vigilante

No final, "Minha História":
Lourival Nicola explica por que ganhou o apelido de Mazuca e como se transformou em um dos churrasqueiros mais famosos de Guaxupé.




"Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa."
(Marcos 13:35)









Ou seja, esteja sempre preparado para o que der e vier. Antes de tudo, devemos aprender a usar a intuição, mais sábia que a razão. Ontem, conheci uma caixa linda que Sara Abrão confeccionou para sua filha, Tatiana. Na tampa, ela esculpiu, em azul e dourado, o Olho de Hórus, símbolo egípcio que representa proteção espiritual. Sinto uma ligação profunda com os olhos, além do que a vista comum pode alcançar. Já escrevi aí pra trás que olhar é diferente de ver. A gente pode olhar sem ver e, também, ver sem olhar. Estas duas premissas afirmam o contrário do que escrevi antes, olhar pode ser banal. De fato, o olho é símbolo de algo mais profundo. Estar vigilante não é o mesmo que olhar, mas, sim, sentir com todos os sentidos. Muito mais que cinco...

E por falar em vigilante, este é o nome da empresa de segurança eletrônica da Ceres de Almeida ( http://www.vigilanteseguranca.com.br/ ), que além de leitora deste blog e apoiadora do Viralatas do Samba, é também minha amiga. Nascemos no mesmo dia e ano, a mãe dela saiu da sala de cirurgia e minha mãe entrou. Ceres foi diretora de Cultura na gestão do Abrãozinho, fase muito propícia para o boca a boca (o livreto de bolso, claro, rs). Ela é uma batalhadora, de professora de Espanhol e diretora da administração pública a empresária. O importante é não se acomodar, nunca. Sucesso pra você, Ceres, e obrigada pela parceria.



Muita alegria na vida

Lourival Nicola nasceu na zona rural de Guaxupé, em 23.12.35, primogênito dos nove filhos de Domingos Nicola e Conceição de Jesus Melo Nicola. Em Guaxupé, ficou conhecido por Mazuca, nome de um dos bares e churrascarias mais movimentados da cidade, na década de 90. Também, ficou na memória dos ex-frequentadores da boatinha do Clube, no início dos anos de 1980, um dos locais por onde trabalhou. Ele diz de si mesmo, sem falsa modéstia: “O Mazuca é um homem que deve ter muita alegria na vida, porque deu alegria pra muita gente. Ninguém fala mal dele, só bem.”

