hecho en china

Fiquei besta quando encontrei uma etiqueta em um vestido da Hering com os dizeres: produzido na China. Eu, que sempre fui fã da marca, agora me questiono onde está a sustentabilidade dessa confecção. Um negócio é sustentável quando gera lucros e benefícios sociais sem prejudicar o meio ambiente. Pensa só nesses produtos sendo confeccionados na Ásia para depois serem transportados ao Brasil, o quanto não se utiliza de combustível (e não é biodiesel) para vencer os milhares de quilômetros que separam os dois países. Sem falar na mão de obra barata utilizada nessa produção. É um absurdo o que vem ocorrendo no Brasil, onde os produtos manufaturados na China são vendidos mais baratos que os daqui. Sei pouco sobre economia, mas não pode ser somente uma questão de impostos. Tive a mesma sensação quando comprei os chapéus do Viralatas do Samba do carnaval deste ano. Cada unidade poderia ter saído a menos de três reais não fosse o fato de a loja não ter estoque suficiente para atender meu pedido. O vendedor disse que enviou nossa encomenda direto de uma importadora chinesa, por este motivo o valor aumentou dezenas de centavos. O Lojão das Fábricas está vendendo colchas de cama de casal "indianas" a R$ 10,99 a unidade. Pode conferir na etiqueta que o produto é chinês. Uau.

De acordo com Zygmunt Bauman, 86 anos, um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade (um senhor encantador, saiba mais aqui), o sentimento de felicidade está inevitavelmente ligado à liberdade e segurança, onde cada um deve fazer sua mistura para buscar seu ponto ideal. Para ele é urgente a reinvenção dos laços humanos, já que as identidades tradicionais se dissolveram na efemeridade afetiva da modernidade líquida. Ou seja, a internet e as novas tecnologias proporcionam o acesso a uma quantidade excessiva de informações e contatos que não podem ser absorvidos ou concretizados. Os afetos são instantâneos nessa mesma intensidade.

Onde estão a segurança e liberdade ansiadas? É possível combinar as duas coisas ao mesmo tempo? Que segurança pode haver em um mundo onde o comércio e as informações são globalizadas mas todo esse conhecimento e gama de produtos não levam necessariamente ao bem-estar? Vivemos uma overdose de redes sociais onde o número de amigos virtuais não reflete a realidade. Participo de um monte delas sem saber bem o porquê e sem, tampouco, obter benefícios. Me conforta um pouco quando assino uma petição em favor do desmatamento zero e contra o novo código florestal brasileiro, pelo fim do preconceito em algum país da África, pelo veto de leis que tentam restringir a liberdade da internet, pelo fim do abate de golfinhos no Japão, contra a produção de foie gras, entre tantas que circulam pelas redes sociais. Mas às vezes me sinto muito comodista e a sensação de prazer é efêmera. Não sei até que ponto estou realmente interferindo nesses processos. Na internet, tudo parece muito superficial. Assim como a economia que faço ao comprar um produto chinês. A liberdade é ilusória e segurança... no hay.