humanize
Sou fã da programação do Futura, porque o conhecimento é irresistível e este canal oferece diversas oportunidades para saber mais. Recentemente, conheci a campanha Humanize, no ar desde dezembro de 2011. Sempre digo que não basta nascer homem ou mulher, é preciso adotar atitudes que nos diferenciem, realmente, dos outros animais. Por exemplo, ser solidário com um desconhecido, oferecer um prato de comida a quem tem fome, ouvir os desabafos de um amigo, respeitar os idosos, as diferenças, a natureza e todos os seres vivos, ser gentil e generoso no trânsito, etc. A proposta desta campanha é incentivar a Cultura da Paz através da adoção de novos valores e atitudes. Não é tarefa simples humanizar-se, mas a tentativa já é supergratificante.
Poderia haver uma indústria para reciclagem de pessoas. Tipo assim, um sem-educação entra, sai um educado e gentil; o egoísta dá lugar ao solidário; o mal-amado sai esbanjando amor. Mas nada tão radical. Haveria um tempo adequado dentro do Transformador de Atitudes para cada resultado que se quer alcançar, para não exagerar demais em determinadas características e acabar com as incoerências humanas. Afinal, é através das escolhas e diferenças que traçamos nossos destinos, e ninguém é Deus para intervir no livre-arbítrio. Tem um filme, com Bill Murray e Andie MacDowell, bem legal, chamado Feitiço do Tempo. Na ficção, um jornalista antipático tem a oportunidade de se transformar numa pessoa melhor ao acordar sempre no mesmo dia. Desta forma, ele revê suas atitudes e passa a relacionar-se bem com os outros. Como prêmio, conquista um amor.
Por falar em relacionamentos humanos, o entrevistado da Minha História, desta semana, Gilberto Gallate, aposentado, pai de família e bisavô, acredita na formação de jovens por intermédio da doutrina cristã. Como diz Caetano Veloso, doce bárbaro Jesus, este grande revolucionário da história da humanidade. O que diria Ele, hoje, das atitudes humanas? Será que ainda daria a outra face ou lavaria as mãos, observando, distante, as mazelas de muitos que se dizem cristãos? Melhor seria se descesse à Terra como um sábio cientista e colocasse mãos à obra, criando um Transformador de Atitudes, como no filme (seria interessante a vida imitar a arte).
Cristo Redentor no Morro Agudo
Gilberto Gallate nasceu em Guaxupé, em 14.01.38, terceiro filho de Domingos Gallate e Guilhermina Passos Gallate. Antes dele, nasceram Gélcio e Nelson, depois, Gilda e Domingos Filho. Todos pelas mãos da parteira Brandina, que morava perto do antigo campo de aviação. Homem idealista, não frenquenta igrejas, mas há 41 anos trabalha voluntariamente com a orientação de jovens na doutrina cristã. O grande sonho de Gilberto para a cidade é ter uma escultura do Cristo Redentor no topo do Morro Agudo: “Imagine que beleza esta imagem à noite, toda iluminada.”
“Sei onde Brandina morava porque fui correndo buscá-la quando minha irmã estava pra nascer. Papai era pedreiro, construiu o Palácio do Bispo e a Academia de Comércio São José, entre outras obras. Naquele tempo, este serviço não tinha grande valor. O ganho dele era pequeno para sustentar toda a família. Mamãe ficava em casa, cuidando dos filhos. Cada um nasceu no intervalo de um ano. Éramos muito unidos.
Não sei por que, mas entrei no Grupo Barão com seis anos. Minha primeira professora, dona Teresinha Fávero Damitto era muito boa pra mim (por coincidência, meu filho Júnior foi aluno dela no último ano que ela lecionou).
A escola desfilava no Sete de Setembro. Os alunos comportados ganhavam uma fita verde e amarela para desfilar. Eu não era comportado. Me mandaram ficar na fila para desfilar, mas não queria ir sem a fita, comecei a chorar. Dona Teresinha viu e me deu uma fita verde e amarela mais grossa, destinada aos alunos que separavam os pelotões. Desfilei todo metido. Mamãe era a primeira a bater palmas quando os filhos passavam.
