dicas de leituras

Recebi do amigo Lauro Baldini esta informação que circulou em diversos blogs e sites de jornalismo nos últimos dias. Como jornalista e cidadã ou o que quer que fosse não poderia apoiar nenhum tipo de censura, nunca. Só temos a ganhar com divergências de opiniões e discussões saudáveis. É lamentável que muitos não consigam enxergar este fato e levem a política, por exemplo, para o lado pessoal.

Há poucos dias, a Folha de São Paulo conseguiu na justiça retirar do ar um site
que fazia uma paródia do jornal paulista, conforme se vê em
http://www.botecosujo.com/2010/10/ditadura-nada-branda-da-folha-de-s.html

Algumas imagens sobre este "caso" tiradas do link acima e em outros indicados no mesmo endereço. Ingenuidade de Folha, um jornal tão poderoso, achar que sariria ilesa deste episódio: subestimou a força da internet.





Dizem que o artigo abaixo foi causa de uma "advertência" do Estadão a
Maria Rita Kehl. Segundo disse o jornalista Xico Sá
(http://twitter.com/xicosa/status/26505308382), o jornal exigiu que
ela escreva apenas sobre psicanálise, e não sobre política.

DOIS PESOS
02/10/10
Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo


Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos
leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim
mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate
eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores
se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a
disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em
espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso,
alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos
luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido
soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é
maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões
perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se
revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam
seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a
favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito
anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são
expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao
preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos
destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor,
residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos
trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que
ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os
candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o
dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se
fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os
verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava,
capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma
miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor
do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do
emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos
espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido
fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o
valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para
quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade
do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum
paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do
governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes
disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de
José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as
famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao
dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já
conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a
comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades
pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente
sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem,
proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto
da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe
recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os
indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns
empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo,
pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus
direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas
condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que
apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em
estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de
quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de
R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à
população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos.
Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os
brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão
preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de
2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros
que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios
interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos
pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi
possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava
com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando
com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser
desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha
da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre
caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que
votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os
sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela
via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a
público desqualificar a seriedade de seus votos.


ALBERTO DINES

Sou fã do trabalho deste jornalista, que pode ser conferido na TV Educativa e no site www.observatoriodaimprensa.com.br.
Para os interessados nas eleições presidenciais, um artigo muito oportuno sobre a candidatura Marina Silva, o PV, Dilma e Serra. Vale a pena ler:
Ecologistas de última hora - Por Luciano Martins Costa em 6/10/2010
http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=610JDB020

Acordar com essa chuvinha foi difícil, mas o trabalho me chama. Bom dia!

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