árvores

No final da tarde de ontem, caiu uma forte chuva em Guaxupé, de granizo em alguns pontos. Estava na avenida principal da Vila Conceição, fazendo uma entrevista, quando galhos de diferentes tamanhos se partiram, caindo sobre meu Escort. Da casa, escutamos os fortes estalos, sem saber do que se tratava. Ao cessar a chuva, um cidadão bateu à porta pra noticiar o acontecimento. Segundo moradores, esta árvore estava "condenada" e a Prefeitura, devidamente informada sobre o caso. Por sorte (e proteção divina), os galhos foram amparados pelos fios de eletricidade. O peso chegou a entortar o poste mais próximo, mas não causou grandes estragos no carro, apenas no parachoque dianteiro. A tempestade deixou vários pontos da cidade sem luz, incluindo a Vila Conceição.

Alguns meses atrás, conversei com Mozart Faria, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ele me garantiu que um técnico da prefeitura e do IEF fariam análise e relatório sobre as condições das árvores das avenidas principais, bem como das palmeiras do antigo fórum. Até agora, nenhuma providência visível foi tomada. É fundamental que todas as árvores da cidade sejam avaliadas e substituídas, se for o caso. E rápido!

Agradecimentos especiais aos dois bravos cidadãos (Dalton e José Batista) que me ajudaram a tirar o carro do local antes que a chuva voltasse, com força total. Naquele horário, o expediente do departamento de obras já estava encerrado...




MINHA HISTÓRIA
Alessi Saad Rodrigues relembra, com saudade, os tempos em que tinha cabelos cacheados à Shirley Temple.



Saudade da casa dos pais

Alessi Saad Rodrigues nasceu em 21.07.30, filha de Abrão João Saad e Maria Web Saad. Os pais migraram do Líbano, já casados e com duas filhas, Lidia e Genoveva. Em Guaranésia nasceram os outros quatro filhos, Sadalla, Chafic, Alessi e Umar. Viúva e com os filhos morando longe, Alessi sente muita saudade da casa dos pais, sempre cheia de gente. Ela não gosta de solidão: “Às vezes, quando estou sozinha, acendo um cigarro pra me fazer companhia.”

“Papai tinha um empório em Guaranésia e, também, fabricava botinas. Não me lembro muito dessa época, pois quando nos mudamos para Guaxupé eu tinha apenas cinco anos. Aqui, abriu uma fábrica de calçados com os filhos. Moramos na Rua João Pessoa, onde hoje é uma farmácia. Em meados da década de 40, nos mudamos para uma casa própria, no número 43 da mesma rua.
Em frente à nossa casa morava uma família de descendentes de italianos, os De Simone. Fizemos amizade com as crianças dessa família. No quintal deles havia uma mangueira enorme. Certa vez, comi tanta manga que tive uma convulsão e quase morri. Nesta árvore, também brincava de casinha com as irmãs Arlette, Derelis e Maria.
Quando chegava em casa e não tinha arroz com feijão, minha comida predileta, eu chorava. Atualmente, prefiro comida árabe. Não gostava de ajudar mamãe e minhas irmãs nos serviços domésticos, sempre que podia, fugia para encontrar minhas amigas. Na rua sem calçamento brincávamos de pular corda, de amarelinha e de orticã.
Fazíamos, também, muitos piqueniques. Minha mãe pedia pra eu tomar cuidado com o sol, por ser ruiva, minhas sardas aumentavam dia a dia. Tinha horror quando os meninos me chamavam de banana pintada. Em casa, os irmãos botavam apelidos uns nos outros nas horas das brigas.
Estudei no colégio das freiras, desde o primário até o normal. Recebi a 1ª comunhão na capela do colégio, aos oito anos. Sou católica até hoje por influência das aulas diárias de religião. Minhas colegas e eu vendemos muitas rifas para angariar fundos para a construção da Catedral. As pessoas corriam quando viam as meninas uniformizadas, sabiam que lá vinha rifa.
Nas férias da escola gostava de visitar tia Fádua, em São Paulo. Fazia muitos passeios pela Rua 25 de Março e Rua Direita, sempre encontrava muitos conhecidos por lá (Atualmente, quando vou a São Paulo com minha filha, fico impressionada com a altura e o grande número de prédios envidraçados, e já não encontro conhecidos).
Recebi o diploma de normalista em 46, mas meu pai não me deixou lecionar. Ele dizia: filha minha não precisa trabalhar fora. Minhas irmãs faziam, em casa, crochet e bordados para vender. Passei a ajudar na fábrica de calçados. Nos fundos, havia um barracão com maquinários e muitos empregados. E, na frente, uma loja onde eu ficava: lustrava, colocava os cordões e guardava os sapatos nas caixas.
À noite saía para passear com as amigas. Íamos sempre ao Cine São Carlos. Cinema era minha grande paixão. Montei um álbum com fotos e reportagens das grandes estrelas de Hollywood, como Shirley Temple. Diziam que eu era parecida com ela, por causa dos cabelos cacheados.
Outra grande paixão era o carnaval. Meus irmãos fundaram com os amigos o bloco de rua, Os Bicancas. Eu também desfilava, saíamos da nossa casa para a avenida. Nos Bailes do Clube Guaxupé, brincávamos de espirrar lança-perfume uns nos outros.
De mocinha à mãe de família
A gente também fazia o footing na avenida, para flertar com os rapazes. Saíamos todas as noites. No andar de cima do cinema aconteciam os bailes da Associação Comercial. Os homens ficavam de um lado e as mulheres, de outro. Eles nos tiravam para dançar, nunca neguei uma contradança, era uma ofensa.
Aos 23 anos, conheci Namir Rodrigues Silva, num desses passeios na avenida. Ele chegou para conversar e fiquei morrendo de medo dos meus irmãos. Sadalla e Chafic eram bravos, não me deixavam namorar. Como conheciam Namir, que trabalhava no Banco Nacional situado na esquina da nossa rua, sabiam que era um bom rapaz. Passamos a nos encontrar toda noite.
Nosso namoro durou um ano, nos casamos em 05.09.54, na igreja ortodoxa. Meus pais fizeram uma festa muito boa em casa, com convidados brasileiros e patrícios. Os doces e salgadinhos foram feitos pela Nadima Mussi. Guardei meu vestido de noiva durante muitos anos. Uma sobrinha minha se casou usando esse vestido.
O trabalho do meu marido no banco nos fez mudar de cidade várias vezes. Após o casamento, ele foi transferido para Caldas, logo em seguida, para Botelhos. Em 56, voltei para ter meu primeiro filho, Carlos Henrique, ao lado da minha mãe. Fiquei na casa dela durante os quarenta dias de resguardo. Namir vinha nos visitar nos finais de semana.
Vivemos alguns anos em Botelhos, depois, fomos para Araguari, onde moramos, durante um ano, num hotel. Deixamos todos nossos móveis na casa de meus pais. Até que, em 1960, conseguimos retornar à Guaxupé. Em março de 1964 nasceu nossa segunda filha, Maria Bernadete.