Dona Ivone Lepiane, professora do 2º ano, era também responsável pelo teatro da escola. Ela me emprestou a farda do seu irmão, que estudava no ginásio, para eu encenar o guarda da rainha que levou Branca de Neve à floresta. No 3º ano, tive aulas com dona Clarice Araújo e dona Lila Lepiane. No 4º, com dona Luizinha Calicchio.
Tirei diploma do primário e, em janeiro de 1948, comecei a trabalhar na Cia. Geral de Eletricidade. Fazia serviços gerais, como café e limpeza do escritório.
Na minha adolescência, tinha o campinho de futebol da escola profissional, que estava sendo construída pelo seo José Gonela, onde hoje é o Parque Infantil. Seo João Maria Domingues apoiava muito nosso time, ficava no alpendre da casa dele nos incentivando a jogar. Dunga (Zé de Sá) era secretário da Prefeitura e mantinha o campo de futebol sempre em ordem.
Eu era do time do Roberto Neto (goleiro), dos irmãos Wilson (Kutiúla) e Roberto Affini, Mauro e Orlando Sandroni. Vinha time de fora jogar com a gente. Nossa torcida era grande, as pessoas ficavam em volta do campinho, muitos sentados no muro.
Estudo e trabalho
Só retomei os estudos aos treze anos, à noite, na Academia de Comércio São José. Havia mil alunos, na hora do recreio a gente tinha que sair da escola, pois não cabia todo mundo lá dentro. O diretor, seo Gonela morava na escola. Até o quarto dele era sala de aula e secretaria, com uma divisória no meio.
Era uma delícia, todo mundo amigo. Saíam muitos namoricos e, às vezes, encrencas por causa deles. Muito difícil achar, hoje em dia, professores tão bons quanto os que a gente tinha. Dr. Artur Leão, um senhor professor, dava aulas de Práticas Jurídicas sem ganhar nada. Seo Vinícius Eclissato professor de Contabilidade e, também, secretário da escola, adorava festas.
Um mês antes das formaturas, ele alugava o salão da Associação Comercial, contratava a orquestra do Dondico, Alvarenga, Hugo e Nenê Passarini para ensinar os formandos a dançarem valsa. Ele ficava no meio do salão e a gente circulava em volta dançando.
Minha madrinha de formatura, com quem dancei a valsa, foi Rosinha Mussarra. A mulherada ficava doida pra ser madrinha, porque era um evento social importante na cidade. Todo mundo queria ser convidado para o baile que acontecia no Clube Guaxupé.
Para baratear as despesas dos formandos, seo Vinícius pediu ajuda ao Mário Bacci, também professor, e cunhado do Coronel Assunção, chefe da Polícia Militar de Minas. Conseguiu de graça, para nós, a presença da Orquestra da PM, que veio num ônibus lotado, de BH. Os músicos, todos uniformizados, deram um show.
Nesse ínterim, fui crescendo dentro da Cia. de Eletricidade. Passei a auxiliar de escritório, depois, caixa. Todo mês, do dia 1º ao dia 10, formava uma fila enorme, fervia de gente para pagar a conta na data certa, sem multa. Cheguei a substituir os gerentes, algumas vezes, nas cidades vizinhas. Trabalharam comigo Nicolino Sabbag, Zé Ricciardi, Romilda Mussara, Helena Abrão, Sebastião Carvalho e Paulo Scardozi, o gerente.
Havia um padre, Gerardo Reis, reitor do Seminário, que depois foi ordenado Bispo. Ele era amigo da mulher do Sebastião Paes de Almeida, presidente do Banco do Brasil, que na época também tinha uma fábrica de vidro, a única do Brasil. A esposa dele, dona Dilva, doou os vidros decorados da capela do Seminário, atual UNIFEG.
