minha história e outros animais

Esta gatinha preta está a procura de um lar amigo. Ela tem cerca de 2 meses e poderá ser castrada a partir do 5º mês, sem qualquer custo para quem adotá-la.



Uma das vistas mais bonitas de Guaxupé, hoje à tarde.



Olha só o poeta Costa Senna, desta vez, com o pessoal do Ceará. Infelizmente, quando esteve no Viralata Mix, em maio, poucos guaxupeanos conferiram o talento deste artista versátil, que fez uma apresentação muito bacana na Casa da Vó Maria, com entrada franca. Em Fortaleza, os ingressos valem 20 reais...


MINHA HISTÓRIA
Maria Remédio, mais conhecida como tia Cida, foi a 1ª professora de Educação Física formada de Guaxupé.

Ela vê além das aparências

O nome de registro desta guaxupeana nascida em 17.04.25 é Maria Remédio, mas ela prefere ser chamada de Aparecida, nome de batismo escolhido pela mãe, que teve uma pequena divergência com o marido na escolha do nome da filha. O pai, italiano, Francisco Savério Remédio, migrou da França para o Brasil aos 12 anos. A mãe, brasileira, Concheta Mancini, é filha de italianos. Professora dedicada durante anos, Cida sempre recebeu em sua casa pessoas à procura de conselhos, por ser notória sua capacidade de enxergar além das aparências.

“Meu pai teve um filho, Alberto, do primeiro casamento. A esposa morreu no parto, junto com sua segunda filha. Daí, papai casou-se com a cunhada, Concheta. Sou a caçula dos cinco filhos desse segundo matrimônio: Antônio, Carmélia, Roque, Rosinha e eu. Todo mundo, amigos e parentes, me chamam de tia Cida. Prezo muito minhas amizades, conservo até hoje as amigas de infância.
Meu pai era conhecido como Chico “da venda”, que comercializava, principalmente, produtos estrangeiros, como vinho, queijo e macarrão. As crianças das redondezas, ao fazerem compras para as mães, pediam sempre um punhado de coco ralado e uma fatia de mortadela. Papai nunca negava.
O quintal da nossa casa, na rua Aparecida, dava passagem para a venda e para o armazém onde ficava o estoque de mercadorias, ambos na rua da cadeia. Uma história bastante contada entre meus familiares aconteceu por volta dos meus seis anos, durante a revolução de 30. Major Sertório Leão, que morava próximo à venda, pediu ao papai para deixar um grupo de soldados mineiros de tocaia no armazém. Foram dias de muita confusão. Depois deles vieram os soldados paulistas que também ficaram amoitados por lá. Mineiros e paulistas acabaram com tudo, até com um vagão de lenha, causando o maior prejuízo ao meu pai. Os soldados do Tiro de Guerra, que vigiavam a cadeia, com a chegada dos paulistas, fugiram vestidos de mulher. Pegaram as roupas emprestadas da irmã de uma das minhas cunhadas. Já pensou que fracasso? Toda vida ouvi contarem isso.
O que eu mais gostava, desde pequenininha, era de ser professora. Escrevia com carvão em caixotes de madeira, assim, alfabetizei duas meninas. Naquela época, os brinquedos eram muito simples. Uma vez, ganhei uma boneca de feltro de um viajante que vendia para papai. Ele simpatizou comigo porque eu era muito gordinha e falante. Minha irmã Rosinha me convenceu a dar um banho na boneca que nunca mais secou, ficou cheirando mofo. Foi a maior decepção.
Estudei até o 3º ano no grupo Delfim Moreira. Minha professora do 1º ano foi a Ivanira Melo. Durante uma visita do inspetor de ensino, ela ordenou que não pedíssemos para ir ao banheiro na presença dele. Todos fizeram o contrário, pedindo para ir à casinha, inclusive eu. Como castigo, precisamos dar um beijo e um abraço nela para poder sair da sala de aula.
Em 36, quando entrou em funcionamento o grupo Barão, transferiram alguns alunos do Delfim para lá. Eu estava nessa turma. Lembro-me da Luíza Zerbini, do José e do Jorge Borges, do Miguel Ricciardi, entre outros, e da nossa professora, Lula Silva, que era muito entusiasmada. Ela fez uma festa muito bonita na nossa formatura do 4º ano. Minha madrinha de diploma foi a Estela Vômero. Ela me deu uma coleção de livros de histórias. As lojas comerciais também ofereciam presentes aos formandos. Ganhei da Casa das Linhas uma meia ¾ de seda, uma novidade muito grande na época.
Em 37, passei a estudar no colégio das freiras, recebendo o diploma de professora em 1941. Nos tempos de normalista, o colégio fez uma quermesse para angariar dinheiro e reformar a capela. As alunas visitavam as casas pedindo prendas. Minhas colegas e eu ganhamos um abacaxi. Uma delas sugeriu que comêssemos a fruta, assim fizemos. Depois, nos arrependemos e fomos confessar. Como fui a última, o padre se cansou da história e levantou-se, dizendo: Mas que tamanho tinha esse abacaxi que todo mundo vem me falar que comeu? Caímos na risada.
Durante o 3º normal, algumas colegas não gostavam de dar aulas práticas. Como eu gostava muito, dava aulas no lugar delas escondido das freiras. Quando faltava alguma professora, eu também era chamada para ser a substituta.

