almas mineiras

MINHA HISTÓRIA
No final, com a palavra, Carmen Lúcia Calicchio Gonçalves.


Neste momento, não tenho como descrever o legado deixado pela Caravana Digital e Expedição Lunar, projetos que aconteceram em Guaxupé, de 24 a 28.05. Como jornalista e fotógrafa, colaborei na produção local bem como na reportagem fotográfica. A Associação AC Viralatas do Samba foi uma das parceiras na realização do Caravana, cedendo o espaço da Casa da Vó Maria para realização da Oficina Leituras Dramáticas, com o Grupo Kabana, e encontro de encerramento das atividades, no sábado. Tudo foi tão corrido e intenso que não fotografei a festa. Rodolfo Bonifácio desempenhou esta função com a câmera nova do 14 Bis, mas não tenho as fotos para publicá-las, agora. Foi tudo muito enriquecedor. Principalmente, conhecer pessoas e ter a oportunidade de fazer novas amizades e ampliar horizontes. Concordo com o vereador Mauri Palos, um grande "fazedô" de contatos: "Acredito que a cultura é a alma de uma comunidade e que ela transforma, sim. Mas não sinto que a mudança seja lenta, até pelo contrário, manifestações artísticas são capazes de mudar um indivíduo em poucos instantes. Sorte daqueles que percebem isso a tempo."

Posso afirmar que sou uma pessoa diferente, hoje, por causa dos contatos que fiz e dos conhecimentos apreendidos. Neste momento, o frio me deixa mais introspectiva, sem muita vontade de falar. Marquinhos, do Caravana Digital, numa conversa informal, disse que os guaxupeanos têm sotaque paulista. Marcelo Souza, da Luna Lunera, falou que os encontros não são casuais. Juntando tudo, essa semana proporcionou uma aproximação com a arte desenvolvida por grandes artistas e gestores culturais de Minas. Se nosso sotaque continua paulista, minha alma e meu coração ficou muito mais mineiro.

Agradeço ao Cássio, a Irlene e ao Claudinei, do CIEG, pela colaboração na realização do Cine Caravana, na Praça da Santa Cruz, dia 26. Agradecimentos especiais ao João Carlos dos Santos, que divulgou o evento nas escolas da região. "Pela primeira vez acontece uma exibição de filmes na praça", diz João, ressaltando a importância dessa iniciativa.

João Carlos divulgou o Cine Caravana nas escolas da região.

Voltarei para escrever uma postagem exclusiva sobre a Expedição Lunar, da Luna Lunera, e a Caravana Digital, porque ambas merecem destaque.


Paixão pela Política

Carmen Lúcia Calicchio Gonçalves nasceu em 25.05.39, segunda filha de Sálvio Calicchio e Jessi Luíza Ribeiro Calicchio. Ela e os cinco irmãos, Luiz Vicente, Luíza Helena, Ianê Maria, Ligia Maria e Regina Maris, nasceram pelas mãos da parteira Piedade. Carmen exibe diversas características do signo de Gêmeos, é inteligente, versátil e comunicativa. Qualidades essenciais na política, uma das suas paixões, herança do pai, Prefeito de Guaxupé, de 1954 a 1957. Ela não esconde seu amor pela cidade, talvez, o maior combustível para tantas atividades em favor da terra natal. Na sua história, Carmen revela ser uma mulher à frente do seu tempo.

