Boca a Boca indefectível



Antes de dormir, senti uma necessidade inadiável de fazer algumas considerações sobre este dia 11 de setembro:

- Ouvi de uma professora: hoje é dia 11, 6 anos da tragédia. Daí perguntei: mas que tragédia ou tragédia para quem? No jornal da Cultura relembraram os mais de 60.000 iraquianos mortos desde que os EUA declararam guerra ao Iraque e Afeganistão. E os milhões de migrantes que procuram abrigo (e paz) em terras estrangeiras? E as crianças subnutridas, os patrimônios da humanidade destruídos, etc. etc? Realmente, tudo depende do referencial. E, decididamente, minha ótica não é nada semelhante a dos americanos.

- Outra reflexão provocada pelo telejornal: a partir de 2012 a Embrapa (empresa brasileira de pesquisa agropecuária) colocará no mercado outro tipo de soja transgênica, a segunda do mercado nacional. Desde 2003 a Monsanto detém o monopólio de uma espécie do vegetal geneticamente modificado e altamente resistente a determinado herbicida. A empresa comemora a vitória da biotecnologia brasileira e o fim do monopólio daquela multinacional. Fico pensando em por que esperar até 2012? De acordo com um entrevistado 80% da soja comercializada no País é transgênica (no nordeste ainda é produzida a semente original). Infelizmente, a âncora do telejornal (até hoje ninguém substituiu a competência da jornalista Salete Lemos) não perguntou ao cientista quais os benefícios que essa variedade genética, tanto a importada quanto a nacional, oferece à saúde humana. Ou se toda essa pesquisa tem apenas objetivos comerciais.

Ilustração: Caetano Cury.

- Ontem, 10 de setembro, com Silvio Reis, jornalista, a diretora de Cultura, Ceres, e Marcos David, fotógrafo, iniciamos a produção do segundo livreto Boca a Boca, edição 2007. Além das frases bem-humoradas, a nova edição terá registros de causos e costumes da zona rural que circunda Guaxupé, especialmente registradas nos botequins e vendas rurais. Muitos atualmente correm o risco de extinção, pois o êxodo para as cidades é realidade constante. Muitos persistem, outros se transformam. Como o Rancho Franel, inaugurado 6 meses atrás. Prosa e comida mineira abundante e com qualidade. Mas o momento mais impressionante da nossa aventura de mais 7 horas foi antes do pôr-do-sol, quando paramos na casa do seu Geraldo Terra, benzedeiro. A humildade e gentileza do homenzinho franzino, de 86 anos, me impressionaram. Sentada junto com meus 3 companheiros de viagem na cama do velhinho, ao sermos benzidos, chorei. Não por mim, nem por ele, mas por nós. Quanta emoção buscamos em coisas e pessoas erradas. Há muita beleza e dignidade na simplicidade. Ai, quanta fragilidade existe em nós.


(fotos: Marcos David)

- Por isso dedico essa prosa de boteco a minha querida amiga Rose, que hoje vive com o Thomas, em Amsterdã. Algum tempo atrás, ela me aconselhou a criar um site para mim. Demorei a seguir sua sugestão. Mas nunca é tarde para realizar algo. Com certeza, é melhor chorar o erro do que a omissão. Um Boca a Boca quentinho:)

Por isso que eu gosto da humildade. E olha que sou adepto ao luxo.

Comentários

Anônimo disse…
Vcs tem o telefone do Rancho Franel?
Obrigada
Anônimo disse…
meu e-mail é janasalo@yahoo.com.br - se puderem mandar o telefone do Rancho Franel, agradeço!
bisteca disse…
O tel do Franel é (35) 3552-8113.

Saudações viralata,

SHeila

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