riqueza na vida simples
Cultivar uma vida simples... Tudo indica ação, ou lei da atração. Então, por que acreditar em destino? É fato, colhemos o que plantamos.
MINHA HISTÓRIA
Ao lado da família, Nelson Ramos Damião cultiva uma vida simples, com pomar, galinhas, patos e peixes.
Riqueza na vida simples
Nelson Ramos Damião nasceu no Itaim Bibi, em São Paulo, em 21.10.45, filho único de Tobias Damião e Odete Ramos Damião. Aos sessenta e cinco anos, Nelson sente como se tivesse vinte, ainda sobe em árvores. Diz que sua saúde física é impecável, em grande parte, devido à vida simples que leva, sem vícios, e ao contato diário com a natureza. Mantém um pomar e diversas criações com muito zelo: “A vida me deu mais do que esperava.”
“Mamãe morreu quando eu era pequeno, por volta dos meus três anos. Meu pai tinha o ofício de pedreiro. Ficava um pouco com ele, um pouco com minhas tias paternas, Rosária e Ermantina Inácio. O sobrenome Damião veio de um tio, Pio Damião, que trouxe papai e sua irmã, Sebastiana, ainda crianças, da casa de uns parentes, em Araxá.
Estudei no Grupo Escolar Pedro Tax, em Guaianases. Nesta época, morei com minhas tias. Como todo moleque, brincava, jogava peão e, às vezes, brigava por coisas de criança. Os meninos estudavam em salas separadas das meninas.
Na hora do recreio, jogava bolinha de gude. Uma vez, por causa de bolinha, um colega fez xixi na minha cara. No dia seguinte, levei um cabo de aço pra escola e dei-lhe uma lambada no rosto que ficou marcado até hoje.
Depois, fiz o ginásio, também em Guaianases. Aí, já estudei em salas mistas. Mas não me lembro de nada. Tinha um amigo japonês, Luiz Akioshi Sonoda, que nasceu no mesmo dia e ano que eu. Quando recebemos o diploma do ginasial, a família dele me convidou para morar com eles em Amparo.
Pegava na enxada e era tratorista em uma plantação de batatas e tomates. Morávamos todos na mesma casa, na roça: nove filhos, cinco homens e quatro mulheres, os pais e eu. Todo mundo trabalhava na lavoura, até aos sábados, domingos e feriados.
Quando Akioshi e eu nos alistamos para fazer o Tiro de Guerra, trocaram a cor das nossas cútis no registro. Imagine um japonês preto. Logo percebemos o erro e voltamos para fazer a correção. Mas ambos fomos dispensados, pois morávamos na zona rural.
Nos fins de semana, íamos para a cidade dar voltas na avenida ou participávamos de campeonatos de futebol nas fazendas vizinhas. Sempre gostei de jogar bola. Cheguei a fazer uns três treinos com a Portuguesa de Serra Negra, mas tive que parar por causa da distância e do meu trabalho.
Um dia, escrevi uma carta para tia Sebastiana e ela respondeu, me convidando para conhecer Guaxupé. Cheguei aqui, gostei, e fui ficando. Akioshi e dois irmãos vieram me buscar, mas não quis voltar com eles. Disse que iria depois.
Ajudava meus tios na Funerária Pio Damião. Tia Sebastiana ensinou meu tio, Zé Francisco dos Santos (o Tigrão), a fazer caixões. Entre diversas funções, eu também fazia caixões e trocava a roupa dos defuntos.
Sociedade Recreativa Pio Damião
Havia os bailes da Sociedade Recreativa Pio Damião, que reunia a comunidade negra. Ficava na Rua Francisco Vieira do Valle, ao lado da casa dos meus tios. Era bom demais. Aos sábados, a gente limpava o salão de bailes, passava parafina no assoalho de madeira para os casais deslizarem na hora da dança.
Meu tio, Tigrão, não deixava ninguém dançar colado. A banda era exclusiva da Sociedade, formada por Dondico, Nenê Passarini, Geraldo Sapo, seo Alvarenga, Milico e Joaquim. No carnaval, aconteciam bailes, à noite, e matinês, à tarde. Eu era mais reservado, ia aos bailes, mas não participava dos desfiles da Escola de Samba Sociedade Recreativa Pio Damião. A bateria da escola ganhou muitos troféus. Em compensação, eu era um dos últimos a sair do salão.
A Sociedade Recreativa funcionava num sobrado. O salão de festas ficava no andar superior e, embaixo, a oficina da funerária. A loja ficava no térreo da casa em que morávamos. A gente fazia os caixões mais simples, de adultos e de crianças. Os mais sofisticados e caros vinham de Mococa, no trem da Mogiana. Pelo que me lembro, na época, a nossa era a única funerária da cidade.