Por intermédio do meu irmão, Gélcio, que construiu o prédio do Seminário, fiz amizade com padre Gerardo. Em 1960, ele intercedeu por mim junto à dona Dilva, me indicando para um cargo no Banco do Brasil. Fui chamado na agência de Guaxupé, onde fiz uma prova de Português e Matemática e passei. Quem aplicou essa prova foi Farid Chueiri. Fiquei vinte anos no Banco, até me aposentar, aos 42 anos de idade.
Casamento e paternidade
Nos meus vinte e poucos anos, a vida social em Guaxupé consistia nos bailes dançantes da Associação Atlética e do Clube Guaxupé. E nas voltas no jardim de baixo e de cima, que ficavam mais movimentados após a sessão do Cine São Carlos, por volta das 21h.
Uma noite, vi Samira Jorge passeando com as amigas. Ela passou por mim no jardim de cima e sumiu. Fui com meu amigo, Economia (Renatinho Mota), procurar por ela no jardim de baixo, onde nos encontramos. Ele entregou a ela um bilhete meu convidando para o cinema na noite seguinte. Ela mandou o bilhete de volta com resposta afirmativa.
Começamos a namorar naquele dia e, em 1963, dois anos depois, nos casamos. Nosso primogênito, Rogério, nasceu um outubro de 64. Júnior, em 66; Adriane, em 68, e a caçula, Cristiane, em 1974.
Trabalhei dezessete anos na agência de Guaxupé e, nos outros três, em Campinas, Mogi Guaçu, Mococa e Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso do Sul. Nesta cidade não havia luz, água encanada, telefone e esgoto. O banco, recém-inaugurado, tinha motor tocado a óleo diesel.
O hotel onde eu ficava tinha energia a gás somente até as 21h, depois, luz de velas. As camas tinham mosquiteiros para nos proteger de tarântulas, que volta e meia visitavam o quarto que eu dividia com um colega. À noite, não havia nada para fazer, ficávamos conversando, um colega do banco tocava violão e conquistava os clientes. Fiquei quatro meses sem ver minha família, numa terra de índios.
O cemitério ficava na rua do hotel. Quando morria alguém na cidade, os próprios familiares precisavam fazer o caixão e a cova. Ficava tudo torto, pois cada um cavava onde era mais fácil. Todo dia chovia, às vezes, atrasando os enterros. Se fosse noite, colocavam velas em volta do cemitério para iluminar o solo.
Vagalumes, Amadores, Bicancas e Ala Jovem
Sempre gostei de carnaval. Por volta dos dezoito anos, ajudei a fundar o bloco de rua Vagalumes do Luar, formado pela turma da vizinhança da casa dos meus pais, como Efigênia Ventura e Cida Barbeta. A gente saía com uma bateria cantando sambas antigos. Naquela época, havia o bloco do Pio Damião, Os Bicancas, Amadores do Ritmo e o Malabaristas do Samba.
O Rui Peloso tinha um bar onde a turma se reunia para fazer aperitivos, jogar snooker e bocha. Aos sábados, a esposa dele fazia umas comidas saborosas para nós. Eu tomava só refrigerante, nunca ingeri bebida alcoólica. Lá tivemos a ideia de botar novamente na rua o Amadores do Ritmo, que estava inativo. Todos os integrantes do bloco eram homens.
Um ano, seo Menelau Russo inventou de fazer um concurso para premiar o melhor bloco. Os amadores venceram, ganhando uma taça. Deu até briga. Após o desfile, subimos a Pereira do Nascimento tocando e cantando. Na frente do antigo bar do seo Estevinho, alguns bicancas começaram a discutir com a gente, um deles chegou a jogar nossa taça no chão.
Quando o Amadores parou, saí alguns anos com Os Bicancas, entre 72 e 75, incentivado por minha mulher e por meu cunhado, Jamilinho, também bicanca. Mesmo com a rivalidade natural entre um bloco e outro, era todo mundo amigo.
