poder
Ontem, encontrei uma conhecida na porta da Casa da Vó Maria. Eu pensava com meus botões por que as pessoas são mal-educadas jogando lixo nas ruas e expressei esta minha opinião a ela, que retrucou: "A culpa é desse povo que tá na prefeitura, colocaram eles lá, agora, aguenta... Cada um tem o governo que merece."
Fiquei mais pensativa, ainda. Concordo, plenamente, que nossas ruas estão mais sujas, principalmente, as praças. A limpeza das ruas é responsabilidade da Constroeste (e de quem a contrata, claro). No caso da João Pessoa, rua bastante movimentada, a sujeira é explicável, pois os garis fazem a limpeza apenas na parte da manhã. Como o cidadão insiste em jogar lixo no chão, a explicação é simples.
Já a limpeza das praças, a responsabilidade é da prefeitura. Nâo sei se há falta de funcionários ou impera a desorganização. O fato é que esse descaso era menor nas administrações anteriores. Mas o engraçado é a forma como as pessoas veem a política, por aqui. Numa entrevista a Página 22, o professor de Filosofia Política Renato Janine Ribeiro falou: "O lado negativo é que sinto a fúria na política e não sei qual é sua base". O exercício da democracia está na alternância do poder e ocorre para que nos tornemos mais flexíveis e sábios. Afinal, poder, como todo verbo, indica ação e toda ação é passageira. Mas tem gente que insiste em entender o poder apenas como substantivo. Este é o motivo das desavenças e inimizades políticas. Não dá pra não filosofar...
E por falar em ruas de Guaxupé, estou sempre tropeçando em cachorros. Este pequeno aprendiz de vira-lata (uma professora comentou comigo que todos os alunos de uma sala de aula grafaram vira-lata sem hífen, emendado, numa prova, e "culparam" o bloco de carnaval homônimo pelo erro!) tem 2 meses e precisa de um lar amigo com urgência. Preciso de ajuda...
MINHA HISTÓRIA
A trajetória de Dr. Benedicto – nesta foto entre pés de café, uma de suas paixões – revela pessoas de renome nacional, como Magalhães Pinto e a cantora Maysa.
Ícone político de Guaxupé
O pai, Felippe José da Silva, migrou do Líbano aos 17 anos, viajando de Santos para o interior mineiro como mascate. Em Nova Resende, comprou uma máquina de beneficiar café e formou família com Olímpia Galdino de Souza. Nesse município nasceu Benedicto Felippe da Silva, em 07 de dezembro de 1915, o sétimo de dez filhos, que enveredou-se pelos caminhos da política, tornando-se um dos ícones de Guaxupé.
“Tenho pouca recordação da infância. Aos quatro anos fomos morar em Muzambinho para meus irmãos mais velhos poderem estudar. Meu pai ia e voltava de Nova Resende, nos finais de semana, a cavalo. Nessa época, ele comprou uma chácara de 45 alqueires em sociedade com um amigo, no bairro da Penha, em São Paulo, para onde nos mudamos. Tinha uma casa muito boa, muita fruta e flores. O antigo proprietário, Coronel Meireles, cultivava, principalmente, rosas. Hoje é tudo arranha-céu. Comecei o primário numa escola a 2 km da chácara. Fazia esse trajeto a pé com meus irmãos.
Minha mãe não se acostumou em São Paulo, tinha saudade dos parentes. Em 1924 viemos para Guaxupé, moramos por muitos anos numa casa na Rua Padre João José. Comecei a estudar no Grupo Delfim Moreira, minhas irmãs foram para o Colégio Imaculada Conceição. Lembro-me da dona Maria Pereira e da Maria Martins, professoras dedicadas. Eu era um bom aluno, gostava muito de ler. Desde então leio jornais, gosto do noticiário em geral, de ficar bem informado.
Em 1929, fui estudar no Ginásio Municipal de Muzambinho com meus irmãos José, Espir, Jorge e Sebastião. Moramos na pensão do Carlos Anderson, numa casa boa. Visitávamos a família somente nas férias de dezembro e de julho. Uma vez por semana ia ao cinema com meus colegas. Fazíamos muito footing na Avenida Américo Luz. Aos sábados e domingos paquerávamos as moças no ‘jardim cercado’, que ficava aberto ao público até as 20h.