Depois, fui trabalhar de motorista para seo Tonico Pereira, que vendia produtos de supermercado no atacado e varejo. Fazia entregas em Guaxupé e Guaranésia. Um dia, meu amigo Rolando, da Instaladora, me indicou para ser motorista da companhia telefônica. Chegando lá, pediram minha carteira de motorista, mas eu não tinha. Por este motivo, não fui contratado.
No dia seguinte, a banca examinadora do DETRAN veio a Guaxupé. Eu fiz o exame e passei. A carteira de motorista era amarela e grossa como um pastel.
Em 67, fiz um curso de datilografia, financiado por tia Sebastiana, na escola da Dona Isaura Russo, situada na Rua Pereira do Nascimento.
Na Sociedade Recreativa, fiz diversos amigos, Salete, Silvia, os irmãos Caetano, Elza, Hélia e Wilson, Elza Soares, Nenzo, Vítor Anjo, Paulo, Sérvolo e Zé Tobias, Orlandinho, Vicente e José Cruz, Cuíca, Dão, Mariinha, Toninho, Meia-noite, Mengálvio, Alexandre, Jair, entre outros.
Vira e mexe a turma se reunia para fazer piqueniques. Num desses encontros, em 68, no bairro Santa Cruz, comecei a namorar Vitalina Bonifácio (Talina). A gente já se conhecia por causa da Sociedade Recreativa.
Naquele mesmo ano, resolvi voltar para São Paulo em busca de novas oportunidades de trabalho. Um amigo me convidou para trabalhar na produção de uma metalúrgica. Em seguida, por indicação do Celso, outro amigo, fui contratado como auxiliar de escritório na Socrédito S/A, financeira do João Mellão. Depois, fui convidado para ser motorista de diretoria da CTB – Companhia Telefônica Brasileira e, pouco tempo depois, fui fazer o mesmo serviço, na CESP – Centrais Elétricas de São Paulo.
Vida de casado
Em 1971, casei-me com Talina. A festa aconteceu na Sociedade Recreativa. Dona Gena Monteiro decorou a igreja e o salão de festas, que ficou todo colorido, repleto de frutas cristalizadas, colhidas no pomar da casa dos meus sogros. Eles moravam na fazenda do Manoel Ferraz.
Fomos morar em São Bernardo do Campo, divisa com Diadema. Antes de viajar para Guaxupé, comprei mantimentos para receber minha esposa. Uma vizinha, Vilma, que ajeitou tudo no lugar certo. Uns dias após nossa chegada, meus sogros enviaram um caminhão de entregas com todos nossos presentes de casamento e mais mantimentos, incluindo um porco envolto em gordura. Ficamos seis meses sem fazer compras, fizemos uma grande economia.
Talina chorava muito, com saudades da família. Eu dizia sempre que um dia voltaríamos para Guaxupé. Nossa primogênita, Ana Paula, nasceu em abril de 1972; Alessandro, em novembro de 1973, e Tobias, o caçula, em março de 1977.
Aposentei-me na CESP, em 97. Alguns anos antes, comprei um terreno em Guaxupé e construímos a casa em que moramos, atualmente. Mas só nos mudamos para cá em 2006, após a aposentadoria da Talina. Nunca quis que minha esposa trabalhasse fora, mas acabei cedendo à vontade dela.
Compramos outro terreno, perto da nossa casa, onde planto árvores frutíferas. Em casa não pode faltar suco natural de frutas. No quintal, tenho criação de galinhas, patos, marrecos e construí dois poços onde cultivo peixes.
Ainda faço algumas viagens como motorista particular. Este ano, fui convidado para participar do Conselho Fiscal da APAE, escola que meu filho caçula freqüenta.
O que eu imaginava da vida, veio até um pouco mais. Desejo continuar com saúde, sempre, para ver os netos crescerem e, se possível, casarem. Atualmente, tenho três: Aline, 16, Rafaela, 11, e Lucas, de um aninho.
Toda vez que troco de carro, a primeira viagem é até Aparecida. Anualmente, Talina e eu assistimos a uma missa na basílica de lá. Em Guaxupé, todo domingo vamos à missa das 10h, na Catedral. Sou metódico, tenho que chegar antes de começar o ofício e sentar no lugar de costume, à direita, próximo ao coral.
Penso em, talvez, amanhã, fazer alguma coisa, mas não sei o quê. Mas sinto que vou conseguir.”
Fotos:
1) No casamento na Catedral, em 08.05.71, os padrinhos João, Maria, Toninho Costa Monteiro e Padre Hilário.
2) Em 1990, em Aparecida do Norte, Nelson, Talina, Tobias, Ana Paula e Alessandro.
3) Em março de 1988, pai e mãe, orgulhosos, na formatura do filho Alessandro.