Desde 1970, eu era palestrista do TLC – Treinamento de Liderança Cristã. Em 1976, junto com Rui Peloso e uma turma de jovens do TLC, fundamos uma escola de samba. Teve eleição no Grupo Queridinha para a escolha do nome. Sugeri Ala Jovem, que foi aprovado. Eu tocava surdo na bateria. Alguns anos depois, parei de mexer com carnaval.
Macaco e voluntário convicto
Em 1968, fundamos o Clube dos Macacos, com 17 integrantes, número do Macaco no jogo do bicho. Em 70, assumi a presidência e construímos a sede do Clube, do qual, atualmente, sou secretário. Dia 17 de abril vamos inaugurar o barracão novo e o pavilhão de bocha. Antes, eu só assistia aos jogos, agora, vou começar a jogar, pois o campo novo é acarpetado e com sinteco.
Em 1984, fundamos o Grupo Ação Social – GAS, ecumênico, com o objetivo de orientação cristã de jovens. Cada curso acontece durante três dias, em sede própria, na chácara Bom Jardim. Futuramente, nossa diretoria pretende fazer uma casa de repouso para reabilitação de jovens dependentes químicos. Por enquanto, pleiteamos infraestrutura básica para o bairro, onde moram trinta famílias à base de fossa e minas d’água.
Meu dia a dia é tranquilo, depois do almoço, freqüento o ‘banco dos aposentados’, em frente ao Clube Guaxupé, onde falamos dos acontecimentos da cidade. Meus companheiros são Edvaldo Bonfim, Zé Veio, Luiz do Tonin, Ivan do BB e Tonho Simone. Cada dia é um que paga o sorvete.”
Gilberto lê jornal impresso e estuda o Evangelho, diariamente. É apaixonado por telejornais, acaba um, passa pra outro. Ele e a esposa dormem logo depois das 20h e despertam com as galinhas, às 5h. Eles têm oito netos, um bisneto e outro a caminho.
Fotos:
1) Formando da Academia São José, em 04.01.58, fotografado por Domingos Pasqua.
2) Após o casamento, em dezembro de 1963, o casal Gilberto e Samira com familiares e amigos.
3) Gilberto, os filhos e o cunhado, Jamilinho, no desfile de 25 anos dos bicancas.
3) Gilberto, à direita, com uma das turmas do GAS, na sede atual.
4) Recentemente, com a esposa e os filhos Gilberto, Cristiane, Rogério e Adriane.
Poderia haver uma indústria para reciclagem de pessoas. Tipo assim, um sem-educação entra, sai um educado e gentil; o egoísta dá lugar ao solidário; o mal-amado sai esbanjando amor. Mas nada tão radical. Haveria um tempo adequado dentro do Transformador de Atitudes para cada resultado que se quer alcançar, para não exagerar demais em determinadas características e acabar com as incoerências humanas. Afinal, é através das escolhas e diferenças que traçamos nossos destinos, e ninguém é Deus para intervir no livre-arbítrio. Tem um filme, com Bill Murray e Andie MacDowell, bem legal, chamado Feitiço do Tempo. Na ficção, um jornalista antipático tem a oportunidade de se transformar numa pessoa melhor ao acordar sempre no mesmo dia. Desta forma, ele revê suas atitudes e passa a relacionar-se bem com os outros. Como prêmio, conquista um amor.
Por falar em relacionamentos humanos, o entrevistado da Minha História, desta semana, Gilberto Gallate, aposentado, pai de família e bisavô, acredita na formação de jovens por intermédio da doutrina cristã. Como diz Caetano Veloso, doce bárbaro Jesus, este grande revolucionário da história da humanidade. O que diria Ele, hoje, das atitudes humanas? Será que ainda daria a outra face ou lavaria as mãos, observando, distante, as mazelas de muitos que se dizem cristãos? Melhor seria se descesse à Terra como um sábio cientista e colocasse mãos à obra, criando um Transformador de Atitudes, como no filme (seria interessante a vida imitar a arte).