Em 1934, houve uma divergência política entre o corpo docente da escola. Papai, prevendo qualquer coisa, encaminhou Jorge, Sebastião e eu para estudar em outra cidade. Quando já não estávamos mais lá, soubemos que um professor assassinou outro na reitoria. Fomos para o Ginásio Paraisense, em São Sebastião do Paraíso. No mesmo ano recebi o diploma do 2º grau.
Meu pai queria que eu estudasse Odontologia, mas preferi trabalhar com um cunhado, Plínio, que comercializava café e cereais em Tuiuti (hoje Jureia). A linha dos trens das companhias Mogiana e Sul Mineira terminava ali, por isto a cidade era bastante movimentada. Depois de um ano passei no vestibular de Odontologia, em Ribeirão Preto, aonde fui morar. Estudava o suficiente para passar de ano, pois não gostava da profissão.
Um sonho realizado
Em 1938, formado, retornei a Guaxupé para trabalhar com o dentista Juca Magalhães. Papai queria que eu tivesse consultório próprio, mas meu sonho era morar no Rio de Janeiro. Quando recebi 1 conto de réis pelos serviços prestados, paguei minhas dívidas e fui visitar minha irmã Sara, em São Paulo.
De lá, viajei para o Rio com 180 mil-réis. Um amigo, Alberto Puntel, me esperou na Praça Mauá, levando-me para a pensão em que morava. Negociei com a dona dessa pensão uma estada de quinze dias, por 90 mil-réis, pagando adiantado. Cheguei numa sexta, à noite, e, no sábado, comprei o jornal para procurar anúncio de emprego.
Na segunda, comecei a trabalhar num gabinete dentário, ganhando 20 mil-réis por dia. Após um mês, abri minha primeira conta no banco, na Caixa Econômica Federal situada na mesma rua da pensão, 2 de Dezembro, no Flamengo. Quem abriu esta conta para mim foi Eliana, irmã do Brigadeiro Eduardo Gomes, conhecido militar e político brasileiro.
Depois de um tempo, com a indicação de amigos, consegui alugar um gabinete dentário próprio, no bairro Engenho de Dentro, onde trabalhava três vezes na semana. Nos outros três dias, trabalhava na Policlínica, na Rua Uruguaiana, do Maurício Monjardim (tio da cantora Maysa Matarazzo), com quem tive um bom convívio.
Em agosto de 1941 meu pai veio a falecer. Voltei a Guaxupé para ajudar meus irmãos a saldar os compromissos que ele deixou. Abri um gabinete dentário na Avenida Conde Ribeiro do Valle. Havia poucos dentistas formados naquela época, eu tinha muitos clientes. Em 42 comecei o curso de Direito, na Faculdade Estadual do Rio de Janeiro. Passava as férias em Guaxupé trabalhando como dentista. Levamos dois anos para pagar as dívidas do papai.
Depois disso, passei a ficar mais tempo no Rio. Eu estudava muito. Assistia, frequentemente, às sessões da ABL – Academia Brasileira de Letras. Sábados à noite, o amigo Hugo Lacorte Vital e eu íamos aos cassinos, onde aconteciam grandes shows. Pagávamos somente a entrada de 10 mil-réis, cada uma, que dava direito a fichas, no mesmo valor, do jogo de roleta. Uma hora, Hugo jogava no vermelho e eu no preto, outra, vice-versa, até recuperarmos o dinheiro da entrada.
Do direito ao matrimônio
Recebi o diploma de advogado em 1945, retornando definitivamente a Guaxupé. Conhecia de vista Maria Gabriela Costa Monteiro. Nos aproximamos em 42, durante uma viagem no trem da Mogiana. Ela e a irmã, Ligia, lecionavam em Itaiquara e eu estava retornando ao Rio, por este motivo elas me pediram para levar uma encomenda a uma prima que morava em São Paulo. Três meses depois, na viagem de volta, nos encontramos novamente no trem e começamos a conversar.
Passamos a nos encontrar com regularidade na Praça da Catedral. De volta ao Rio, deixei a incumbência ao Dr. Lessa de pedir a mão dela em casamento. Como ela não tinha pai, o pedido foi feito para o irmão mais velho, Antônio Costa Monteiro, que não me deu resposta até hoje. Quando retornei, nos reencontramos no casamento do Aníbal Ribeiro do Valle com Matilde Lessa, e decidimos continuar o namoro.