4) Nelson e sua cachorra, Luz, no quintal de casa.
MINHA HISTÓRIA
Ao lado da família, Nelson Ramos Damião cultiva uma vida simples, com pomar, galinhas, patos e peixes.
Riqueza na vida simples
Nelson Ramos Damião nasceu no Itaim Bibi, em São Paulo, em 21.10.45, filho único de Tobias Damião e Odete Ramos Damião. Aos sessenta e cinco anos, Nelson sente como se tivesse vinte, ainda sobe em árvores. Diz que sua saúde física é impecável, em grande parte, devido à vida simples que leva, sem vícios, e ao contato diário com a natureza. Mantém um pomar e diversas criações com muito zelo: “A vida me deu mais do que esperava.”
“Mamãe morreu quando eu era pequeno, por volta dos meus três anos. Meu pai tinha o ofício de pedreiro. Ficava um pouco com ele, um pouco com minhas tias paternas, Rosária e Ermantina Inácio. O sobrenome Damião veio de um tio, Pio Damião, que trouxe papai e sua irmã, Sebastiana, ainda crianças, da casa de uns parentes, em Araxá.
Estudei no Grupo Escolar Pedro Tax, em Guaianases. Nesta época, morei com minhas tias. Como todo moleque, brincava, jogava peão e, às vezes, brigava por coisas de criança. Os meninos estudavam em salas separadas das meninas.
Na hora do recreio, jogava bolinha de gude. Uma vez, por causa de bolinha, um colega fez xixi na minha cara. No dia seguinte, levei um cabo de aço pra escola e dei-lhe uma lambada no rosto que ficou marcado até hoje.
Depois, fiz o ginásio, também em Guaianases. Aí, já estudei em salas mistas. Mas não me lembro de nada. Tinha um amigo japonês, Luiz Akioshi Sonoda, que nasceu no mesmo dia e ano que eu. Quando recebemos o diploma do ginasial, a família dele me convidou para morar com eles em Amparo.
Pegava na enxada e era tratorista em uma plantação de batatas e tomates. Morávamos todos na mesma casa, na roça: nove filhos, cinco homens e quatro mulheres, os pais e eu. Todo mundo trabalhava na lavoura, até aos sábados, domingos e feriados.
Quando Akioshi e eu nos alistamos para fazer o Tiro de Guerra, trocaram a cor das nossas cútis no registro. Imagine um japonês preto. Logo percebemos o erro e voltamos para fazer a correção. Mas ambos fomos dispensados, pois morávamos na zona rural.
Nos fins de semana, íamos para a cidade dar voltas na avenida ou participávamos de campeonatos de futebol nas fazendas vizinhas. Sempre gostei de jogar bola. Cheguei a fazer uns três treinos com a Portuguesa de Serra Negra, mas tive que parar por causa da distância e do meu trabalho.
Um dia, escrevi uma carta para tia Sebastiana e ela respondeu, me convidando para conhecer Guaxupé. Cheguei aqui, gostei, e fui ficando. Akioshi e dois irmãos vieram me buscar, mas não quis voltar com eles. Disse que iria depois.
Ajudava meus tios na Funerária Pio Damião. Tia Sebastiana ensinou meu tio, Zé Francisco dos Santos (o Tigrão), a fazer caixões. Entre diversas funções, eu também fazia caixões e trocava a roupa dos defuntos.
Sociedade Recreativa Pio Damião
Havia os bailes da Sociedade Recreativa Pio Damião, que reunia a comunidade negra. Ficava na Rua Francisco Vieira do Valle, ao lado da casa dos meus tios. Era bom demais. Aos sábados, a gente limpava o salão de bailes, passava parafina no assoalho de madeira para os casais deslizarem na hora da dança.
Meu tio, Tigrão, não deixava ninguém dançar colado. A banda era exclusiva da Sociedade, formada por Dondico, Nenê Passarini, Geraldo Sapo, seo Alvarenga, Milico e Joaquim. No carnaval, aconteciam bailes, à noite, e matinês, à tarde. Eu era mais reservado, ia aos bailes, mas não participava dos desfiles da Escola de Samba Sociedade Recreativa Pio Damião. A bateria da escola ganhou muitos troféus. Em compensação, eu era um dos últimos a sair do salão.
A Sociedade Recreativa funcionava num sobrado. O salão de festas ficava no andar superior e, embaixo, a oficina da funerária. A loja ficava no térreo da casa em que morávamos. A gente fazia os caixões mais simples, de adultos e de crianças. Os mais sofisticados e caros vinham de Mococa, no trem da Mogiana. Pelo que me lembro, na época, a nossa era a única funerária da cidade.