Cristo Redentor no Morro Agudo
Gilberto Gallate nasceu em Guaxupé, em 14.01.38, terceiro filho de Domingos Gallate e Guilhermina Passos Gallate. Antes dele, nasceram Gélcio e Nelson, depois, Gilda e Domingos Filho. Todos pelas mãos da parteira Brandina, que morava perto do antigo campo de aviação. Homem idealista, não frenquenta igrejas, mas há 41 anos trabalha voluntariamente com a orientação de jovens na doutrina cristã. O grande sonho de Gilberto para a cidade é ter uma escultura do Cristo Redentor no topo do Morro Agudo: “Imagine que beleza esta imagem à noite, toda iluminada.”
“Sei onde Brandina morava porque fui correndo buscá-la quando minha irmã estava pra nascer. Papai era pedreiro, construiu o Palácio do Bispo e a Academia de Comércio São José, entre outras obras. Naquele tempo, este serviço não tinha grande valor. O ganho dele era pequeno para sustentar toda a família. Mamãe ficava em casa, cuidando dos filhos. Cada um nasceu no intervalo de um ano. Éramos muito unidos.
Não sei por que, mas entrei no Grupo Barão com seis anos. Minha primeira professora, dona Teresinha Fávero Damitto era muito boa pra mim (por coincidência, meu filho Júnior foi aluno dela no último ano que ela lecionou).
A escola desfilava no Sete de Setembro. Os alunos comportados ganhavam uma fita verde e amarela para desfilar. Eu não era comportado. Me mandaram ficar na fila para desfilar, mas não queria ir sem a fita, comecei a chorar. Dona Teresinha viu e me deu uma fita verde e amarela mais grossa, destinada aos alunos que separavam os pelotões. Desfilei todo metido. Mamãe era a primeira a bater palmas quando os filhos passavam.
Dona Ivone Lepiane, professora do 2º ano, era também responsável pelo teatro da escola. Ela me emprestou a farda do seu irmão, que estudava no ginásio, para eu encenar o guarda da rainha que levou Branca de Neve à floresta. No 3º ano, tive aulas com dona Clarice Araújo e dona Lila Lepiane. No 4º, com dona Luizinha Calicchio.
Tirei diploma do primário e, em janeiro de 1948, comecei a trabalhar na Cia. Geral de Eletricidade. Fazia serviços gerais, como café e limpeza do escritório.
Na minha adolescência, tinha o campinho de futebol da escola profissional, que estava sendo construída pelo seo José Gonela, onde hoje é o Parque Infantil. Seo João Maria Domingues apoiava muito nosso time, ficava no alpendre da casa dele nos incentivando a jogar. Dunga (Zé de Sá) era secretário da Prefeitura e mantinha o campo de futebol sempre em ordem.
Eu era do time do Roberto Neto (goleiro), dos irmãos Wilson (Kutiúla) e Roberto Affini, Mauro e Orlando Sandroni. Vinha time de fora jogar com a gente. Nossa torcida era grande, as pessoas ficavam em volta do campinho, muitos sentados no muro.
Estudo e trabalho
Só retomei os estudos aos treze anos, à noite, na Academia de Comércio São José. Havia mil alunos, na hora do recreio a gente tinha que sair da escola, pois não cabia todo mundo lá dentro. O diretor, seo Gonela morava na escola. Até o quarto dele era sala de aula e secretaria, com uma divisória no meio.
Era uma delícia, todo mundo amigo. Saíam muitos namoricos e, às vezes, encrencas por causa deles. Muito difícil achar, hoje em dia, professores tão bons quanto os que a gente tinha. Dr. Artur Leão, um senhor professor, dava aulas de Práticas Jurídicas sem ganhar nada. Seo Vinícius Eclissato professor de Contabilidade e, também, secretário da escola, adorava festas.
Um mês antes das formaturas, ele alugava o salão da Associação Comercial, contratava a orquestra do Dondico, Alvarenga, Hugo e Nenê Passarini para ensinar os formandos a dançarem valsa. Ele ficava no meio do salão e a gente circulava em volta dançando.