Nosso casamento aconteceu em 21.01 de 1946. Abri um escritório de advocacia com meus irmãos José e Espir. No mesmo ano, consegui junto ao governo federal concessão para fundar uma emissora de rádio na cidade, a Rádio Clube de Guaxupé. Fiquei catorze anos na direção dessa emissora.
Nesse ínterim, em 47, li no Correio da Manhã que seria aberta uma agência do Banco Nacional em Guaxupé. Enviei meu currículo para o banco e fui nomeado gerente, cargo que ocupei por cinco anos.
Paralelamente, fazia corretagem de imóveis e corretagem de seguros do IPASE – Instituto de Previdência e Aposentadoria dos Servidores do Estado de MG. No 1º mês, tirei o 1º lugar como o corretor que fez maior número de seguros em Minas.
Iniciei meu pé de meia em 1950, quando comprei um terreno no Alto de Pinheiros, em São Paulo, por 200 mil cruzeiros. Depois de um ano, vendi esse terreno por 300 mil cruzeiros e, capitalizado, comprei outros dois. Entre compras e vendas cheguei a ter mais de 30 terrenos naquele local.
De fazendeiro a prefeito
Em 1959 comprei a Fazenda Boa Vista, passando a produzir café, e não parei mais. Em 60, passei a me dedicar somente a esta atividade e à política. Ingressei na política em 1950, época em que meu irmão José Felippe era prefeito. Depois de disputar duas eleições e perder, fui eleito prefeito em 1962.
A água do município era puro barro. Com muito esforço, graças ao meu relacionamento com o governador Magalhães Pinto, dos anos do Banco Nacional, trouxe a COPASA para a cidade. Guaxupé foi uma das três primeiras de Minas a conseguir este feito.
Na minha administração, conseguimos que o governo de Minas construísse o prédio do ginásio estadual. Construímos um matadouro municipal, as arquibancadas e iluminação do estádio Dr. Carlos Costa Monteiro. Urbanizei o bairro Santa Cruz, regularizando a situação dos seus moradores, que passaram a possuir escrituras dos imóveis. Fui o fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé, no começo de 64.
Findo meu mandato, voltei à vida de produtor rural. Nessa época, possuía mais duas fazendas, a Consulta e a Jacuba.
Paralelamente, em 65, com outros casais, minha esposa e eu fundamos o Rotary Club de Guaxupé. No mesmo ano, recebi a Comenda Santos Dumont, do Governo de Minas, e a Medalha Desembargador Hélio Costa, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ambas pelos serviços prestados à comunidade.
Em 66, viajei até Ouro Preto, onde fui homenageado com a Medalha da Inconfidência Mineira. Também em 66, criei a Fundação José Gonela, para que a Academia de Comércio continuasse funcionando. Em dezembro do mesmo ano, a Câmara Municipal me concedeu o Título de Cidadão Guaxupeano.
Em 1980, me convidaram para ser diretor da Hidrominas, em BH, cargo que ocupei por três anos. Viajava toda quinta-feira à capital. Em 82, fui eleito vereador, o mais votado daquele ano. Em 89, diretor do BEMGE, em São Paulo, por mais de dois anos. Tive uma vida de muita luta e persistência. Sempre procurei ajudar quem me pediu ajuda.”
Há dois anos, doutor Benecdito foi acometido por problemas de saúde, ficando com os movimentos limitados. Atualmente, prestes a comemorar seus 95 anos, passa a maior parte do tempo na cama, mas mantém ao seu lado rádio, TV, todos os jornais impressos da cidade e outros de grande circulação. Continua o homem bem informado de sempre, gosta de receber visitas e de café com prosa.
Fotos:
1 Em 71, nas Bodas de Prata de Lia (Maria Gabriela) e Benedicto, os filhos do casal, Felippe, Lia Carmem, Luiz Felippe, Maria de Fátima, José Monteiro, Marília e Benedicto.
2. Bodas de Ouro, em 96. Dona Lia faleceu em 2003, deixando 15 netos: “Quase todos formados”, orgulha-se o avô.
3. Doutor Benecdito entre os pés de café, uma grande paixão.
4. À esquerda, entre renomados políticos brasileiros, como o presidente Getúlio Vargas (centro) e o governador Juscelino Kubitschek (à direita), em 1952, durante a inauguração da Escola Agrotécnica de Muzambinho.