Depois, fui trabalhar de motorista para seo Tonico Pereira, que vendia produtos de supermercado no atacado e varejo. Fazia entregas em Guaxupé e Guaranésia. Um dia, meu amigo Rolando, da Instaladora, me indicou para ser motorista da companhia telefônica. Chegando lá, pediram minha carteira de motorista, mas eu não tinha. Por este motivo, não fui contratado.
No dia seguinte, a banca examinadora do DETRAN veio a Guaxupé. Eu fiz o exame e passei. A carteira de motorista era amarela e grossa como um pastel.
Em 67, fiz um curso de datilografia, financiado por tia Sebastiana, na escola da Dona Isaura Russo, situada na Rua Pereira do Nascimento.
Na Sociedade Recreativa, fiz diversos amigos, Salete, Silvia, os irmãos Caetano, Elza, Hélia e Wilson, Elza Soares, Nenzo, Vítor Anjo, Paulo, Sérvolo e Zé Tobias, Orlandinho, Vicente e José Cruz, Cuíca, Dão, Mariinha, Toninho, Meia-noite, Mengálvio, Alexandre, Jair, entre outros.
Vira e mexe a turma se reunia para fazer piqueniques. Num desses encontros, em 68, no bairro Santa Cruz, comecei a namorar Vitalina Bonifácio (Talina). A gente já se conhecia por causa da Sociedade Recreativa.
Naquele mesmo ano, resolvi voltar para São Paulo em busca de novas oportunidades de trabalho. Um amigo me convidou para trabalhar na produção de uma metalúrgica. Em seguida, por indicação do Celso, outro amigo, fui contratado como auxiliar de escritório na Socrédito S/A, financeira do João Mellão. Depois, fui convidado para ser motorista de diretoria da CTB – Companhia Telefônica Brasileira e, pouco tempo depois, fui fazer o mesmo serviço, na CESP – Centrais Elétricas de São Paulo.
Vida de casado
Em 1971, casei-me com Talina. A festa aconteceu na Sociedade Recreativa. Dona Gena Monteiro decorou a igreja e o salão de festas, que ficou todo colorido, repleto de frutas cristalizadas, colhidas no pomar da casa dos meus sogros. Eles moravam na fazenda do Manoel Ferraz.
Fomos morar em São Bernardo do Campo, divisa com Diadema. Antes de viajar para Guaxupé, comprei mantimentos para receber minha esposa. Uma vizinha, Vilma, que ajeitou tudo no lugar certo. Uns dias após nossa chegada, meus sogros enviaram um caminhão de entregas com todos nossos presentes de casamento e mais mantimentos, incluindo um porco envolto em gordura. Ficamos seis meses sem fazer compras, fizemos uma grande economia.
Talina chorava muito, com saudades da família. Eu dizia sempre que um dia voltaríamos para Guaxupé. Nossa primogênita, Ana Paula, nasceu em abril de 1972; Alessandro, em novembro de 1973, e Tobias, o caçula, em março de 1977.
Aposentei-me na CESP, em 97. Alguns anos antes, comprei um terreno em Guaxupé e construímos a casa em que moramos, atualmente. Mas só nos mudamos para cá em 2006, após a aposentadoria da Talina. Nunca quis que minha esposa trabalhasse fora, mas acabei cedendo à vontade dela.
Compramos outro terreno, perto da nossa casa, onde planto árvores frutíferas. Em casa não pode faltar suco natural de frutas. No quintal, tenho criação de galinhas, patos, marrecos e construí dois poços onde cultivo peixes.
Ainda faço algumas viagens como motorista particular. Este ano, fui convidado para participar do Conselho Fiscal da APAE, escola que meu filho caçula freqüenta.
O que eu imaginava da vida, veio até um pouco mais. Desejo continuar com saúde, sempre, para ver os netos crescerem e, se possível, casarem. Atualmente, tenho três: Aline, 16, Rafaela, 11, e Lucas, de um aninho.
Toda vez que troco de carro, a primeira viagem é até Aparecida. Anualmente, Talina e eu assistimos a uma missa na basílica de lá. Em Guaxupé, todo domingo vamos à missa das 10h, na Catedral. Sou metódico, tenho que chegar antes de começar o ofício e sentar no lugar de costume, à direita, próximo ao coral.
Penso em, talvez, amanhã, fazer alguma coisa, mas não sei o quê. Mas sinto que vou conseguir.”
Fotos:
1) No casamento na Catedral, em 08.05.71, os padrinhos João, Maria, Toninho Costa Monteiro e Padre Hilário.
2) Em 1990, em Aparecida do Norte, Nelson, Talina, Tobias, Ana Paula e Alessandro.
3) Em março de 1988, pai e mãe, orgulhosos, na formatura do filho Alessandro.
4) Nelson e sua cachorra, Luz, no quintal de casa.
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