“Quando nasci, meu pai tinha um empório de secos e molhados na região do balaústre. Nos fundos do empório ficava a oficina do meu avô paterno, Vicente. Os únicos avôs que conheci foram os paternos, mamãe perdeu os pais muito cedo. Ela dava aulas no Grupo Barão de Guaxupé, todos a chamavam de Luizinha.
Meus primos e eu, a maioria morava no mesmo quarteirão, tínhamos um espaço muito grande para brincar. A gente subia e descia a escada da estação de trem com a mala da nossa avó, Carolina, como quem vai e volta de viagem. Ficávamos à vontade e empoeirados na rua de terra, naquele tempo não havia carros na cidade.
Aos sete anos, viajava de trem com meu pai para São Paulo. Nessa época, nos mudamos para o centro da cidade, num prédio de dois andares construído por ele. Em cima, ficava nossa casa, embaixo, uma agência da Caixa Econômica. Em 1946, estudei no Grupo Barão, com dona Nilva Pinto. Em seguida, fui para o Colégio Imaculada Conceição, onde fiquei até o 1º Normal.
Quando acordava atrasada para ir à escola, cortava caminho pela trilha que começava na rua Dr. João Carlos esquina com a rua Major Anacleto. Ali, tudo era brejo, havia um caminho de tábuas pra gente pisar sem molhar os pés. Dei muito trabalho às freiras. Eu era educada, não respondia, mas não obedecia se discordasse de alguma ordem.
Uma vez, eu e as colegas do 1º Normal, Nádia, Munira, Ivone, Joarda, Carlota, Daísa, Marieta, recebemos três dias de suspensão. Fomos com as freiras para Muzambinho e elas nos deixaram no centro da cidade, com a obrigação de arrecadar dinheiro para as missões da igreja. Encontramos uma turma de rapazes que abriu o clube local e colocou discos pra gente dançar. Dançamos a tarde inteira, foi difícil nos tirar de lá.
Aos quinze anos, fui eleita rainha do Tiro de Guerra. Lázara Padilha, Meire Furlan, Maria Luíza Celani, Glória Casarejos e Sônia Elias foram as princesas. Ganhei um concurso, o primeiro da história da instituição, juntando o maior número de doações em dinheiro para ajudar na construção da sede própria do TG, que, antes, funcionava num local cedido pela prefeitura, na Avenida Conde Ribeiro do Valle com a Rua Aparecida. Organizamos junto com os atiradores vários eventos beneficentes com esta finalidade.
As princesas e as rainhas também desfilavam nas datas cívicas. Como elas moravam no lado oposto da minha casa, eu tinha vergonha de caminhar sozinha de uniforme até o TG. Então, Zé Dallora, um atirador muito gentil, passava em casa para me acompanhar.

Comércio e casamento
Não queria ser normalista, queria estudar na Academia de Comércio São José, mas meu pai não deixou. Em 1955, fui para a Universidade Rural do Rio de Janeiro, onde fiz o curso de Economia Doméstica, junto com Dolores Araújo e Wilma Aparecida Faria. Após nossa formatura, voltaríamos para trabalhar na Escola Federal de Economia Doméstica que seria implantada em nosso município.
Quando visitava minha família, ia e voltava de trem. Levava uma calça na mala que vestia durante a viagem. Aqui, não era meu costume usar calças compridas. Eu morava no alojamento feminino do centro universitário. Era uma escola de 1º mundo, tinha sala de cinema no prédio principal. Tive aulas de Puericultura, aprendi até a fazer parto. O curso de Economia Doméstica nos preparava para trabalhar com as mulheres das colônias rurais.
Em 1958, voltei para Guaxupé. Uma das minhas colegas foi para São Paulo, a outra, para Belo Horizonte. Papai não me deixou trabalhar na Escola de Economia Doméstica, para não tirar o lugar de quem já trabalhava lá. Fui com ele para a S Calicchio, serralheria e fábrica de fogões. Realizei meu sonho de trabalhar no comércio. Mas fiquei somente dois anos, parei porque me casei, em 1960.
Comecei a namorar Arthur Gonçalves num footing na avenida, em 1953. A gente já se conhecia, pois ele era colega do Luiz, meu irmão. Chegamos a ficar separados três anos, mas, no final, noivamos e nos casamos. Tivemos quatro filhos, um a cada dois anos: Isaura Luíza, Cristina Lúcia, Artur Filho e Carmen Silvia.
Nos primeiros anos de casada, fiquei em casa, cuidando da família. Em 1965, passei a dar aulas de corte e costura na Escola Doméstica, onde fiquei por sete anos, até o fechamento da escola. Tinha uma boa empregada para me ajudar com as crianças. Minha mãe também me ajudou muito.
Em 1966, abri uma loja de bombons da Copenhagen, a Carmen Bomboniere, num cômodo na rua do atual cinema, próxima à avenida. Meu sonho era ter um comércio de doces. Vendia muito sorvete da Kibon e ainda montava tortas de sorvetes, com doce de abacaxi e bolachas champagne. Inventava bolos gelados para aniversários.
Junto com Nadima Mussi, dei vários cursos sobre como fazer tortas. Aliás, aprendi a fazer tortas com ela, quando eu tinha doze anos. Mamãe, também, era uma doceira de mão cheia. Fiz muitos bolos de casamento. Na época, apenas Arlete Simone e eu fazíamos bolos decorados para essas ocasiões. Cheguei a copiar uma toalha de renda irlandesa num bolo de casamento.
Na loja, ganhei dinheiro vendendo cigarros para as mulheres, tinha freguesas que só compravam de mim. Para não perder os chocolates, por causa do calor ou umidade, só fechava na Sexta-feira da Paixão. Acabou ficando muito cansativo para mim, por este motivo, passei o ponto para Vicentina, minha prima.
Quando parei, também, de lecionar fiquei um tempo cuidando de casa. Nessa época, eu participava de uma equipe de casais da igreja. Meu marido e eu dávamos cursos para noivos na Catedral.

