falo

Ontem um amigo me disse que a câmera fotográfica é meu falo. Na hora, não dei bola (ou bolas, rs), mas acordei pensativa. Por que a câmera seria meu falo ou por que eu precisaria de um falo? Ter falo não valoriza ninguém. O que você faz com ele, talvez sim. Muitos homens (partindo do pressuposto que todos têm um) não sabem como dar prazer a uma mulher, por exemplo. Em contrapartida, muitas mulheres têm prazer sem o falo, com homens ou mulheres. Existem tantos argumentos que derrubam essa arrogância machista de alguns homens que insistem em transformar seus falos em ícones de virilidade e promessa de felicidade que nem posso enumerá-los aqui, pra não ser prolixa. Falo não é sinônimo de prazer: eu sinto e proporciono prazer sem o falo. O clitóris da mulher é muito eficiente, embora, também, como o falo seja preciso saber usá-lo. E isso vale para relacionamentos heteros, homos, pans... E até sozinha. A diferença é que o falo tem a capacidade de disseminar espermatozóides que, em contato com os óvulos, muitas vezes geram novos humanos.

Por que as pessoas sentem necessidade de rotular tudo, incluindo a si mesmas? Pelo simples fato de que estereótipos e a padrozização de comportamentos oferecem segurança. Eu tenho medo daquilo (ou daquele) que eu não entendo ou que é diferente de mim. Mas a verdade, meu amigo, é que somos todos diferentes, por mais disfarces que usemos para esconder isso. A sociedade exige que sejamos iguais para sermos aceitos. Agora, o que ou quem é essa sociedade e para que serve? Para nos oprimir, para nos taxar, julgar, colocar em prateleiras para nos usar na hora e conforme o interesse de quem está no poder. E os poderes são ilusórios. Hoje em dia já é comprovado que os indivíduos (in-di-ví-du-os) vão muito além do rótulo de heterossexual, homossexual, bissexual, etc. O fato da pessoa não ter uma vida sexual ativa não significa que seja assexuada ou que transe escondido com pessoas do mesmo sexo ou que esteja no armário, e por aí afora. Cada um pode ser o que quiser, até heterossexual maluco e mutante, romântico, inseguro e reprimido ao mesmo tempo. O que você faz define quem você é ou o que você não faz define quem você é?

Ao comparar minha câmera com um pênis, talvez meu amigo apenas quisesse dizer que tenho prazer em fotografar. Se ele fosse do sexo feminino, talvez a comparasse com o clitóris. E ele tem razão, fotografar me dá prazer, mas não tenho orgasmos. A verdade é que o falo (mas não qualquer um) tem poder, embora envolva outras habilidades. Olha só onde cheguei com um simples comentário...

Fotos da oficina sobre Cultura Popular ministrada por Rodolfo Ludovico para os alunos de teatro do Instituto 14 Bis, no teatro municipal:









eu falo

"Toda racionalização é uma tentativa de tornar os nossos afetos aceitáveis para nós e para os outros."

Esse papo sobre hipocrisia dá margens a outro tema recorrente na vida guaxupeana. Nesta cidade, o coronelismo foi substituído por outras formas de repressão. Infelizmente, é nossa herança genética (segundo reportagem na revista Página 22 - nº 41- A Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neutmann, diz que as pessoas têm tendência a acompanhar a opinião dominante). Para compreender o que falo, basta observar com cuidado as atitudes das pessoas, não somente daquelas que carregam características genéticas. A maioria pensa e age da mesma maneira em diferentes tribos. Segregam e discriminam veladamente, furtivamente, à moda dos coronéis. E esse comportamento tem consequências desagregadoras. A maioria cria desafetos por pouca coisa e tem dificuldade de perdoar; não torce pelo sucesso do outro, a não ser que esse sucesso reflita positivamente a si mesmo; não consegue enxergar o todo, não vê que as iniciativas individuais e de outros grupos interferem na unidade maior; caluniam pelas costas e, quando encarados, fingem simpatia. É mais ou menos assim: se você não está comigo, está contra mim. Esse pensamento e atitude é retrógrado e antiquado. Ações modernas e positivas devem ser sustentáveis. "A sustentabilidade é uma forma de vida que permite a melhor transformação possível do mundo, uma forma boa de viver e conviver", disse Clóvis de Barros Filho, professor de Ética, da ECA-USP, em entrevista à Pagina 22 (41) - autor, também, das frases em destaque. Somos seres em construção permanente. Portanto, quem não tem, precisa adquirir humildade já, se não quiser ser nota distoante. E humildade não é uma palavra usual do dicionário coronelista.

"Uma conduta é boa pelo efeito que produz. Isso se alinha com a sustentabilidade."

Essa conversa me fez lembrar das festas em que eu ia, em São Paulo. Eu não conhecia o dono da casa ou o promotor do evento. Não sabia seu sobrenome, profissão ou se gostava dos animais. Eu e alguns amigos nos divertíamos junto com outros grupos de amigos. Aliás, o objetivo era diversão. E paquera, claro. Se em São Paulo houvesse uma Casa da Vó Maria como temos aqui, no momento, seria sucesso na certa. A proposta é, como na cidade grande, extrapolar os limites. Não importa quem seja ou foi a vó Maria. Se eu sou ou não simpática para você. O importante é que a casa esteja aberta àqueles que vêm em paz: para se divertir, paquerar e, principalmente, fazer arte.



Imagens de ontem à noite, na Casa da Vó Maria, onde rolou um samba & espetin bastante aconchegante.

Na próxima post, o prefeito Roberto Luciano é o personagem de Minha História, publicada, também, no jornal Correio Sudoeste de 04.06.10.

Comentários

Lorêny Portugal disse…
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bisteca disse…
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