Fiquei mais pensativa, ainda. Concordo, plenamente, que nossas ruas estão mais sujas, principalmente, as praças. A limpeza das ruas é responsabilidade da Constroeste (e de quem a contrata, claro). No caso da João Pessoa, rua bastante movimentada, a sujeira é explicável, pois os garis fazem a limpeza apenas na parte da manhã. Como o cidadão insiste em jogar lixo no chão, a explicação é simples.
Já a limpeza das praças, a responsabilidade é da prefeitura. Nâo sei se há falta de funcionários ou impera a desorganização. O fato é que esse descaso era menor nas administrações anteriores. Mas o engraçado é a forma como as pessoas veem a política, por aqui. Numa entrevista a Página 22, o professor de Filosofia Política Renato Janine Ribeiro falou: "O lado negativo é que sinto a fúria na política e não sei qual é sua base". O exercício da democracia está na alternância do poder e ocorre para que nos tornemos mais flexíveis e sábios. Afinal, poder, como todo verbo, indica ação e toda ação é passageira. Mas tem gente que insiste em entender o poder apenas como substantivo. Este é o motivo das desavenças e inimizades políticas. Não dá pra não filosofar...
E por falar em ruas de Guaxupé, estou sempre tropeçando em cachorros. Este pequeno aprendiz de vira-lata (uma professora comentou comigo que todos os alunos de uma sala de aula grafaram vira-lata sem hífen, emendado, numa prova, e "culparam" o bloco de carnaval homônimo pelo erro!) tem 2 meses e precisa de um lar amigo com urgência. Preciso de ajuda...
MINHA HISTÓRIA
A trajetória de Dr. Benedicto – nesta foto entre pés de café, uma de suas paixões – revela pessoas de renome nacional, como Magalhães Pinto e a cantora Maysa.
Ícone político de Guaxupé
O pai, Felippe José da Silva, migrou do Líbano aos 17 anos, viajando de Santos para o interior mineiro como mascate. Em Nova Resende, comprou uma máquina de beneficiar café e formou família com Olímpia Galdino de Souza. Nesse município nasceu Benedicto Felippe da Silva, em 07 de dezembro de 1915, o sétimo de dez filhos, que enveredou-se pelos caminhos da política, tornando-se um dos ícones de Guaxupé.
“Tenho pouca recordação da infância. Aos quatro anos fomos morar em Muzambinho para meus irmãos mais velhos poderem estudar. Meu pai ia e voltava de Nova Resende, nos finais de semana, a cavalo. Nessa época, ele comprou uma chácara de 45 alqueires em sociedade com um amigo, no bairro da Penha, em São Paulo, para onde nos mudamos. Tinha uma casa muito boa, muita fruta e flores. O antigo proprietário, Coronel Meireles, cultivava, principalmente, rosas. Hoje é tudo arranha-céu. Comecei o primário numa escola a 2 km da chácara. Fazia esse trajeto a pé com meus irmãos.
Minha mãe não se acostumou em São Paulo, tinha saudade dos parentes. Em 1924 viemos para Guaxupé, moramos por muitos anos numa casa na Rua Padre João José. Comecei a estudar no Grupo Delfim Moreira, minhas irmãs foram para o Colégio Imaculada Conceição. Lembro-me da dona Maria Pereira e da Maria Martins, professoras dedicadas. Eu era um bom aluno, gostava muito de ler. Desde então leio jornais, gosto do noticiário em geral, de ficar bem informado.
Em 1929, fui estudar no Ginásio Municipal de Muzambinho com meus irmãos José, Espir, Jorge e Sebastião. Moramos na pensão do Carlos Anderson, numa casa boa. Visitávamos a família somente nas férias de dezembro e de julho. Uma vez por semana ia ao cinema com meus colegas. Fazíamos muito footing na Avenida Américo Luz. Aos sábados e domingos paquerávamos as moças no ‘jardim cercado’, que ficava aberto ao público até as 20h.
