um guaxupeano eminente
Luiz Vicente Ribeiro Calicchio nasceu em 13.03.37, o primogênito de Sálvio Calicchio e Jessi Luíza Ribeiro Calicchio. Irmão de Carmen Lúcia, Luíza Helena, Ianê Maria, Ligia Maria e Regina Maris. Guaxupeano eminente, Luiz Vicente foi deputado estadual por três mandatos consecutivos. Sua aptidão para a política e à convivência democrática conquistou a simpatia de Tancredo Neves, mesmo sendo ambos de partidos adversários. A leitura constante e os discursos nos tempos de escola fizeram dele um hábil orador. Este dom natural foi estimulado desde os tempos de criança pela mãe, de quem sempre ganhava um livro de presente. Atualmente, Luiz tem uma biblioteca com 1.500 volumes. Apesar de as datas não serem seu forte, suas lembranças são nítidas e seus relatos, pormenorizados.
“Morava defronte à escadaria da antiga Mogiana, na rua dos balaústres. A maioria dos funcionários da ferroviária também morava por ali. Toda tarde, meus avôs se sentavam na varanda e, na volta do serviço, foguistas, maquinistas, telegrafistas, entre outros funcionários da ferrovia paravam para conversar com eles, perguntando sobre as novidades. O empório do seo Joaquim Brazão, perto de casa, era outro ponto de encontro desse pessoal.
Meu pai tinha um empório, anexo à nossa casa, chamado Casa do Operário. Nos fundos, havia a oficina onde meu avô Vicente fabricava fogões da marca Fogão Mineiro. Desde os três anos, quando comecei a me entender por gente, andava agarrado com ele, que conversava comigo em italiano e, assim, aprendi este idioma.
Minha avó Carolina era analfabeta, falava numa língua que era verdadeiro patuá, mistura de português, espanhol, francês e italiano, por causa dos lugares em que morou desde que emigrou da Itália com a família, antes de chegar ao Brasil. Ela ajudava meu pai, quando solteiro, a tomar conta do empório, não errava as contas de jeito nenhum.
O primeiro fogão feito por meu avô foi para minha avó que, posteriormente, com o consentimento dela, foi vendido para o Conde (Joaquim Augusto) Ribeiro do Valle. Uma grande obra do meu avô, como funileiro, foi a cúpula do antigo fórum.
Ele trabalhou, também, como cozinheiro durante a viagem de navio da Itália para o Brasil. Sempre gostou de cozinhar, me botava ao lado dele enquanto preparava as comidas. Eu tinha um apelido, Suca, por causa de um penteado chamado xuca que mamãe fazia no meu cabelo. Italiano não pronuncia ‘xis’, daí o apelido, com ‘s’.
Minha rua era de terra, mas movimentada. Em cima do telhado da minha casa ficava um megafone de um serviço de alto-falante. Os namorados faziam footing na balaustrada, ouvindo as músicas dos discos que meu tio Alfredo comprava em São Paulo.
Eu jogava bolinha de gude, triângulo e peão com a molecada. Fui alfabetizado aos cinco anos por tia Nirvana, irmã mais nova da minha mãe, e já lia as histórias em quadrinhos da Revista Tico-tico. Em 1944, entrei no Grupo Barão de Guaxupé. Minha professora do 1º ano foi dona Nilva Pinto; do 2º, dona Olga Mancini, e, do 3º e 4º, dona Maria Antônia Couto, pelas quais eu tinha grande estima.
Ficou marcada na minha memória a euforia do povo na festa da vitória, em 1945, no final da 2ª Guerra Mundial, e a imagem de um carro alegórico com um V imenso. Em 1946, nos mudamos para a avenida, na esquina com a Dr. João Carlos, onde passava um corgo que ia até a rodoviária antiga.
Em 1950, assisti às obras de canalização deste córrego e o da Rua Major Anacleto. Major Anacleto de Rezende, meu tio-avô, foi farmacêutico; ele construiu o prédio onde, no térreo, ficava a farmácia e, no andar superior, sua residência. Neste prédio, depois, funcionou o Grupo Barão, onde estudei.
Minha mãe teve uma grande influência na minha vida cultural, ela me presenteava com muitos livros. Começou com a coleção Tesouros da Juventude. Ainda, eu juntava e vendia jornais velhos para seo Faria. Com a renda, comprava livros na Livraria Avenida, do seo Artur Araújo, onde depois foi a loja Dois Irmãos, do Tufi e Alfredo Sayeg.
Aluno exemplar
Fiz os quatro anos do ginasial no Colégio São Luiz Gonzaga. Como não havia Científico na cidade, em 1952, fui morar no internato do Liceu Salesiano Nossa Sra. Auxiliadora, em Campinas, onde estudei durante dois anos, por opção minha.
O regime militar imposto pelos padres influenciou muito na minha formação, um estudante batia continência para o outro. Havia oitocentos alunos de todas as partes do Brasil. Meus amigos da família Furlan, Carlito, Hugo e Chiquinho, também estudaram nessa escola.
Mais experientes que eu, eles me aconselharam a participar da fanfarra do liceu, pois oferecia algumas vantagens. Como não quis tocar tambor, tive que carregar a bandeira paulista nos desfiles cívicos, como tenente, por causa da minha altura. Eu era bom aluno para fazer parte do corpo da guarda.
No 2º ano, fui tenente-coronel, posto mais alto do batalhão colegial, que desfilava em todas as efemérides. Sempre que o padre-diretor saía para algum evento, ele convidava dois alunos para acompanhá-lo, geralmente, o tenente-coronel era um deles. Ficava até meia-noite nas festas, comendo e bebendo.