A política no sangue
Comecei um trabalho social no bairro Santa Cruz, junto com Padre Olavo. Atrás da igreja funcionava o Clube de Mães do bairro, onde dávamos orientações de higiene, aulas de tricô e crochê, com a participação de um grupo de senhoras voluntárias. A gente tinha uma loja de roupas usadas que ajudava a manter o clube.
Dr. Fernando Coelho dava atendimento ambulatorial no bairro. Naquele tempo havia muita miséria por lá. Eu levava meus filhos para brincar com as crianças. Eles aprenderam, de forma natural, a dar valor em tudo que tinham de bom.
O Lions, clube do qual eu também fazia parte desde sua fundação em Guaxupé, levou para a Santa Cruz a primeira bica de água encanada. Ganhamos da LBA oito tanques para lavar roupas. Antes, as mulheres as lavavam no córrego da região. A convite do Padre Olavo, assumi a presidência do CEAS – Centro de Estudo e Ação Social. Fiquei com ele mais de vinte anos fazendo trabalhos sociais.
Em 1978, meu irmão, Luiz, se candidatou a deputado estadual. No início da campanha, ele sofreu um acidente de carro que o deixou de cama por sete meses. Papai e eu assumimos a campanha. Trabalhamos com 32 cidades de Minas. Fizemos amigos e conseguimos que ele fosse eleito usando apenas agenda e telefone.
Sempre tive inclinação para a política. Nas eleições presidenciais de 1955, eu me encantei com Juarez Távora, candidato pela UDN. Os outros dois eram Juscelino Kubitschek e Adhemar de Barros. Todos eles vieram a Guaxupé durante a campanha. Papai era do PSD, partido do Juscelino. Ele pediu para eu não me envolver.
Mas quando Juarez Távora chegou à cidade, Carlota Theresa e eu matamos aula do colégio, pegando carona na Jovita do seo Antônio Gabriel até o aeroporto. Fiquei escondida do meu pai até a chegada do avião. Pelo protocolo, o presidente do partido, que era seo Jamil Nasser, deveria recepcionar o candidato e, em seguida, fazer as apresentações das lideranças locais. Eu me antecipei e agarrei na mão do seo Jamil. Ele me levou até o candidato, me apresentando como filha do prefeito e fã. Como prêmio pela minha ousadia, ganhei uma foto especial do candidato, que guardo até hoje.
Depois, cadê coragem para eu almoçar em casa e enfrentar meu pai? Para minha surpresa, ele não me deixou de castigo, dando, ainda, permissão para eu trabalhar na campanha do meu candidato. Era ou não era pra eu ser fã do meu pai? Ele me ensinou a conquistar as coisas por mim mesma. Meu candidato perdeu, mas me senti vitoriosa.