Em 1934, houve uma divergência política entre o corpo docente da escola. Papai, prevendo qualquer coisa, encaminhou Jorge, Sebastião e eu para estudar em outra cidade. Quando já não estávamos mais lá, soubemos que um professor assassinou outro na reitoria. Fomos para o Ginásio Paraisense, em São Sebastião do Paraíso. No mesmo ano recebi o diploma do 2º grau.
Meu pai queria que eu estudasse Odontologia, mas preferi trabalhar com um cunhado, Plínio, que comercializava café e cereais em Tuiuti (hoje Jureia). A linha dos trens das companhias Mogiana e Sul Mineira terminava ali, por isto a cidade era bastante movimentada. Depois de um ano passei no vestibular de Odontologia, em Ribeirão Preto, aonde fui morar. Estudava o suficiente para passar de ano, pois não gostava da profissão.
Um sonho realizado
Em 1938, formado, retornei a Guaxupé para trabalhar com o dentista Juca Magalhães. Papai queria que eu tivesse consultório próprio, mas meu sonho era morar no Rio de Janeiro. Quando recebi 1 conto de réis pelos serviços prestados, paguei minhas dívidas e fui visitar minha irmã Sara, em São Paulo.
De lá, viajei para o Rio com 180 mil-réis. Um amigo, Alberto Puntel, me esperou na Praça Mauá, levando-me para a pensão em que morava. Negociei com a dona dessa pensão uma estada de quinze dias, por 90 mil-réis, pagando adiantado. Cheguei numa sexta, à noite, e, no sábado, comprei o jornal para procurar anúncio de emprego.
Na segunda, comecei a trabalhar num gabinete dentário, ganhando 20 mil-réis por dia. Após um mês, abri minha primeira conta no banco, na Caixa Econômica Federal situada na mesma rua da pensão, 2 de Dezembro, no Flamengo. Quem abriu esta conta para mim foi Eliana, irmã do Brigadeiro Eduardo Gomes, conhecido militar e político brasileiro.
Depois de um tempo, com a indicação de amigos, consegui alugar um gabinete dentário próprio, no bairro Engenho de Dentro, onde trabalhava três vezes na semana. Nos outros três dias, trabalhava na Policlínica, na Rua Uruguaiana, do Maurício Monjardim (tio da cantora Maysa Matarazzo), com quem tive um bom convívio.
Em agosto de 1941 meu pai veio a falecer. Voltei a Guaxupé para ajudar meus irmãos a saldar os compromissos que ele deixou. Abri um gabinete dentário na Avenida Conde Ribeiro do Valle. Havia poucos dentistas formados naquela época, eu tinha muitos clientes. Em 42 comecei o curso de Direito, na Faculdade Estadual do Rio de Janeiro. Passava as férias em Guaxupé trabalhando como dentista. Levamos dois anos para pagar as dívidas do papai.
Depois disso, passei a ficar mais tempo no Rio. Eu estudava muito. Assistia, frequentemente, às sessões da ABL – Academia Brasileira de Letras. Sábados à noite, o amigo Hugo Lacorte Vital e eu íamos aos cassinos, onde aconteciam grandes shows. Pagávamos somente a entrada de 10 mil-réis, cada uma, que dava direito a fichas, no mesmo valor, do jogo de roleta. Uma hora, Hugo jogava no vermelho e eu no preto, outra, vice-versa, até recuperarmos o dinheiro da entrada.
Do direito ao matrimônio
Recebi o diploma de advogado em 1945, retornando definitivamente a Guaxupé. Conhecia de vista Maria Gabriela Costa Monteiro. Nos aproximamos em 42, durante uma viagem no trem da Mogiana. Ela e a irmã, Ligia, lecionavam em Itaiquara e eu estava retornando ao Rio, por este motivo elas me pediram para levar uma encomenda a uma prima que morava em São Paulo. Três meses depois, na viagem de volta, nos encontramos novamente no trem e começamos a conversar.
Passamos a nos encontrar com regularidade na Praça da Catedral. De volta ao Rio, deixei a incumbência ao Dr. Lessa de pedir a mão dela em casamento. Como ela não tinha pai, o pedido foi feito para o irmão mais velho, Antônio Costa Monteiro, que não me deu resposta até hoje. Quando retornei, nos reencontramos no casamento do Aníbal Ribeiro do Valle com Matilde Lessa, e decidimos continuar o namoro.