As correspondências dos alunos, que entravam e saíam da escola, eram fiscalizadas. As minhas cartas, até mesmo da namorada, os padres não abriam. Eu também era ator do grupo de teatro e escrevia artigos para o jornal estudantil. Gostava muito de esportes, como tinha 1,82 metros, joguei na liga de vôlei contra a Ponte Preta, Guarani e outros times.
Em seguida, fui para o Colégio Culto à Ciência, em São Paulo, perto do Largo do Arouche. Morava numa pensão na Av. Angélica e, também, fazia o Curso Brigadeiro, para o vestibular de Medicina. Aí, um professor de Português ressaltou que minha vocação era ser advogado. Ele dizia que eu tinha jeito para política, por causa dos meus discursos costumeiros.
Faculdade e casamento
Nas férias, vinha para Guaxupé, na jardineira da Nasser ou, mais amiúde, de trem. Quando terminei o Científico, em 1954, prestei vestibular para Direito, na PUC Minas. Escolhi BH porque meu pai, eleito Prefeito de Guaxupé, precisava de mim para representá-lo na capital.
O vestibular foi apertado, passou pouca gente. Foi a menor turma da Católica, com apenas 24 alunos. Por este motivo, todos tiveram muita intimidade com os professores, Pedro Aleixo, Milton Campos, Franzen de Lima, entre outros.
Além do currículo normal de Direito, havia duas cadeiras complementares: Filosofia e Teologia. Uma vez me falaram que um bom advogado precisava saber matemática, que eu odiava. Então, optei por me aprofundar em Filosofia, lógica pura, não aplicada. Quando prestei vestibular já namorava Zélia Ribeiro Leão. Nos conhecemos em 1954, em um baile no Clube Guaxupé, durante um congraçamento médico. Fui ao baile atrás de uma dançarina de flamenco chamada Nélia, que parecia uma espanhola. Aconteceu que ela estava muito requisitada, bajulada por todos os médicos, era o arroz da festa. Eu mesmo consegui dançar com ela só uma vez.
Dr. Arthur Leão achando o ambiente do baile propício, resolveu buscar a filha dele, de 15 anos, que estava em casa. Zélia foi contrariada porque não sabia dançar. Pisou no meu pé até cansar. Entre namoro e noivado foram oito anos. Nosso meio de comunicação foram cartas, que trocávamos semanalmente. Ficamos noivos quando eu estava no 5º ano da faculdade.
Cangaceiro Severino
Em BH, morei na “república dos dez honestos” (risos), entre eles, vários guaxupeanos que se tornaram renomados, como Nickson Russo, Sylvio Ribeiro do Valle, Nicolau Balbino, Antônio Costa Monteiro Jr. e Fábio Costa Monteiro.
A reunião da nossa turma, para jantar no restaurante Califórnia, era chamada de Night’s operation. Quinzé, outro guaxupeano, redigia no jornal O Debate a coluna social da Lady Francisco, muito badalada na época. Ele sempre publicava notícias fantasiosas sobre estes nossos encontros. A gente acontecia na society da capital.
Fiz estágio no escritório do advogado Antônio Ribeiro Romanelli, um grande amigo que participava de um grupo de teatro amador. Ele me convidou para atuar na peça o Auto da Compadecida, do Ariano Suassuna, com direção do João Etienne Filho. Fui o cangaceiro Severino do Aracaju, com sotaque nordestino e tudo. Pra ficar pardo precisei usar muito panqueique. Fiz muitas amizades no meio artístico.
Por causa dessa minha experiência, nos dois últimos anos de faculdade, me convidaram para ser presidente do teatro da Católica, que andava às moscas. Fiz o teatro funcionar. Nessa época, passei a entender todo o processo de montagem de uma peça teatral.
Também estudava na Cultura Francesa. Meu professor, monsieur Vincent, me convidou para dirigir uma peça de teatro de arena, Joana Darc Entre as Chamas, de Jean Paul Claudel, com as internas do Colégio Santa Maria, das freiras dominicanas.
O elenco já estava determinado, o figurino pronto e tudo uma bagunça. Foi um grande desafio, pois as atrizes eram amadoras e teriam, ainda, que fazer papéis masculinos, num evento para o bispo e a fina flor da sociedade mineira. Foi complicação de todo o jeito, mas, no final, deu tudo certo.
Desde o 2º ano eu participava da Juventude Universitária Católica – JUC, mas aquilo não me convencia. Foi então que padre Luiz Viegas me encaminhou para a Juventude Operária Católica - JOC, para lecionar no curso noturno de líderes comunitários de favelas. Ali me senti útil dando aulas de cultura geral, onde fiquei de 1958 a 1960, ano da minha formatura. Em 1958, também fui presidente do Diretório Acadêmico da PUC.
Promotor de Justiça
Voltei para Guaxupé, recém-formado. Dr. Arthur, um grande advogado, foi um exemplo para mim. Zélia brincava que eu namorava mais o pai do que ela. Prestei concurso para promotor de justiça e passei. Tomei posse como promotor substituto em Carmo do Rio Claro. Quando vagou o cargo na promotoria de Alpinópolis, antiga Ventania, passei a atender as duas comarcas. Também dei aulas de História no Colégio Monfort, em Carmo do Rio Claro.
Alpinópolis era sede da obra de Furnas, com 46.000 operários. Todas as ações trabalhistas e acidentes de trabalho ficavam a cargo do promotor, quase morri de tanto trabalhar, das oito da manhã até de madrugada. Nessa fase, até 1964, a experiência na JOC me valeu muito.