Professora de Educação Física
Em 42, comecei a dar aulas particulares para os filhos do doutor Esmerino Ribeiro do Valle, na Fazenda Monte Alto. Durante a 2ª Guerra Mundial houve racionamento de combustível. Nos fins de semana, ia e voltava da fazenda a cavalo. Como passava a semana toda lá, pedi ao proprietário que conseguisse permissão para eu dar aulas para os colonos na escola municipal situada na fazenda e estava fechada.
Depois de cinco anos, me convidaram para substituir a Luizinha Calicchio, que estava de licença-maternidade, lecionando no Barão por dois anos. De volta à cidade, também comecei a dar aulas de Educação Física no colégio das freiras. Em Guaxupé, não havia ninguém formado nessa área.
Eu estudava aqui, sozinha; viajava todo mês a BH para fazer as provas teóricas, no Instituto de Educação Física de Minas Gerais, e as práticas, no Minas Tênis Clube. Havia duas companhias aéreas em Guaxupé, mas lembro-me de viajar pela Nacional. Em 51, recebi o diploma de professora de Educação Física, com nota 100.
Neste mesmo ano inaugurou o grupo Coronel Antônio Costa, onde passei a ser a 1ª professora de Guaxupé com formação para ministrar aulas de Educação Física. Os alunos só não tinham aulas de natação. Até 55, lecionei no Coronel e no Colégio.

Um casamento feliz
Na Fazenda Monte Alto, vi, pela primeira vez, Francisco Antônio Ribeiro Ferraz. Ao sair da sala de aula, olhei aquele moço bonitinho e pensei, vou me arrumar para cumprimentar esse povo direito. Mas, quando voltei, ele e o pai já tinham ido embora. No sábado, fazendo o footing na Avenida, nos encontramos e o reconheci. Ele ficou me olhando, começamos a flertar.
Namoramos durante dez anos e nos casamos em 31.12.55. Ele achava esse dia o mais bonito do ano, representava a esperança de um novo começo, Chiquinho era bastante romântico. Gostava de ler, era compreensivo e modesto. Foi um casamento muito feliz. Tivemos dois filhos, Wilson, em 56, e Denise, em 58.
Depois de casados, fomos viver na Fazenda Pereiras, propriedade do meu marido. Também lecionei lá. Quando minhas crianças começaram o primário na cidade, passei num concurso estadual para ser regente de classe. A partir daí, dei aulas de Educação Física no Barão até minha aposentadoria, em 71.
Voltei a lecionar na fazenda. Gostava tanto de dar aulas que meus alunos me obedeciam. Eu exigia que eles tivessem a letra desenhada, igual à minha. Na entrega dos diplomas fazia festas, com paraninfo e retratos. Tenho dois alunos formados em São Paulo: uma moça, advogada, e um moço, alto funcionário de uma montadora de automóveis. Quando ele vem a Guaxupé, sempre me visita. Diz com carinho, tudo que sabe hoje deve a mim, naquela escola tão simples da roça.
Até hoje sonho que estou dando aulas. Tenho um neto especial, Guilherme, que não sabe falar, mas foi alfabetizado por mim e escreve muito bem. Atualmente, não tenho condições físicas para dar aulas, não posso ficar muito tempo de pé por causa de um problema no joelho. É impossível lecionar sentada para o primário. A professora precisa transmitir alegria e entusiasmo.”
Desde os tempos de colégio, Cida descobriu que tem o dom de perceber uma mentira e os sentimentos das pessoas. Até hoje em dia, sente prazer em ajudar àqueles que precisam de alguma orientação. Gosta de conversar com os jovens porque enxergam o lado bom da vida. Segundo ela, os mais velhos preferem se lamentar.

Fotos:
1) Em 55, Cida, sentada ao centro, paraninfa das normalistas do colégio das freiras.
2) Cida, fotografada por Rayon, no final da década de 1940.
3) Cida e Chiquinho, que faleceu em 2005, poucos meses antes das Bodas de Ouro do casal.


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