Nosso casamento aconteceu em 21.01 de 1946. Abri um escritório de advocacia com meus irmãos José e Espir. No mesmo ano, consegui junto ao governo federal concessão para fundar uma emissora de rádio na cidade, a Rádio Clube de Guaxupé. Fiquei catorze anos na direção dessa emissora.
Nesse ínterim, em 47, li no Correio da Manhã que seria aberta uma agência do Banco Nacional em Guaxupé. Enviei meu currículo para o banco e fui nomeado gerente, cargo que ocupei por cinco anos.
Paralelamente, fazia corretagem de imóveis e corretagem de seguros do IPASE – Instituto de Previdência e Aposentadoria dos Servidores do Estado de MG. No 1º mês, tirei o 1º lugar como o corretor que fez maior número de seguros em Minas.
Iniciei meu pé de meia em 1950, quando comprei um terreno no Alto de Pinheiros, em São Paulo, por 200 mil cruzeiros. Depois de um ano, vendi esse terreno por 300 mil cruzeiros e, capitalizado, comprei outros dois. Entre compras e vendas cheguei a ter mais de 30 terrenos naquele local.
De fazendeiro a prefeito
Em 1959 comprei a Fazenda Boa Vista, passando a produzir café, e não parei mais. Em 60, passei a me dedicar somente a esta atividade e à política. Ingressei na política em 1950, época em que meu irmão José Felippe era prefeito. Depois de disputar duas eleições e perder, fui eleito prefeito em 1962.
A água do município era puro barro. Com muito esforço, graças ao meu relacionamento com o governador Magalhães Pinto, dos anos do Banco Nacional, trouxe a COPASA para a cidade. Guaxupé foi uma das três primeiras de Minas a conseguir este feito.
Na minha administração, conseguimos que o governo de Minas construísse o prédio do ginásio estadual. Construímos um matadouro municipal, as arquibancadas e iluminação do estádio Dr. Carlos Costa Monteiro. Urbanizei o bairro Santa Cruz, regularizando a situação dos seus moradores, que passaram a possuir escrituras dos imóveis. Fui o fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé, no começo de 64.
Findo meu mandato, voltei à vida de produtor rural. Nessa época, possuía mais duas fazendas, a Consulta e a Jacuba.
Paralelamente, em 65, com outros casais, minha esposa e eu fundamos o Rotary Club de Guaxupé. No mesmo ano, recebi a Comenda Santos Dumont, do Governo de Minas, e a Medalha Desembargador Hélio Costa, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ambas pelos serviços prestados à comunidade.
Em 66, viajei até Ouro Preto, onde fui homenageado com a Medalha da Inconfidência Mineira. Também em 66, criei a Fundação José Gonela, para que a Academia de Comércio continuasse funcionando. Em dezembro do mesmo ano, a Câmara Municipal me concedeu o Título de Cidadão Guaxupeano.
Em 1980, me convidaram para ser diretor da Hidrominas, em BH, cargo que ocupei por três anos. Viajava toda quinta-feira à capital. Em 82, fui eleito vereador, o mais votado daquele ano. Em 89, diretor do BEMGE, em São Paulo, por mais de dois anos. Tive uma vida de muita luta e persistência. Sempre procurei ajudar quem me pediu ajuda.”
Há dois anos, doutor Benecdito foi acometido por problemas de saúde, ficando com os movimentos limitados. Atualmente, prestes a comemorar seus 95 anos, passa a maior parte do tempo na cama, mas mantém ao seu lado rádio, TV, todos os jornais impressos da cidade e outros de grande circulação. Continua o homem bem informado de sempre, gosta de receber visitas e de café com prosa.
Fotos:
1 Em 71, nas Bodas de Prata de Lia (Maria Gabriela) e Benedicto, os filhos do casal, Felippe, Lia Carmem, Luiz Felippe, Maria de Fátima, José Monteiro, Marília e Benedicto.
2. Bodas de Ouro, em 96. Dona Lia faleceu em 2003, deixando 15 netos: “Quase todos formados”, orgulha-se o avô.
3. Doutor Benecdito entre os pés de café, uma grande paixão.
4. À esquerda, entre renomados políticos brasileiros, como o presidente Getúlio Vargas (centro) e o governador Juscelino Kubitschek (à direita), em 1952, durante a inauguração da Escola Agrotécnica de Muzambinho.
Comentários