paralelepípedos

Há meses os jornais impressos e falados da cidade noticiaram uma possível transferência da Delegacia Regional de Polícia Civil para o prédio da antiga Cadeia Municipal. Rodrigo Sá, da Rádio Comunitária, chegou a entrevistar cerca de 10 pessoas na vizinhança, coletando opiniões. Segundo ele, a maioria se mostrou favorável à mudança que, no momento, parece inexorável. Fiquei espantada e consternada.

A Rua Luiz Costa Monteiro, onde está situado o prédio da antiga cadeia (um dos 14 - não estou certa deste número - patrimônios históricos tombados de Guaxupé) fica na região central, ao lado da Santa Casa de Misericórdia, do Pronto Socorro, da Hemodiálise, da Igreja Ortodoxa, da Igreja de Nossa Senhora Aparecida e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Um pacato cenário, típico de interior. Ao meu ver, esta região deveria ser batizada de Centro Histórico e todo seu conjunto, incluindo os paralelepípedos, tombados pelo Patrimônio Histórico Municipal. Nunca deveria abrigar uma Cadeia ou Delegacia de Polícia.

A transferência da Delegacia para o local vai gerar uma série de mudanças na região. A principal será o movimento de carros. Antevejo, num futuro próximo, os moradores seduzidos pela especulação imobiliária alugando seus imóveis para autoescolas e afins. Desculpem-me se pareço saudosista, tradicionalista, preconceituosa, pessimista, conservadora... Enfim, se o estilo de vida das dezenas das famílias que serão afetadas pouco importa, você está redondamente enganado. Fazemos parte de um contexto único e o que não recebe atenção, aqui, pode acontecer em qualquer lugar.

SALVEM NOSSOS PARALELEPÍPEDOS

Típicas das cidades do interior, as pedras das ruas mais antigas de Guaxupé, como Pereira do Nascimento, João Pessoa, Aparecida, Luiz Costa Monteiro, Dr. João Carlos, Francisco Vieira do Valle, entre outras, permitem a capilaridade do solo, impedindo que o excesso de água das chuvas inundem as regiões mais baixas. Nas grandes cidades, o concreto e o asfalto são os maiores vilões das enchentes. Nas cidades menores ainda é possível evitar esta situação, já que o crescimento também parece inevitável.

Sempre que é preciso mexer nas tubulações de água e esgoto, os paralelepípedos são retirados e repostos de qualquer modo. Esta falta de profissionalismo (de calceteiros) e responsabilidade para realização deste tipo de serviço, fez com que nossas ruas de pedra ficassem cheias de desníveis, causando desconforto aos motoristas e, em alguns casos, enfeiando a paisagem. Como é o caso da esquina da Rua José Maria com a Francisco Ribeiro do Valle, em que as pedras estão soltas, evidentemente, recolocadas sem nenhum capricho.

É preciso manter uma visão de futuro. Onde queremos chegar ou o que está escrito no Plano Diretor de Guaxupé? Será que as ruas de paralelepípedos foram incluídas? Peço, encarecidamente, ao Marcos David, historiador e secretário de Cultura, que reflita sobre esta questão. Estou escrevendo como jornalista e como cidadã que ama sua cidade. Acredito que a preservação de nossos patrimônios históricos seja a melhor forma de manter nossa cultura viva.



"Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar / ao lembrar que aqui passaram sambas imortais / que aqui sangraram pelos nossos pés / que aqui sambaram nossos ancestrais"
Chico Buarque


Em 2008, escrevi sobre "paralelepípedos" na postagem Palhaços de Preto, aqui

Comentários

Anônimo disse…
Parabéns Sheila,
a questão da permeabilidade do solo é importantíssima, além de que o paralelepípedo é eterno, tem baixo custo de manutenção e o asfalto tem manutenção permanente. Asfaltar a maioria das ruas é contribuir para excesso de água da chuva nas baixadas e o resultado já estamos assistindo há tempos.
Quando comprei meu terreno no Jardim Primavera, continuidade do Agenor de Lima, falei com o agronomo que estava no local na época, se eles não podiam colocar bloquetes em vez de asfalto no arruamento e ele até estranhou meu pedido dizendo que todo mundo prefere asfalto, principalmente por causa do carro. Infelizmente a cultura que predomina é esta. Cabe ao poder público saber e praticar o que é melhor ao meio ambiente e preservar uma maior parte de solo permeável na cidade é uma delas.
Continue firme,
um beijo
Ana Matos.
Anônimo disse…
Cara Sheila:
Espero que este movimento crie força e as ruas continuem cobertas de paralelepídos. As ruas revestidas de pedra são permeáveis, de baixíssima manutenção, eternas e bonitas. O asfalto é bom para inundações, dura pouco, aumenta de temperatura, e só é ótimo para os bolsos dos empresários do ramo e políticos desonestos, uma vez que sua manutenção é cara e permanente, além de feio! Nenhuma pessoa séria admitiria esta troca. Porque não asfaltam o que restou da Estrada Real ou a Via Ápia etc.?
Beijos e sucesso nesta importante preservação.
Flávio de Castro
Anônimo disse…
Sheila,

Acho totalmente procedente a questão que você coloca e concordo com a sua abordagem.

Penso que valeria a pena trazer mais elementos para o debate, pesquisando aspectos relativos ao baixo custo de manutenção deste tipo de calçamento, a economia de materiais derivados do petróleo (asfalto) e aprofundar o argumento relativo à importância da preservação da história e da memória de nossa cidade.

Beijo,

Luciano
Anônimo disse…
Oi, respeitáveis Ana, Flávio e Luciano.

Obrigada pela força.

Concordo que é preciso levantar mais dados pra fornecer subsídios para um tombamento histórico, por exemplo.
Acho que já temos elementos e pessoas pra fundar um movimento pela preservação das pedras de nossas ruas.

Quanto à transferência da Delegacia insisto, ainda, que o local não é nada adequado. Nem entendo como é que o delegado, juízes e autoridades estão concordando com esta mudança, nem sob quais argumentos.

Saudações renovadas e viva o debate positivo!

Sheila

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