filhos saudáveis (José, João, Antônio, Maria Luíza, Isabela e Paulo), eu sou a caçula. Minha mãe ficou noiva desde o dia em que nasceu, já estava prometida para o filho do meu tio avô. Papai era filho e neto de fazendeiros, plantava café. Mamãe, dona de casa, mas nunca precisou trabalhar. Meu pai morreu de desgosto depois que um incêndio acabou com a lavoura. Eu tinha 4 meses e meu irmão mais velho, José, 17.
Minha mãe se mudou com os filhos para São Paulo. Ficamos hospedados na casa de uma tia até a gente se ajeitar. Meus três irmãos mais velhos arrumaram emprego numa fábrica de ladrilhos. Com o tempo, José tornou-se dono dessa fábrica. Aos 6 anos, eu adorava observar como eram feitos os desenhos nas cerâmicas. Era muito lindo.
Em 1929, meu irmão vendeu a fábrica e nos mudamos para Lins, de volta ao interior paulista. Meus irmãos arranjaram trabalho em uma fazenda cafeeira. Comecei a cursar o grupo. Era uma boa aluna, gostava de estudar. Tinha preferência pelas aulas de artes. Eu me aplicava nos estudos para ser a 1ª da turma, assim era escolhida como oradora oficial da classe e tinha destaque nas peças de teatro baseadas nas obras de Monteiro Lobato. Os livros dele eram minha paixão.
Não tinha 12 anos quando terminei o primário e fui trabalhar no escritório da Cruzeiro e Irmãos. Aprendi a fazer toda a parte de escrituração comercial. Na frente do prédio havia uma grande livraria e, nos fundos, uma tipografia. O escritório ficava entre os dois. Sou chamada de dona Lourdes desde esta época. Entregava meu salário à mamãe, que devolvia para mim apenas uma pequena parte para minhas necessidades pessoais.
Vi meu futuro marido pela primeira vez, Augusto Tavares Ribeiro, na livraria, onde também vendiam discos e onde ele costumava ouvir música com os colegas do Banco do Brasil. Um dia, estava com minha irmã Bela numa quermesse e ele se aproximou. Achei que ele gostasse de uma amiga da Bela, por ele ser sete anos mais velho que eu. Fora do ambiente de trabalho ainda me comportava como uma moleca. Fiquei muito espantada quando ele manifestou o desejo de conversar comigo. Ele me perguntou, ‘O que você acha que eu vou fazer na livraria todo dia?’. Daí, passamos a nos encontrar até virar namoro. Minha família não aprovava, talvez por eu ser muito nova. Após 8 meses, Augusto soube que seria transferido de cidade e pediu minha mão em casamento. Eu tinha 15 anos quando nos casamos.
Fomos morar em Catanduva, onde ficamos por pouco tempo e, novamente, nos mudamos. Desta vez, para Foz do Iguaçu, onde vivemos quase cinco anos. Tínhamos uma filha de poucos meses, Ana Carmem, quando engravidei do nosso 2º filho, Augusto (Filho). Ele nasceu em São Paulo, pois tive complicações no primeiro parto e não havia hospital em Foz. Quando fiquei grávida pela 3ª vez, minhas cunhadas estavam de visita na nossa casa e meu marido achou conveniente que eu viajasse com elas até Belém do Pará, onde moravam. Lá nasceu Paulo Sérgio, nosso 3º filho.
De volta à Foz, soube que nos mudaríamos para Governador Valadares. Também moramos lá por aproximadamente cinco anos. Eu incentivava meu marido a fazer carreira no banco e isso implicava que ele aceitasse essas transferências. Em Foz, aos 26 anos, ele foi nomeado gerente.