A firma inglesa, uma das integrantes do consórcio para construção de Furnas, criou um gueto inglês em Alpinópolis. Durante os quatro anos que ficaram na obra não se dignaram a aprender o português. O lado positivo foi que nossos operários aprenderam o idioma deles. Era uma luta constante contra essa empresa. Acabei tirando licença-médica por estresse e problemas no estômago.
Nesse ínterim, havia me casado com Zélia, em 8.7.1962, na Catedral de Guaxupé, e nos mudamos para Alpinópolis. Nossa primogênita, Rúbria, nasceu em 1963. Com o passar dos anos vieram os outros cinco, Andréa, Sálvio Neto, Luiz Filho, Lucas e Raquel, todos guaxupeanos.
Em 1965, fui promovido por merecimento para a comarca de Jacuí, onde lecionei História, como voluntário, no Colégio Estadual. Meu primeiro carro foi um Gordini 64, que papai ganhou no bingo, em meu nome. Toda semana viajava para Guaxupé onde dava aulas de Iniciação Filosófica na faculdade, sexta à noite e sábado de manhã. Foi assim durante quatro anos.
Em seguida, fui promovido para o Ministério Público de Uberaba, onde fiquei dois anos. Também dei aula de Direito Penal na faculdade de Uberaba. O estado pagava mal e atrasado, ganhava mais como professor. Um dia, na iminência de o tribunal liberar um sujeito que não devia, disse a um colega que se o tal réu fosse liberado, eu pediria exoneração do cargo. E assim foi, saí no meio de uma audiência.
De volta a Guaxupé
No início dos anos 70, minha família e eu viemos morar na rua da porteira, em Guaxupé. Meu pai tinha a S. Calicchio, uma grande loja de materiais para construção. Ele me deu as chaves dessa loja, saiu de férias e se aposentou. Dividi a firma em sociedade por cotas entre minhas irmãs. Os empregados também passaram a ter participação nas vendas. Preparei a informatização da empresa.
No fim da semana, voltei a lecionar na faculdade. Em 1971, João Marques de Vasconcelos foi para a assembleia de Minas, como deputado estadual, e Marcos Noronha ficou no lugar dele, como diretor da faculdade. Como ele não entendia nada de administração, me convidou para ser seu vice. Aí, eu deixei de dar aulas.
No mesmo ano, Walmor Russo foi candidato a prefeito. Eu coordenei a campanha eleitoral dele contra Benedito Felippe da Silva. Ganhamos a eleição. Em 74, montei a Guavema em sociedade com Expedito de Souza. Ganhamos um prêmio nacional de vendas de carros, por causa desse prêmio rebentei no Japão.
A pedido do Sylvio, na época diretor da Santa Casa, escrevi um novo estatuto para a instituição, dando a ela o caráter de fundação, com a figura de um provedor leigo e de um diretor médico. Também colaborei com Walmor na renovação de normas e leis municipais. Na sua gestão como prefeito, ele comprou o prédio do Banco do Brasil para ser a nova sede da Prefeitura.
Walmor me convidou para presidir o Conselho Municipal de Desenvolvimento. Participaram como conselheiros: Zé Mauer, Expedito, Deoti, Duti, entre outros. O Conselho se empenhou em trazer novas empresas para o município. Descobrimos que tínhamos um grave problema com energia elétrica.
Duti e eu rodamos de jipe mais de vinte prefeituras buscando apoio para a fundação de uma associação que reunisse todos os municípios da região. Conseguimos adesão de dezessete e fundamos a AMOG. Walmor foi eleito seu primeiro presidente.
Com a criação da AMOG, a Fundação João Pinheiro fez um grande mapeamento da região, detectando características comuns entre os municípios. Ficou comprovado que o maior problema de todos era, realmente, a luz. Começamos uma batalha para substituir a Cia. Bragantina, responsável pela energia elétrica da região.
Fui presidente da ACIG, em 1977, após a gestão do Lécio Brocchi. Também reformulei o estatuto da associação, que era muito antigo. Na minha gestão, a associação passou a oferecer cursos para formação de mão de obra qualificada no comércio.
O jubileu das Orquídeas
Durante as festas das orquídeas, várias misses e políticos de Minas Gerais se hospedaram na casa dos meus pais. Eu fiz amizade com todos os orquidófilos. Fui convidado para uma reunião no Clube Guaxupé para organização do jubileu de prata das Orquídeas. Em seguida, fui comer um lanche no boteco do Kutiúla, onde Dr. Albertinho me encontrou e pediu que eu fosse presidente da comissão da festa.
Naquela noite, mesmo, procurei Severo Silva para me ajudar a fazer uma semana de festa. Consegui apoio financeiro de várias empresas. Trouxemos muitas atrações, como Chacrinha, Fafá de Belém, Noite Ilustrada e Jamelão. Teve bailes no Clube Guaxupé, Clube Operário e Pio Damião.
Em frente ao clube, montamos uma quermesse sob as árvores e, em frente à prefeitura, um tablado para as apresentações artísticas. Organizamos rodas de viola para valorizar os artistas locais, com ajuda do Elias José, Tião Rezende e outros. A Rádio Clube foi contratada para apresentar os shows. Minha proposta foi fazer uma festa popular, não para poucos como era costume.
A faculdade passou por uma fase crítica. Para atender as exigências do MEC, tivemos que caçar livros em sebos e com o auxílio da bibliotecária Nequinha (Vilma Bertoni) formamos uma nova biblioteca. Conseguimos reconhecimento dos cursos de licenciatura plena da Fafig e Faceg.