Professora na maturidade
Um ano depois, meu marido sofreu um derrame, ficando parcialmente paralisado. Nessa época, para aumentar nossa renda familiar, comecei a lecionar, à tarde, na fazenda Boa Vista. Minha família me ajudou bastante, as crianças ficavam com minha mãe. Alguns anos depois, Namir teve outro derrame e não saiu mais de casa.
Trabalhei na zona rural durante cinco anos. Da fazenda, passei a dar aulas no Grupo Queridinha, no período da manhã, onde fiquei mais quinze anos. Até hoje, encontro ex-alunos que me reconhecem na rua. Simultaneamente, durante onze anos, trabalhei no DETRAN, à tarde, com o Nelson Elias e a Linda Zaiat.
Aos cinquenta anos, ingressei no curso de Pedagogia, na FAFIG. Pagava uma moça pra cuidar do meu marido. Nossa filha, adolescente, também fazia companhia a ele. Era alérgica ao giz, por este motivo fiz curso de bibliotecária, com a intenção de deixar as salas de aulas. Após vinte anos no primário, me nomearam para trabalhar na biblioteca do ginásio (E.E. Dr. Benedito Leite Ribeiro), junto com Adélia Correa. Fui bibliotecária até minha aposentadoria, em 1994.
Meu pai faleceu em abril de 85 e, meu marido, em julho do mesmo ano. Neste período, cheguei a entrar em depressão. Melhorei ao começar a participar das excursões organizadas pela Ana Amália e pelo Zé Rachid. Só na Pousada do Rio Quente, em Goiás, fui seis vezes.
Em 95 comecei a fazer yoga, duas vezes por semana, com a Lúcia Vairo, uma grande amiga. Os exercícios me deram mais tranquilidade e aceitação. Passo os domingos na casa do meu irmão, Sadalla. Acho difícil viver sozinha. Se não estou lendo, faço tricô, não gosto de ficar parada.”
Em 1984, Alessi sofreu uma cirurgia no cérebro, para extração de um coágulo, que afetou um pouco sua capacidade de memorização. Mas continuou trabalhando até a aposentadoria. A filha, casada, mora nos EUA. Quando vem ao Brasil sempre leva a mãe para viajar. O filho, também casado, vive em Campinas. Alessi tem paixão por Guaxupé, embora goste de passear, diz que seu lugar é aqui. Continua frequentadora assídua do cinema. Quando tem companhia, não perde uma festa ou um baile.

Fotos:
1) As irmãs Genoveva, Lídia e Alessi.
2) Casamento na igreja ortodoxa, em setembro de 1954.
3) Alessi com a filha Bernadete, o filho Carlos Henrique e a nora, Ivana.
4) Alessi, à direita, com as cunhadas e amigas de longa data, Lorice e Lourdes, num curso de neurolinguística, na ACIG, em 2000.



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