“Nasci pelas mãos da minha vó Augusta, que era parteira, em uma das casas da conserva da Mogiana, na Estação Japy, onde moravam os funcionários da ferrovia. Hoje em dia, não resta nem sinal dessas casas. Meu avô, José de Melo, era feitor da Mogiana, o mesmo que capataz. Ele e minha avó eram portugueses.
Meus pais moravam na Fazenda Boa Vista. Antônio Nicola, meu avô paterno, era administrador e, meu pai, carroceiro. Aos sete anos ia para escola, no sítio da dona Marianinha Barbosa. Ela dava aulas com o auxílio da filha, Teresinha, que, futuramente, tornou-se freira.
Tinha oito anos quando nos mudamos para um lugar chamado Garganta, zona rural de São José do Rio Pardo. Passei a trabalhar na roça de milho, junto com meu pai. Dois anos depois, ele arrumou emprego de administrador da Fazenda Catitó, na divisa de Monte Santo e Guaranésia, onde vivemos por vinte e três anos. Comecei tocando carroça e, com o tempo, fiz de tudo, de terreireiro a retireiro.
Jogava muita bola no time da fazenda pelas redondezas. Às vezes, tinha baile depois dos jogos. Aos dezesseis anos, já era um dançador. Havia muitas parceiras e eram elas que me chamavam para dançar. Eu era pinta-brava.
Os cavalos da Catitó eram muito bonitos. Como era filho do administrador, gozava de algumas regalias, podia passear a cavalo e paquerar: tinha uma namorada em cada lugar. Também, fui padrinho de casamento de muitas moças em Monte Santo.
Antes de completar dezoito anos, firmei namoro com Maria Aparecida de Souza, que como eu, morava na Catitó. Após um ano, em 1953, nos casamos, em Guaranésia. Para comemorar, fizemos almoço e baile na fazenda. Nessa época, eu era retireiro. Morávamos fora da colônia, semelhante a uma casa de caseiro, onde nasceram nossos primeiros filhos, Maria Augusta, Moacir e Roberto.
Em 1960, viemos para Guaxupé. Aparecida estava grávida do nosso 4º filho, Nadir. Arrumei trabalho na Mogiana, na troca de linhas e renovação dos trilhos. Esse serviço durou quase um ano. Em seguida, Pacheco, que era encarregado dos serviços de obras da Prefeitura, me chamou para trabalhar com ele. Fiz de tudo, capinei rua, abri valetas e galerias subterrâneas.
Após um ano, fui trabalhar no atacado de secos e molhados do João Ratão, situado ao lado das Pernambucanas. Comecei como ajudante de caminhão, depois, passei a motorista. Consegui esse emprego graças ao Abrão Farah, que tinha uma venda muito boa na Catitó, e era primo do João Ratão. Fiquei nesse serviço uns dezenove anos. Nesse período, Aparecida e eu tivemos mais quatro filhos: Vera, Meire, Lourival Jr. e Rosângela. Além de um que morreu recém-nascido.
Viajava por toda a região, até em Varginha, fazendo entregas. Naquele tempo não tinha estrada, era tudo terra. Muitas vezes, ficava fora uma semana. Quando João Ratão encerrou as atividades, vendeu o ponto para o Carlos Gallatte e João Rovay, que passaram a vender bebidas no atacado. Foram eles que me deram o apelido de Mazuca, por causa de uma dança com esse nome que tem pisada forte. Eu era ligeiro para carregar o caminhão. Fiquei com eles um tempo, mas desgostei do serviço, sentia muita dor nas pernas. Entreguei as chaves e não voltei mais.

Fama de churrasqueiro
Fui trabalhar para seo João Nehemy, na Madeireira Nehemy. Fazia entregas, cobrança, era motorista e churrasqueiro. Seo Jamil Nasser, que era amigo do seo João, fazia aniversário no mesmo dia que eu. Mandava me chamar só pra me cumprimentar. Trabalhei na madeireira durante dez anos.
Paralelamente, por volta de 1980, tomava conta do bar da boatinha do Clube Guaxupé, à noite, na época em que o Isaac Elias foi presidente. Acudi muitas brigas da molecada. Tinha pai e mãe que até me agradeciam, por eu olhar os jovens. Chegava em casa de madrugada, pegava no serviço, na madeireira, às sete.
Beirando 1990, comprei o bar do Antônio Louco, na esquina do Grupo Escolar Coronel Antônio Costa Monteiro. Minha casa ficava no mesmo imóvel. Os frequentadores passavam pela nossa sala para ir ao banheiro. Tinha muito movimento. Cheguei a comprar caminhão fechado da Skol com duzentas caixas de cerveja. Estocava quatro mil litros de pinga da Juruaia, dos Bueno. Vendia no atacado e varejo. Minha família toda trabalhava comigo, nossa comida era famosa.
Até hoje, quando vou renovar minha carteira de motorista, Thiago Elias me pergunta se vou reabrir o bar. Ele se lembra do gosto do churrasco que ele comia com o pai, Nelson Elias, que toda sexta-feira ia ao bar acompanhado da esposa. Eram assíduos, também, Naby Zaiat, Jorge Gabriel, Zé de Almeida, Gui Vergili, Jamil Abrão, Augustinho Tavares.
Quando a gente começou, fizemos amizade com uma vizinha, Marciana, que virou uma filha para nós. Ela não saía do bar, ajudava a gente demais. A família dela é como se fosse a nossa. Há um ano, quando precisei operar minha perna, em São José do Rio Pardo, ela e o marido, Celso, me ajudaram demais.
Além do Bar do Mazuca, administrei o bar do campo da Esportiva de Guaxupé por uns três anos. Lembro-me de quando vieram jogar os times do Cruzeiro, América e Atlético.
Em 1993, adotamos um menino de seis meses, Paulinho, e, em 1994, a irmã dele de quatro anos, Divina. Ainda, tivemos um ajudante no bar, Sonic, que praticamente morava conosco. Em 2002, devido a problemas de saúde, precisei encerrar as atividades. Como já estava aposentado, decidi não ser mais empregado de ninguém. Também já tinha casa própria, para onde nos mudamos.
Em 2003, minha mulher e meu filho, Moacir, começaram a vender marmita. Eu sou ajudante, faço as entregas, mesmo caminhando com o auxílio de uma bengala. Além disso, as verduras e legumes que utilizam na comida vêm das hortas que cultivo em três terrenos ‘arrendados’: tenho 400 pés de alfaces plantados, conforme a época, chegam a 1.000; mais chuchu, quiabo e abóbora. Vendo para as donas de casa da vizinhança.
Minha maior alegria, quando vim pra cidade, foi conviver com as famílias de sírios, que me ensinaram a trabalhar no comércio. Sou grato, também, ao Rotary e ao Lions, que sempre me contrataram para servir bebidas nos eventos que promoviam.”