Nessa época, criamos o Colégio Dom Inácio para ser uma escola experimental, onde os recém-formados da faculdade pudessem lecionar. Quando Marcos Noronha foi para Belo Horizonte, ocupei o lugar dele, e Toninho Costa Monteiro ficou de vice.
Deputado Calicchio
Certa noite, João Marques foi à minha casa, na rua da porteira. Contou-me que seria convidado para um cargo elevado do Estado. Se assim fosse, pediu que eu saísse candidato a deputado. Passou a madrugada me convencendo. No fim, mais por cansaço que persuasão, acabei concordando.
Eu estava construindo a casa dos meus sonhos, em frente à chácara do meu pai. Achei que ficaria sossegado. Ao perceber minha dúvida, meu pai me perguntou o que o João tanto queria comigo, e eu contei. Ele me lembrou que cavalo arreado passa na porta de casa só uma vez, e se propôs a me ajudar, me estimulando a aceitar.
João tornou-se vice-governador de Minas. Eu saí candidato pela ARENA, nas eleições de 1978. Rodei a região toda, ampliando o quadro eleitoral que ele havia formado, pois eu já conhecia a maioria dos prefeitos. Há sessenta dias da eleição, enquanto trocava um pneu do carro, fui atropelado entre Itamogi e Monte Santo de Minas.
Fui levado ao hospital de Monte Santo e, depois, transferido por Sylvio, meu compadre, para o Hospital São Francisco, em Ribeirão. Fiquei hospitalizado 65 dias, ganhei a eleição na cama. Minha recuperação durou dois anos, até hoje tenho sequelas.
Em maio de 1979, na cadeira de rodas, assumi meu lugar na assembleia, em BH, durante a 1ª greve dos professores de Minas. Marcos Noronha trabalhava na Secretaria de Educação. Ele me ajudou a conseguir verba para reformar e equipar as escolas primárias de Guaxupé e região.
Nesta época, os diretores das escolas eram nomeados pelo governador. Por minha sugestão, os colegiados escolares passaram a escolher seus diretores. Depois de eleitos, eu indicava os nomes para serem nomeados pelo governador.
Consegui verba para construção da nova rodoviária de Guaxupé, no governo do Felipinho; verba para reforma e ampliação do antigo fórum, para a construção do grupo escolar Major Washington e para a área de saneamento básico de várias cidades da região, incluindo Guaxupé. Consegui que professores do Estado fossem disponibilizados às três creches da cidade – Domit Cecílio, Santa Cruz e do Olavo.
Anualmente, o MEC dava bolsas de estudo integrais para os deputados distribuírem onde fosse necessário. Durante meus três mandatos, repassei minhas 60 bolsas para a Academia de Comércio São José. Seo Raimundinho e seo Gilberto Pasqua ficavam encarregados de distribuí-las.
Minha grande luta foi fazer a CEMIG encampar a energia elétrica da nossa região. Consegui somente no 2º mandato, com o apoio do governador Tancredo Neves, mesmo sendo meu opositor político. Nos conhecemos num encontro discreto, à mineira, na fazenda de um amigo em comum, onde conversamos por três horas. Tancredo passou a me chamar de ‘professor’.
À minha casa, os amigos
Assumi minha posição de estar ao lado do Aureliano Chaves, que saiu do PDS para fundar o PFL – Partido da Frente Liberal. Com ele, ajudei a articular a eleição de Tancredo Neves à presidência, contra o candidato Paulo Maluf, do PDS. Também trabalhei em favor das Diretas Já.
O 1º encontro público entre Aureliano e Tancredo, anteriormente opositores políticos, foi na minha casa, durante uma macarronada amiga, que acabou virando um jantar para oitenta pessoas, divulgado em cadeia nacional no Programa da Hebe. Uma frase minha ficou conhecida por ter sido resposta à pergunta de um jornalista, sobre o porquê de eu não ter recebido Paulo Maluf em minha casa: À minha casa convido os amigos.
No meu 1º mandato, aprovei a Lei Orgânica do Ministério Público de Minas, em quinze dias. Como deputado, lutei pela autonomia do Ministério Público, que era dependente da Secretaria de Justiça. Também consegui verba para construção da sede da Associação Mineira do Ministério Público, ainda com Tancredo governador.
Durante uma homenagem ao Tancredo, no Hotel Nacional, ele me disse que gostaria de contar comigo em Brasília, mas morreu antes de tomar posse na presidência da República. Então, não saí candidato a deputado federal, porque queria trabalhar na constituinte mineira.
Em 1988, fui um dos fundadores do PSDB, com Covas, Montoro, Pimenta da Veiga, entre outros. Fui o primeiro secretário do partido, em BH. Apresentei vários projetos na assembleia, o mais importante foi minha participação na constituinte, em 1989, que serviu de modelo para outros estados.
Nessa época, fui o deputado que sempre quis ser. Dediquei-me, exclusivamente, à formulação da nossa constituição, éramos cinco deputados pelo PSDB. Nossa bancada conseguiu aprovar o maior número de emendas. No fim desse trabalho, rodei 86 cidades mineiras para auxiliar na formulação das suas leis Orgânicas, cheguei a escrever uma cartilha junto com minha equipe de gabinete.
Antes de terminar meu terceiro mandato aconteceu um fato inédito, fui reintegrado ao Ministério Público de Minas. Em 1990, saí da assembleia nomeado promotor de Contagem, região metropolitana de BH, onde já me esperavam 1.200 processos, logo garrei no serviço.
