arte e cultura geram felicidade
Durante missa de sétimo dia na Catedral de Guaxupé, fiquei refletindo
sobre fé e religiosidade. Se o ser humano é tão apegado a Deus e à vida na
Terra, não deveria obrigatoriamente respeitar e amar todas as criaturas? Infelizmente,
não é o que acontece. Então, se Deus fosse nos julgar diria que somos
hipócritas? Para uma resposta baseada em fatos, é válido observar a paisagem
nas estradas, as árvores queimadas, as granjas malcheirosas e superlotadas, os
animais domésticos ou domesticados abandonados à própria sorte e as demais
mazelas humanas que os telejornais não cansam de repetir. Se os menores da
FEBEM matam, se os filhos das classes média e alta também matam, se os
moradores das favelas matam, se os condomínios de luxo guardam
assassinos, será esse o fim do mundo? Aumentar o número de presídios, de
igrejas e templos religiosos seria a solução? Trabalhar com prevenção, tentando criar seres
mais felizes, talvez seja o melhor caminho...
E esse caminho humanista passa, necessariamente, pela
educação, arte, cultura e valorização dos patrimônios históricos e artísticos da
humanidade. Como é o caso do Complexo Mogiana, área tombada pelo Patrimônio
Histórico de Guaxupé. Um pouco esquecida, relegada a depósito de material
diversificado pela prefeitura, a antiga sede da Casa da Cultura foi palco de um
dos eventos do Festival Tramas & Dramas, no último sábado. O espetáculo
teatral Histórias d'Orum Aiê – direção e participação do competente ator Eucir de Souza - começou na escadaria da Praça Paulo Carneiro, passando pelos
paralelepípedos mais bem conservados da cidade até chegar à área ao ar livre da
Casa da Cultura – espaço anteriormente utilizado para realização de encontros
folclóricos, de corais e outros eventos geradores de felicidade. O público
seguiu a trupe de atores durante quase duas horas, pois as cenas se moviam a
diferentes pontos. Quem preferisse, poderia carregar as cadeiras da plateia ou
ficar de pé.
Os músicos de Osasco, que junto com a cantora Lurdes Lopes
formam a banda Mistura Brasil, ficaram bem impressionados com o local: “As
árvores e suas raízes, esse chão de terra batida, tornam o ambiente mágico”. Eles
recepcionaram o público ao som de Canto de Xangô, de Vinícius de Morais e Baden
Powel. Todo o espetáculo foi recheado com um emocionante repertório musical à
altura dos orixás. Pura magia.
“Meu medo é que esse espaço seja transformado em
estacionamento de carros”, ressalta um cidadão estimulado pela beleza do
cenário da peça. Incentivada por outros amigos, inicio aqui um MANIFESTO EM PROL DA REVITALIZAÇÃO DO LOCAL. Com ou sem terminal rodoviário urbano, que o Complexo
Mogiana e a cultura guaxupeense sejam respeitados e valorizados. Que esse
espaço ao ar livre seja preservado, bem como as árvores que ali estão. Mais ainda,
que seja destinado às atividades artístico-culturais (um arquiteto (a) competente
e responsável, com uma visão baseada nos princípios da sustentabilidade, certamente
poderá contribuir nessa empreitada).
Em tempo, Histórias d'Orum Aiê será reapresentado em data a ser
definida, conforme afirmou o ator Ernani Sastre. Fique atento (a) à divulgação.
Parabéns à equipe pela escolha do cenário, trilha sonora e proposta inovadora. Ainda,
a escadaria da antiga estação de trens, a rua de pedras e as árvores do canteiro central despertaram o interesse de alunos da Escola
Interativa durante aula de Artes. A foto de capa da revista institucional da
escola – Trilhos – deste ano foi inspirada na foto de um desses alunos. Só não
ficou idêntica porque as estações climáticas mudam e o sol gira numa boa. Para
um mundo que não para de mudar, como o slogan da Interativa.
Um amigo querido disse que eu tiro fotos com o coração :) Parafraseando o grandioso Gilberto Gil ao declamar trecho de um poema do não menor Maiakóvski, digo, "mas comigo a anatomia ficou louca, sou toda, toda coração" (rs). É com o coração que essas fotos devem ser vistas. A luz da lua crescente, quase cheia, da noite de ontem, não colaborou para facilitar as fotos em local aberto e pouco iluminado (embora a lua apenas precise "aprender a só ser"). Creio que cenas de teatro, com flash, perdem totalmente a poesia. Ou melhor, a magia, ainda mais sob o luar... Vejam!
Comentários
Mais uma vez, estamos juntos!
(a gente precisa ver o lua l!)