Mazuca é palmeirense roxo, fica feliz quando seu time joga bem. Começou a jogar bola aos treze anos e, segundo conta, aos 71, ainda fez gol pelo time do Country Club no goleiro que era do São Paulo. Sempre gostou de nadar. Teve que parar com tudo, em 2006, por causa da perna. Atualmente, com 18 netos, três bisnetos e uma tataraneta, continua agitado e disposto a retomar a natação, uma das suas atividades preferidas.







Fotos:
1) Em 57, Aparecida (2ª à esquerda) e a pequena Maria Augusta - entre os avós - com os nove filhos de Domingos e Conceição Nicola (Mazuca é o 2º à direita).
2) Casamento de Aparecida e Lourival, em maio de 1953.
3) Olavo Barbosa e funcionários da Exportadora de Café Guaxupé eram frequentadores assíduos do Bar do Mazuca.
4) No Bar do Mazuca, Moacir, Maria Augusta, Meire, Aparecida, Marciana e Mazuca; em pé, Sonic, Edgar e Divina.
5) Mazuca rodeado por alguns netos.


Patrocínio Minha História:

Comentários

Rosane disse…
Eu acho tão bonito este seu trabalho....tão sensível, importante, histórico, cultural e respeitoso....

Sorte dos que tem histórias pra contar e mais sorte ainda dos que tem o dom de ouvi-las e transmiti-las com tanta delicadeza....seu caso, minha amiga.

Bjao Ro
Lorene Portugal disse…
Bacana, Sheila! Estou com saudades do barzinho do Mazuca. O churrasco era muito bom! bonita homenagem a ele!
e por falar em vigilância constante e orações etc... já viu os divinos Espírito santos que tenho feito? Passa lá no meu blog e dá uma olhada!

lorenyportugal.blogspot.com

Beijos!
Anônimo disse…
Amiga, sou sim leitora de seu blog,fui professora de Espanhol e diretora da administração pública a empresária. Mas tb acho que o importante, mais antes de tudo é ser sua amiga de anos, de várias fases... continuamos companeiras!!! Bjs
Anônimo disse…
Anomino não!!! Sou eu, Ceres!!!!
bisteca disse…
Rosane, obrigada pelas palavras carinhosas, que gostoso ouvir você!

Loreny, certamente vou no seu blog conhecer suas novas criações, você sabe que sou fã do seu trabalho (e das poesias, também!)

Ceres Maria,
como disse o poeta, "nossos destinos foram traçados na maternidade", rsrsrsrsrsrs claro, o mais importante é nossa amizade e o respeito que temos uma pela outra.

bjs, queridonas!

ah, tem o Teuvo... vixe, temos que conhecer as fotos dele! fui...
Legal, gostei da historia de vida do Mazuca, belo exemplo de homem trabalhador.
Unknown disse…
Alguém tem notícias dele?
bisteca disse…
Olá, desconhecido , desconhecida!
Não tenho notícias do Mazuca, mas se você se identificar, posso encontrar o contato dele ou de um famíliar.

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