Para trabalhar na campanha do Azeredo a governador, tirei licença não remunerada por três meses. Ele me chamou para ser auditor geral do Estado, cargo que ocupei nos quatro anos em que ele foi governador. Depois, fui nomeado Procurador de Justiça do Ministério Público, onde atuei até minha aposentadoria compulsória, aos 70 anos, ou melhor, expulsória (risos).
Continuo filiado ao PSDB e faço parte do Conselho de Ética do estado, desde o 2º mandato do Aécio no governo de Minas, ao qual presto serviço não remunerado. Trabalhei para eleger Dr. Heber, em Guaxupé, subi em todos os palanques com ele. Se necessário, não enjeito uma luta, tô com meu partido e não abro.
Atualmente, continuo eleitor em Guaxupé, nunca transferi meu domicílio eleitoral. Todo mês venho pra cá, fico na chácara onde se reúne toda a família. Leio de tudo, mas detesto computador, acho uma invasão de privacidade tremenda.”
Atualmente, Luiz Vicente tem cinco netos: Mateus, Lívia, Antonino, Luíza e Tiago. Além de Guaxupé, costuma descansar em um recanto ecológico, na Serra da Moeda, que após três anos de luta, na qual Luiz Vicente manteve intensa participação, se tornou parque estadual de reserva florestal, ambiental e paisagística de BH.
Foto:
Em 1991, Luiz Vicente, Zélia, Rúbria, Fernando (genro), Mateus e Lívia (netos), Andréa, Luiz Filho, Raquel, Sálvio Neto e Lucas.
Apoio cultural:
“Morava defronte à escadaria da antiga Mogiana, na rua dos balaústres. A maioria dos funcionários da ferroviária também morava por ali. Toda tarde, meus avôs se sentavam na varanda e, na volta do serviço, foguistas, maquinistas, telegrafistas, entre outros funcionários da ferrovia paravam para conversar com eles, perguntando sobre as novidades. O empório do seo Joaquim Brazão, perto de casa, era outro ponto de encontro desse pessoal.
Meu pai tinha um empório, anexo à nossa casa, chamado Casa do Operário. Nos fundos, havia a oficina onde meu avô Vicente fabricava fogões da marca Fogão Mineiro. Desde os três anos, quando comecei a me entender por gente, andava agarrado com ele, que conversava comigo em italiano e, assim, aprendi este idioma.
Minha avó Carolina era analfabeta, falava numa língua que era verdadeiro patuá, mistura de português, espanhol, francês e italiano, por causa dos lugares em que morou desde que emigrou da Itália com a família, antes de chegar ao Brasil. Ela ajudava meu pai, quando solteiro, a tomar conta do empório, não errava as contas de jeito nenhum.
O primeiro fogão feito por meu avô foi para minha avó que, posteriormente, com o consentimento dela, foi vendido para o Conde (Joaquim Augusto) Ribeiro do Valle. Uma grande obra do meu avô, como funileiro, foi a cúpula do antigo fórum.
Ele trabalhou, também, como cozinheiro durante a viagem de navio da Itália para o Brasil. Sempre gostou de cozinhar, me botava ao lado dele enquanto preparava as comidas. Eu tinha um apelido, Suca, por causa de um penteado chamado xuca que mamãe fazia no meu cabelo. Italiano não pronuncia ‘xis’, daí o apelido, com ‘s’.
Minha rua era de terra, mas movimentada. Em cima do telhado da minha casa ficava um megafone de um serviço de alto-falante. Os namorados faziam footing na balaustrada, ouvindo as músicas dos discos que meu tio Alfredo comprava em São Paulo.
Eu jogava bolinha de gude, triângulo e peão com a molecada. Fui alfabetizado aos cinco anos por tia Nirvana, irmã mais nova da minha mãe, e já lia as histórias em quadrinhos da Revista Tico-tico. Em 1944, entrei no Grupo Barão de Guaxupé. Minha professora do 1º ano foi dona Nilva Pinto; do 2º, dona Olga Mancini, e, do 3º e 4º, dona Maria Antônia Couto, pelas quais eu tinha grande estima.
Ficou marcada na minha memória a euforia do povo na festa da vitória, em 1945, no final da 2ª Guerra Mundial, e a imagem de um carro alegórico com um V imenso. Em 1946, nos mudamos para a avenida, na esquina com a Dr. João Carlos, onde passava um corgo que ia até a rodoviária antiga.
Em 1950, assisti às obras de canalização deste córrego e o da Rua Major Anacleto. Major Anacleto de Rezende, meu tio-avô, foi farmacêutico; ele construiu o prédio onde, no térreo, ficava a farmácia e, no andar superior, sua residência. Neste prédio, depois, funcionou o Grupo Barão, onde estudei.
Minha mãe teve uma grande influência na minha vida cultural, ela me presenteava com muitos livros. Começou com a coleção Tesouros da Juventude. Ainda, eu juntava e vendia jornais velhos para seo Faria. Com a renda, comprava livros na Livraria Avenida, do seo Artur Araújo, onde depois foi a loja Dois Irmãos, do Tufi e Alfredo Sayeg.
Aluno exemplar
Fiz os quatro anos do ginasial no Colégio São Luiz Gonzaga. Como não havia Científico na cidade, em 1952, fui morar no internato do Liceu Salesiano Nossa Sra. Auxiliadora, em Campinas, onde estudei durante dois anos, por opção minha.