Minha madrinha de formatura, com quem dancei a valsa, foi Rosinha Mussarra. A mulherada ficava doida pra ser madrinha, porque era um evento social importante na cidade. Todo mundo queria ser convidado para o baile que acontecia no Clube Guaxupé.
Para baratear as despesas dos formandos, seo Vinícius pediu ajuda ao Mário Bacci, também professor, e cunhado do Coronel Assunção, chefe da Polícia Militar de Minas. Conseguiu de graça, para nós, a presença da Orquestra da PM, que veio num ônibus lotado, de BH. Os músicos, todos uniformizados, deram um show.
Nesse ínterim, fui crescendo dentro da Cia. de Eletricidade. Passei a auxiliar de escritório, depois, caixa. Todo mês, do dia 1º ao dia 10, formava uma fila enorme, fervia de gente para pagar a conta na data certa, sem multa. Cheguei a substituir os gerentes, algumas vezes, nas cidades vizinhas. Trabalharam comigo Nicolino Sabbag, Zé Ricciardi, Romilda Mussara, Helena Abrão, Sebastião Carvalho e Paulo Scardozi, o gerente.
Havia um padre, Gerardo Reis, reitor do Seminário, que depois foi ordenado Bispo. Ele era amigo da mulher do Sebastião Paes de Almeida, presidente do Banco do Brasil, que na época também tinha uma fábrica de vidro, a única do Brasil. A esposa dele, dona Dilva, doou os vidros decorados da capela do Seminário, atual UNIFEG.
Por intermédio do meu irmão, Gélcio, que construiu o prédio do Seminário, fiz amizade com padre Gerardo. Em 1960, ele intercedeu por mim junto à dona Dilva, me indicando para um cargo no Banco do Brasil. Fui chamado na agência de Guaxupé, onde fiz uma prova de Português e Matemática e passei. Quem aplicou essa prova foi Farid Chueiri. Fiquei vinte anos no Banco, até me aposentar, aos 42 anos de idade.
Casamento e paternidade
Nos meus vinte e poucos anos, a vida social em Guaxupé consistia nos bailes dançantes da Associação Atlética e do Clube Guaxupé. E nas voltas no jardim de baixo e de cima, que ficavam mais movimentados após a sessão do Cine São Carlos, por volta das 21h.
Uma noite, vi Samira Jorge passeando com as amigas. Ela passou por mim no jardim de cima e sumiu. Fui com meu amigo, Economia (Renatinho Mota), procurar por ela no jardim de baixo, onde nos encontramos. Ele entregou a ela um bilhete meu convidando para o cinema na noite seguinte. Ela mandou o bilhete de volta com resposta afirmativa.
Começamos a namorar naquele dia e, em 1963, dois anos depois, nos casamos. Nosso primogênito, Rogério, nasceu um outubro de 64. Júnior, em 66; Adriane, em 68, e a caçula, Cristiane, em 1974.
Trabalhei dezessete anos na agência de Guaxupé e, nos outros três, em Campinas, Mogi Guaçu, Mococa e Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso do Sul. Nesta cidade não havia luz, água encanada, telefone e esgoto. O banco, recém-inaugurado, tinha motor tocado a óleo diesel.
O hotel onde eu ficava tinha energia a gás somente até as 21h, depois, luz de velas. As camas tinham mosquiteiros para nos proteger de tarântulas, que volta e meia visitavam o quarto que eu dividia com um colega. À noite, não havia nada para fazer, ficávamos conversando, um colega do banco tocava violão e conquistava os clientes. Fiquei quatro meses sem ver minha família, numa terra de índios.
O cemitério ficava na rua do hotel. Quando morria alguém na cidade, os próprios familiares precisavam fazer o caixão e a cova. Ficava tudo torto, pois cada um cavava onde era mais fácil. Todo dia chovia, às vezes, atrasando os enterros. Se fosse noite, colocavam velas em volta do cemitério para iluminar o solo.
