por mais literatura e menos consumo

Adorei a biografia do Saramago escrita pelo português João Marques Lopes. Gostaria de ter conhecido a vida deste dileto escritor antes de começar a ler seus livros, pra seguir a cronologia das publicações e ter uma visão mais ampla dos conteúdos. Pela biografia, soube que Saramago foi integrante do PCP - Partido Comunista Português e que as suas crenças o enredaram em diversas polêmicas; que o Evangelho Segundo Jesus Cristo foi censurado no país de origem; que depois de Ensaio sobre a Cegueira o autor retomou os mesmos personagens em Ensaio sobre a Lucidez; que o recém-lançado no Brasil, Claraboia, foi escrito em 1953, e por aí vai. O livro que inaugura o "estilo saramaguiano" de contar histórias, a dita oralização da escrita, que desrespeita as regras gramaticais, foi Levantado do Chão, em 1979, sobre a vida de lavradores portugueses. Também conheci obras e autores de lá que não conhecia.

Mais legal ainda foi encontrar este livro no Supermercado São João a R$ 12,90 (no submarino sai por 9,90, mas tem o frete e os dias de espera). Foi gratificante sair do supermercado com um bom livro. Noutras feitas, no mesmo local, comprei DVDs a R$ 7,90, como este do Carlos Santana, Supernatural, que só me atrai bons fluidos e eu superindico, mistura de rock e ritmos latinos. Basta ter paciência e procurar. É até divertido naquele vucovuco de supermercado viajar nas sinopses, experimenta.




E para quem tem vontade de ler bons livros, mas não quer gastar nem um tostão, o Instituto 14 Bis, a Casa da Cultura e a Farmácia Ramo Verde oferecem bibliotecas diferenciadas. o Instituto 14 Bis empresta livros; a Casa da Cultura tem livros a preços populares (5 e 10 reais) e outros gratuitos, basta passar por lá e pegar. Com tanta generosidade, só não lê que não quer... A Ramo Verde vende e empresta livros. Os clientes já se habituaram às trocas, muitos doam livros. Maria Teresa, proprietária da farmácia, diz que a biblioteca faz sucesso até entre as crianças. "Afinal, cultura e conhecimento não podem ficar guardados no armário", diz.

Também acabei de ler o segundo dos dois livros de Esmerino Ribeiro do Valle Filho. O Julgamento de uma Freira (e As Três Faces da Alma) foi publicado em 1968, com prefácio assinado por Menotti Del Picchia. No livro não está impressa nenhuma data, a não ser na dedicatória do autor: "Aníbal, tempere o anjo com o diabo que o negócio da certo. Natal de 1968." Tanto este quanto o posterior, Um Passarinho no Chão, contêm ilustrações do Zino.

Agora, vamos às leituras não literais, àquelas que dependem da interpretação de cada um. Já cansei de dizer que na hierarquia da criação, ninguém tem prioridade. O homem, por causa da consciência (com ciência), se julgou no direito de ocupar o trono de rei do universo e o topo da cadeia alimentar. Leitura errada, caros colegas de infortúnios. Por tantos acúmulos de enganos, a humanidade já está pagando um preço alto e a natureza vai cobrar muito mais.

Há uns cinco dias apareceu na nossa rua um cachorro magrinho arrastando uma corda grossa amarrada ao pescoço. De tão apertada, ganhou um colar de carne viva e sem pelos. Todo dia, de tardezinha, eu o chamava, FEDIDO, e ele mesmo sem me conhecer, entendia a mensagem e corria para receber uma generosa refeição diária. Estava aguardando a melhor oportunidade para levá-lo ao veterinário, ser medicado, tomar banho, posar para a grande foto que talvez lhe renderia um bom e novo lar. Na véspera de ser atropelado, antes da comida, dei a ele um comprimido e meio de vermífugo, sinal de que no dia seguinte estaria sem vermes e seu corpinho maltratado poderia crescer saudável. Não contava que pela manhã ele estaria morto sobre os paralelepípedos da Avenida Conde Ribeiro do Valle, ao lado dos pelos que saíram do seu corpo com o impacto do atropelamento. Pela cena, desconfio que o motorista nem se deu ao luxo de descer do carro para ver se caberia socorro. O cãozinho ficou jogado ali durante todo o dia, sob o olhar piedoso de alguns transeuntes que não tinham tempo ou disposição para tirá-lo dali.

Já vi fatos como este acontecer com gente, pior ainda, mães que jogam seus bebês recém-nascidos em latas de lixo! As pessoas perderam a noção, estão pouco se lixando para aquilo que acham que não lhe diz respeito. Acostumaram-se ao engano ou acomodaram-se, mesmo. Por este motivo, se não fosse a internet seria muito mais difícil reunir os milhares de brasileiros em um abaixo-assinado tão importante, contra o projeto de Belo Monte (saiba mais em movimento gota d'água), que diz respeito a todos, pois esta usina, se concluída, deverá inundar mais de 600 quilômetros quadrados da floresta amazônica, um patrimônio da humanidade de valor incomensurável, principalmente às gerações futuras (e eu com isso?). De quebra, vai alterar os hábitos e a cultura dos milhares de habitantes de Altamira, no Tocantins, e de outras comunidades indígenas e ribeirinhas do vale do rio Xingu. Santa internet que irá facilitar e incentivar a mobilização dos cidadãos para tentar comover a presidenta Dilma. Aliás, é a última oportunidade que dou a ela de não me decepcionar mais. Muito pertinente criar a Comissão da Verdade para descobrir fatos que mancharam nossa história durante a ditadura militar. Mas em vez de olhar para o passado, mais inteligente, ainda, é enxergar o futuro.

Não leve em consideração, por favor, as reportagens que o JN andou divulgando algumas semanas atrás. Procure usar a mineirice a seu favor, desconfie sempre do que ouve ou lê nos jornais (e na internet, claro). Hoje mesmo Fátima Bernardes falou sobre as alterações do Código Florestal que, nas palavras dela já está velho: "tem mais de 46 anos". Ou seja, induz o telespectador a ver essas mudanças de forma positiva. Não ouvi a reportagem completa, não sei se ela informou que se os senadores aprovarem todas as modificações propostas, mais de 30% de áreas preservadas poderão servir ao agronegócio. De acordo com especialistas e cientistas renomados, a economia pode crescer sem agredir o meio ambiente, basta estudo, pesquisa, debates e bom senso.



Infelizmente, bom senso é o que mais falta à humanidade. Sinto muita vergonha do que vem acontecendo em Mato Grosso do Sul contra os índios guarani-kaiowás. Já não basta a população indígena brasileira ter sido drasticamente reduzida a dezenas de milhares? Se tiver tempo, leia reportagem sobre a morte de um líder indígena há três dias, no mercado ético Será que esses latifundiários não percebem que essas atitudes arbitrárias e coronelistas não cabem mais no mundo atual? (li que naquela região rola muito mais do que brigas pela posse de terra). Que ser humano é este que dá mais valor à posse de bens materiais que à vida?
Que espécie de ser humano é você?

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