O regime militar imposto pelos padres influenciou muito na minha formação, um estudante batia continência para o outro. Havia oitocentos alunos de todas as partes do Brasil. Meus amigos da família Furlan, Carlito, Hugo e Chiquinho, também estudaram nessa escola.
Mais experientes que eu, eles me aconselharam a participar da fanfarra do liceu, pois oferecia algumas vantagens. Como não quis tocar tambor, tive que carregar a bandeira paulista nos desfiles cívicos, como tenente, por causa da minha altura. Eu era bom aluno para fazer parte do corpo da guarda.
No 2º ano, fui tenente-coronel, posto mais alto do batalhão colegial, que desfilava em todas as efemérides. Sempre que o padre-diretor saía para algum evento, ele convidava dois alunos para acompanhá-lo, geralmente, o tenente-coronel era um deles. Ficava até meia-noite nas festas, comendo e bebendo.
As correspondências dos alunos, que entravam e saíam da escola, eram fiscalizadas. As minhas cartas, até mesmo da namorada, os padres não abriam. Eu também era ator do grupo de teatro e escrevia artigos para o jornal estudantil. Gostava muito de esportes, como tinha 1,82 metros, joguei na liga de vôlei contra a Ponte Preta, Guarani e outros times.
Em seguida, fui para o Colégio Culto à Ciência, em São Paulo, perto do Largo do Arouche. Morava numa pensão na Av. Angélica e, também, fazia o Curso Brigadeiro, para o vestibular de Medicina. Aí, um professor de Português ressaltou que minha vocação era ser advogado. Ele dizia que eu tinha jeito para política, por causa dos meus discursos costumeiros.
Faculdade e casamento
Nas férias, vinha para Guaxupé, na jardineira da Nasser ou, mais amiúde, de trem. Quando terminei o Científico, em 1954, prestei vestibular para Direito, na PUC Minas. Escolhi BH porque meu pai, eleito Prefeito de Guaxupé, precisava de mim para representá-lo na capital.
O vestibular foi apertado, passou pouca gente. Foi a menor turma da Católica, com apenas 24 alunos. Por este motivo, todos tiveram muita intimidade com os professores, Pedro Aleixo, Milton Campos, Franzen de Lima, entre outros.
Além do currículo normal de Direito, havia duas cadeiras complementares: Filosofia e Teologia. Uma vez me falaram que um bom advogado precisava saber matemática, que eu odiava. Então, optei por me aprofundar em Filosofia, lógica pura, não aplicada. Quando prestei vestibular já namorava Zélia Ribeiro Leão. Nos conhecemos em 1954, em um baile no Clube Guaxupé, durante um congraçamento médico. Fui ao baile atrás de uma dançarina de flamenco chamada Nélia, que parecia uma espanhola. Aconteceu que ela estava muito requisitada, bajulada por todos os médicos, era o arroz da festa. Eu mesmo consegui dançar com ela só uma vez.
Dr. Arthur Leão achando o ambiente do baile propício, resolveu buscar a filha dele, de 15 anos, que estava em casa. Zélia foi contrariada porque não sabia dançar. Pisou no meu pé até cansar. Entre namoro e noivado foram oito anos. Nosso meio de comunicação foram cartas, que trocávamos semanalmente. Ficamos noivos quando eu estava no 5º ano da faculdade.
Cangaceiro Severino
Em BH, morei na “república dos dez honestos” (risos), entre eles, vários guaxupeanos que se tornaram renomados, como Nickson Russo, Sylvio Ribeiro do Valle, Nicolau Balbino, Antônio Costa Monteiro Jr. e Fábio Costa Monteiro.
A reunião da nossa turma, para jantar no restaurante Califórnia, era chamada de Night’s operation. Quinzé, outro guaxupeano, redigia no jornal O Debate a coluna social da Lady Francisco, muito badalada na época. Ele sempre publicava notícias fantasiosas sobre estes nossos encontros. A gente acontecia na society da capital.
Fiz estágio no escritório do advogado Antônio Ribeiro Romanelli, um grande amigo que participava de um grupo de teatro amador. Ele me convidou para atuar na peça o Auto da Compadecida, do Ariano Suassuna, com direção do João Etienne Filho. Fui o cangaceiro Severino do Aracaju, com sotaque nordestino e tudo. Pra ficar pardo precisei usar muito panqueique. Fiz muitas amizades no meio artístico.
Por causa dessa minha experiência, nos dois últimos anos de faculdade, me convidaram para ser presidente do teatro da Católica, que andava às moscas. Fiz o teatro funcionar. Nessa época, passei a entender todo o processo de montagem de uma peça teatral.
Também estudava na Cultura Francesa. Meu professor, monsieur Vincent, me convidou para dirigir uma peça de teatro de arena, Joana Darc Entre as Chamas, de Jean Paul Claudel, com as internas do Colégio Santa Maria, das freiras dominicanas.
O elenco já estava determinado, o figurino pronto e tudo uma bagunça. Foi um grande desafio, pois as atrizes eram amadoras e teriam, ainda, que fazer papéis masculinos, num evento para o bispo e a fina flor da sociedade mineira. Foi complicação de todo o jeito, mas, no final, deu tudo certo.
Desde o 2º ano eu participava da Juventude Universitária Católica – JUC, mas aquilo não me convencia. Foi então que padre Luiz Viegas me encaminhou para a Juventude Operária Católica - JOC, para lecionar no curso noturno de líderes comunitários de favelas. Ali me senti útil dando aulas de cultura geral, onde fiquei de 1958 a 1960, ano da minha formatura. Em 1958, também fui presidente do Diretório Acadêmico da PUC.