Vagalumes, Amadores, Bicancas e Ala Jovem
Sempre gostei de carnaval. Por volta dos dezoito anos, ajudei a fundar o bloco de rua Vagalumes do Luar, formado pela turma da vizinhança da casa dos meus pais, como Efigênia Ventura e Cida Barbeta. A gente saía com uma bateria cantando sambas antigos. Naquela época, havia o bloco do Pio Damião, Os Bicancas, Amadores do Ritmo e o Malabaristas do Samba.
O Rui Peloso tinha um bar onde a turma se reunia para fazer aperitivos, jogar snooker e bocha. Aos sábados, a esposa dele fazia umas comidas saborosas para nós. Eu tomava só refrigerante, nunca ingeri bebida alcoólica. Lá tivemos a ideia de botar novamente na rua o Amadores do Ritmo, que estava inativo. Todos os integrantes do bloco eram homens.
Um ano, seo Menelau Russo inventou de fazer um concurso para premiar o melhor bloco. Os amadores venceram, ganhando uma taça. Deu até briga. Após o desfile, subimos a Pereira do Nascimento tocando e cantando. Na frente do antigo bar do seo Estevinho, alguns bicancas começaram a discutir com a gente, um deles chegou a jogar nossa taça no chão.
Quando o Amadores parou, saí alguns anos com Os Bicancas, entre 72 e 75, incentivado por minha mulher e por meu cunhado, Jamilinho, também bicanca. Mesmo com a rivalidade natural entre um bloco e outro, era todo mundo amigo.
Desde 1970, eu era palestrista do TLC – Treinamento de Liderança Cristã. Em 1976, junto com Rui Peloso e uma turma de jovens do TLC, fundamos uma escola de samba. Teve eleição no Grupo Queridinha para a escolha do nome. Sugeri Ala Jovem, que foi aprovado. Eu tocava surdo na bateria. Alguns anos depois, parei de mexer com carnaval.
Macaco e voluntário convicto
Em 1968, fundamos o Clube dos Macacos, com 17 integrantes, número do Macaco no jogo do bicho. Em 70, assumi a presidência e construímos a sede do Clube, do qual, atualmente, sou secretário. Dia 17 de abril vamos inaugurar o barracão novo e o pavilhão de bocha. Antes, eu só assistia aos jogos, agora, vou começar a jogar, pois o campo novo é acarpetado e com sinteco.
Em 1984, fundamos o Grupo Ação Social – GAS, ecumênico, com o objetivo de orientação cristã de jovens. Cada curso acontece durante três dias, em sede própria, na chácara Bom Jardim. Futuramente, nossa diretoria pretende fazer uma casa de repouso para reabilitação de jovens dependentes químicos. Por enquanto, pleiteamos infraestrutura básica para o bairro, onde moram trinta famílias à base de fossa e minas d’água.
Meu dia a dia é tranquilo, depois do almoço, freqüento o ‘banco dos aposentados’, em frente ao Clube Guaxupé, onde falamos dos acontecimentos da cidade. Meus companheiros são Edvaldo Bonfim, Zé Veio, Luiz do Tonin, Ivan do BB e Tonho Simone. Cada dia é um que paga o sorvete.”
Gilberto lê jornal impresso e estuda o Evangelho, diariamente. É apaixonado por telejornais, acaba um, passa pra outro. Ele e a esposa dormem logo depois das 20h e despertam com as galinhas, às 5h. Eles têm oito netos, um bisneto e outro a caminho.
Fotos:
1) Formando da Academia São José, em 04.01.58, fotografado por Domingos Pasqua.
2) Após o casamento, em dezembro de 1963, o casal Gilberto e Samira com familiares e amigos.
3) Gilberto, os filhos e o cunhado, Jamilinho, no desfile de 25 anos dos bicancas.
3) Gilberto, à direita, com uma das turmas do GAS, na sede atual.
4) Recentemente, com a esposa e os filhos Gilberto, Cristiane, Rogério e Adriane.
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