Tenho orgulho de ser guaxupeana
Por volta de 1952 nos mudamos para Guaxupé, onde completamos cinco filhos. Primeiro nasceu Zezinho (José Neto), depois a caçula, Vera. De início, já fizemos muitas amizades. Seo Jamil Nasser e a esposa dele, Floripes, foram como irmãos para nós. Meu marido e eu viajávamos muito. Seo Jamil e dona Floripes fizeram conosco um cruzeiro pela costa do nordeste até o Amazonas, no Princesa Isabel.
Nossa casa estava sempre cheia de gente. Tínhamos uma vida social muito boa. Os bailes do Clube Guaxupé eram luxuosos e animados por orquestras maravilhosas. A Festa das Orquídeas durava três dias. A gente recebia os visitantes em nossas casas, principalmente os aviadores da Esquadrilha da Fumaça.
Nessa época, minha mãe e tia Neném (Maria Cândida), que era viúva, moravam conosco. Ambas eram idosas e não ajudavam no serviço de casa, as pessoas envelheciam muito cedo. Morávamos no andar superior do prédio do Banco do Brasil, onde hoje é a Prefeitura. O chão era de tábua, que eu deixava brilhando como se fosse sinteco. A casa era imensa e as duas empregadas não davam conta. Dona Floripes ria de mim, dizia que eu era a escrava Isaura. E vivia feliz, sempre cantando e muito alinhada, eu era uma dama.
Depois de 18 anos, meu marido foi nomeado inspetor do banco e nos mudamos para uma casa menor, na Rua Tenente Querubim. Alugamos uma casa para minha mãe e minha tia morarem, mas continuei cuidando delas. Nossos netos, Tiãozinho e Ana Marta, passaram a morar conosco depois que os pais deles se separaram e a mãe, Ana Carmem, foi morar em São Paulo. Depois nos mudamos para uma casa maior, na Rua Geraldo Vômero.


Eu gosto muito da vida
Em 1965, Augusto e eu fundamos o Rotary Club junto com outros 26 casais. Desses fundadores, ainda estão na ativa Maria Luíza Perocco Ribeiro, o casal Maria do Carmo e Gilberto Pasqua, e eu. Cheguei a chorar quando a antiga sede do clube foi derrubada para dar lugar ao prédio atual.
Nesses 45 anos realizamos muitas obras de cunho social: apoio a APAE, à construção do Centro de Hemodiálise, do Horto Florestal, entre inúmeras campanhas de solidariedade. Tenho muito orgulho desse nosso trabalho. Em Guaxupé, sou a única mulher agraciada com a comenda Companheiro Paul Harris, do Rotary International, por meu marido e eu termos sido os primeiros presidentes da instituição.
Em 81, Augusto faleceu. Mudei-me para São Paulo com minha neta Martinha, onde ficamos por quatro anos. Eu gostava muito de lá, frequentava teatros e cinemas. Mas, um dia, minha neta foi assaltada e quis voltar. Logo, ela também se casou. Fiquei na casa do Paulo Sérgio, que nesta época morava em Guaxupé, até terminar a construção da casa onde vivo hoje em dia. Desenhei cada detalhe desta casa e escolhi cada ladrilho.
Em 2003, tive a alegria de receber o título de Cidadã Guaxupeana, pela Câmara Municipal. Em 2005, no Rotary, aconteceu o lançamento do meu livro Antes que eu me Esqueça. Foi uma festa muito bonita, prestigiada por muitos amigos. Atualmente, viajo sempre que posso e se a saúde permite, só para sentir saudade de Guaxupé e desse povo que quero tanto bem.”

Dona Lourdes sempre foi viciada em leituras, como ela mesma confessa, tem loucura por tudo que seja impresso. Diariamente, passa horas lendo a Folha de São Paulo. À vida toda, nas horas vagas, gostava de escrever poesias e discursos. Escreveu contos e artigos para jornais e revistas. Participou de muitos concursos literários, chegando a vencer dois ou três. Na sua trajetória, venceu, também, muitos desgostos, como a morte do neto Tiãozinho e do filho José, e algumas doenças graves. O segredo de tanta vivacidade talvez seja seu amor pela vida.

Fotos:
1. Lourdes e Augusto com os filhos Augustinho, Ana Carmem e Paulo Sérgio, em meados da década de 40.
2. O casal Floripes e Jamil Nasser, Augusto e Lourdes acompanhados da pequena Vera, durante uma escala do navio Princesa Isabel, em Pernambuco.
3. Lourdes e os filhos Augusto e Vera durante um cruzeiro a Argentina.
4. Em abril de 99, Lourdes recebeu a medalha de Honra ao Mérito do governador do Rotary International.
5. Lourdes sentada ao lado de dona Fina Pedrosa, com algumas companheiras da Casa da Amizade.

Comentários

Lorêny Portugal disse…
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