Promotor de Justiça
Voltei para Guaxupé, recém-formado. Dr. Arthur, um grande advogado, foi um exemplo para mim. Zélia brincava que eu namorava mais o pai do que ela. Prestei concurso para promotor de justiça e passei. Tomei posse como promotor substituto em Carmo do Rio Claro. Quando vagou o cargo na promotoria de Alpinópolis, antiga Ventania, passei a atender as duas comarcas. Também dei aulas de História no Colégio Monfort, em Carmo do Rio Claro.
Alpinópolis era sede da obra de Furnas, com 46.000 operários. Todas as ações trabalhistas e acidentes de trabalho ficavam a cargo do promotor, quase morri de tanto trabalhar, das oito da manhã até de madrugada. Nessa fase, até 1964, a experiência na JOC me valeu muito.
A firma inglesa, uma das integrantes do consórcio para construção de Furnas, criou um gueto inglês em Alpinópolis. Durante os quatro anos que ficaram na obra não se dignaram a aprender o português. O lado positivo foi que nossos operários aprenderam o idioma deles. Era uma luta constante contra essa empresa. Acabei tirando licença-médica por estresse e problemas no estômago.
Nesse ínterim, havia me casado com Zélia, em 8.7.1962, na Catedral de Guaxupé, e nos mudamos para Alpinópolis. Nossa primogênita, Rúbria, nasceu em 1963. Com o passar dos anos vieram os outros cinco, Andréa, Sálvio Neto, Luiz Filho, Lucas e Raquel, todos guaxupeanos.
Em 1965, fui promovido por merecimento para a comarca de Jacuí, onde lecionei História, como voluntário, no Colégio Estadual. Meu primeiro carro foi um Gordini 64, que papai ganhou no bingo, em meu nome. Toda semana viajava para Guaxupé onde dava aulas de Iniciação Filosófica na faculdade, sexta à noite e sábado de manhã. Foi assim durante quatro anos.
Em seguida, fui promovido para o Ministério Público de Uberaba, onde fiquei dois anos. Também dei aula de Direito Penal na faculdade de Uberaba. O estado pagava mal e atrasado, ganhava mais como professor. Um dia, na iminência de o tribunal liberar um sujeito que não devia, disse a um colega que se o tal réu fosse liberado, eu pediria exoneração do cargo. E assim foi, saí no meio de uma audiência.
De volta a Guaxupé
No início dos anos 70, minha família e eu viemos morar na rua da porteira, em Guaxupé. Meu pai tinha a S. Calicchio, uma grande loja de materiais para construção. Ele me deu as chaves dessa loja, saiu de férias e se aposentou. Dividi a firma em sociedade por cotas entre minhas irmãs. Os empregados também passaram a ter participação nas vendas. Preparei a informatização da empresa.
No fim da semana, voltei a lecionar na faculdade. Em 1971, João Marques de Vasconcelos foi para a assembleia de Minas, como deputado estadual, e Marcos Noronha ficou no lugar dele, como diretor da faculdade. Como ele não entendia nada de administração, me convidou para ser seu vice. Aí, eu deixei de dar aulas.
No mesmo ano, Walmor Russo foi candidato a prefeito. Eu coordenei a campanha eleitoral dele contra Benedito Felippe da Silva. Ganhamos a eleição. Em 74, montei a Guavema em sociedade com Expedito de Souza. Ganhamos um prêmio nacional de vendas de carros, por causa desse prêmio rebentei no Japão.
A pedido do Sylvio, na época diretor da Santa Casa, escrevi um novo estatuto para a instituição, dando a ela o caráter de fundação, com a figura de um provedor leigo e de um diretor médico. Também colaborei com Walmor na renovação de normas e leis municipais. Na sua gestão como prefeito, ele comprou o prédio do Banco do Brasil para ser a nova sede da Prefeitura.
Walmor me convidou para presidir o Conselho Municipal de Desenvolvimento. Participaram como conselheiros: Zé Mauer, Expedito, Deoti, Duti, entre outros. O Conselho se empenhou em trazer novas empresas para o município. Descobrimos que tínhamos um grave problema com energia elétrica.
Duti e eu rodamos de jipe mais de vinte prefeituras buscando apoio para a fundação de uma associação que reunisse todos os municípios da região. Conseguimos adesão de dezessete e fundamos a AMOG. Walmor foi eleito seu primeiro presidente.
Com a criação da AMOG, a Fundação João Pinheiro fez um grande mapeamento da região, detectando características comuns entre os municípios. Ficou comprovado que o maior problema de todos era, realmente, a luz. Começamos uma batalha para substituir a Cia. Bragantina, responsável pela energia elétrica da região.
Fui presidente da ACIG, em 1977, após a gestão do Lécio Brocchi. Também reformulei o estatuto da associação, que era muito antigo. Na minha gestão, a associação passou a oferecer cursos para formação de mão de obra qualificada no comércio.
O jubileu das Orquídeas
Durante as festas das orquídeas, várias misses e políticos de Minas Gerais se hospedaram na casa dos meus pais. Eu fiz amizade com todos os orquidófilos. Fui convidado para uma reunião no Clube Guaxupé para organização do jubileu de prata das Orquídeas. Em seguida, fui comer um lanche no boteco do Kutiúla, onde Dr. Albertinho me encontrou e pediu que eu fosse presidente da comissão da festa.