Voluntária social
A partir de então, sempre participei de campanhas políticas, de uma forma ou de outra. Trabalhei nas três campanhas do meu irmão, nas duas do meu cunhado, Heber, em uma do Abrão e outra do Tadeu. Penso assim, se eu for útil, estou lá.
Há 27 anos, como voluntária, fui coordenadora da instalação da Cemig em Guaxupé e outros dez municípios. Anteriormente, era a Cia. Bragantina, eu tinha vontade de chorar, meu sonho era ver a cidade bem iluminada.
Em 1990, seo Expedito de Souza me convidou para fazer parte da sua diretoria na Acig. Fui a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora da associação. Levei Edna Ribeiro comigo. Meu pai sempre me aconselhou a ter uma meta a cumprir, em determinada instituição, e ficar somente o tempo necessário para cumpri-la. Minha meta foi trazer para a cidade o Senac – Serviço Nacional do Comércio.
Por intermédio do Dr. Albertinho, convidamos o presidente nacional do Senac, Renato Rossi, para patrono da Festa das Orquídeas. Sempre pensei um pouquinho mais à frente, não queria que a cidade tivesse um elefante branco. Participei das negociações para trazer, em primeiro lugar, os cursos profissionalizantes. Inicialmente, o Senac funcionou num galpão inativo da Escola Profissional. Foi a 1ª experiência desse tipo em Minas. Somente anos depois, com o sucesso do projeto, foi construído um prédio nos padrões do Senac. É preciso começar de baixo pra cima e não o contrário, senão a gente cai.
Sou uma das fundadoras do PSDB em Guaxupé, anteriormente, fui filiada ao PFL. Estou a mais de cinquenta anos na política e não tenho inimigos. Minha cabeça política é: Se for para o bem da cidade, vamos juntos. Faço parte da irmandade da Santa Casa de Misericórdia. Meu marido faleceu em julho do ano passado, dois meses antes da nossa boda de ouro. Não adianta lamentar, a vida é assim.”
Atualmente, Carmen está mais sossegada, adaptando-se à nova vida sem o marido. A janela do apartamento onde mora descortina um pequeno pedaço da cidade que tanto ama. Observando a paisagem, sonha com novas realizações.

Fotos:
1) Casamento com Arthur, em 08 de setembro de 1960.
2) Arthur e Carmen, na década de 70.
3) As irmãs Carmen, Ligia e Regina com a mãe, Luizinha.
4) Os avós, Carmen e Arthur, os filhos, a nora Valéria, na época casada com Arturzinho, os genros Ricardo, Edvaldo e Beto, e os sete netos: Maria Paula, Maria Lúcia, Maria Carolina, Maria Eduarda, Maria Júlia, Ricardo e Luiz Felipe.


Apoio cultural:

Comentários

Valéria disse…
Adorei a matéria, parabéns!!
Essa mulher, Carmen Calicchio realmente é um exemplo de mulher.
Mesmo estando distante meu amor por ela e por esta familia - que é a familia das minhas filhas - continua o mesmo!!
Vale ressaltar com toda delicadeza, que Faltou só citar o meu nome na foto em que estão os filhos, genros e netos. Sou a Valéria, mãe da Maria Carolina e da Maria Eduarda, na época da foto eu ainda estava na familia casada com o pai das meninas o Arturzinho.(contra fatos e histórias não há argumentos)
abs a todos
aoompanho sempre o trabalho de vcs!!
Valéria Alves Ferreira
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Sigam me tb!! rsrs
bisteca disse…
Oi, Valéria.
Desculpe a falha, seu nome já está incluído na legenda da foto.
abç
Sheila

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