Naquela noite, mesmo, procurei Severo Silva para me ajudar a fazer uma semana de festa. Consegui apoio financeiro de várias empresas. Trouxemos muitas atrações, como Chacrinha, Fafá de Belém, Noite Ilustrada e Jamelão. Teve bailes no Clube Guaxupé, Clube Operário e Pio Damião.
Em frente ao clube, montamos uma quermesse sob as árvores e, em frente à prefeitura, um tablado para as apresentações artísticas. Organizamos rodas de viola para valorizar os artistas locais, com ajuda do Elias José, Tião Rezende e outros. A Rádio Clube foi contratada para apresentar os shows. Minha proposta foi fazer uma festa popular, não para poucos como era costume.
A faculdade passou por uma fase crítica. Para atender as exigências do MEC, tivemos que caçar livros em sebos e com o auxílio da bibliotecária Nequinha (Vilma Bertoni) formamos uma nova biblioteca. Conseguimos reconhecimento dos cursos de licenciatura plena da Fafig e Faceg.
Nessa época, criamos o Colégio Dom Inácio para ser uma escola experimental, onde os recém-formados da faculdade pudessem lecionar. Quando Marcos Noronha foi para Belo Horizonte, ocupei o lugar dele, e Toninho Costa Monteiro ficou de vice.
Deputado Calicchio
Certa noite, João Marques foi à minha casa, na rua da porteira. Contou-me que seria convidado para um cargo elevado do Estado. Se assim fosse, pediu que eu saísse candidato a deputado. Passou a madrugada me convencendo. No fim, mais por cansaço que persuasão, acabei concordando.
Eu estava construindo a casa dos meus sonhos, em frente à chácara do meu pai. Achei que ficaria sossegado. Ao perceber minha dúvida, meu pai me perguntou o que o João tanto queria comigo, e eu contei. Ele me lembrou que cavalo arreado passa na porta de casa só uma vez, e se propôs a me ajudar, me estimulando a aceitar.
João tornou-se vice-governador de Minas. Eu saí candidato pela ARENA, nas eleições de 1978. Rodei a região toda, ampliando o quadro eleitoral que ele havia formado, pois eu já conhecia a maioria dos prefeitos. Há sessenta dias da eleição, enquanto trocava um pneu do carro, fui atropelado entre Itamogi e Monte Santo de Minas.
Fui levado ao hospital de Monte Santo e, depois, transferido por Sylvio, meu compadre, para o Hospital São Francisco, em Ribeirão. Fiquei hospitalizado 65 dias, ganhei a eleição na cama. Minha recuperação durou dois anos, até hoje tenho sequelas.
Em maio de 1979, na cadeira de rodas, assumi meu lugar na assembleia, em BH, durante a 1ª greve dos professores de Minas. Marcos Noronha trabalhava na Secretaria de Educação. Ele me ajudou a conseguir verba para reformar e equipar as escolas primárias de Guaxupé e região.
Nesta época, os diretores das escolas eram nomeados pelo governador. Por minha sugestão, os colegiados escolares passaram a escolher seus diretores. Depois de eleitos, eu indicava os nomes para serem nomeados pelo governador.
Consegui verba para construção da nova rodoviária de Guaxupé, no governo do Felipinho; verba para reforma e ampliação do antigo fórum, para a construção do grupo escolar Major Washington e para a área de saneamento básico de várias cidades da região, incluindo Guaxupé. Consegui que professores do Estado fossem disponibilizados às três creches da cidade – Domit Cecílio, Santa Cruz e do Olavo.
Anualmente, o MEC dava bolsas de estudo integrais para os deputados distribuírem onde fosse necessário. Durante meus três mandatos, repassei minhas 60 bolsas para a Academia de Comércio São José. Seo Raimundinho e seo Gilberto Pasqua ficavam encarregados de distribuí-las.
Minha grande luta foi fazer a CEMIG encampar a energia elétrica da nossa região. Consegui somente no 2º mandato, com o apoio do governador Tancredo Neves, mesmo sendo meu opositor político. Nos conhecemos num encontro discreto, à mineira, na fazenda de um amigo em comum, onde conversamos por três horas. Tancredo passou a me chamar de ‘professor’.
À minha casa, os amigos
Assumi minha posição de estar ao lado do Aureliano Chaves, que saiu do PDS para fundar o PFL – Partido da Frente Liberal. Com ele, ajudei a articular a eleição de Tancredo Neves à presidência, contra o candidato Paulo Maluf, do PDS. Também trabalhei em favor das Diretas Já.
O 1º encontro público entre Aureliano e Tancredo, anteriormente opositores políticos, foi na minha casa, durante uma macarronada amiga, que acabou virando um jantar para oitenta pessoas, divulgado em cadeia nacional no Programa da Hebe. Uma frase minha ficou conhecida por ter sido resposta à pergunta de um jornalista, sobre o porquê de eu não ter recebido Paulo Maluf em minha casa: À minha casa convido os amigos.
No meu 1º mandato, aprovei a Lei Orgânica do Ministério Público de Minas, em quinze dias. Como deputado, lutei pela autonomia do Ministério Público, que era dependente da Secretaria de Justiça. Também consegui verba para construção da sede da Associação Mineira do Ministério Público, ainda com Tancredo governador.
Durante uma homenagem ao Tancredo, no Hotel Nacional, ele me disse que gostaria de contar comigo em Brasília, mas morreu antes de tomar posse na presidência da República. Então, não saí candidato a deputado federal, porque queria trabalhar na constituinte mineira.
Em 1988, fui um dos fundadores do PSDB, com Covas, Montoro, Pimenta da Veiga, entre outros. Fui o primeiro secretário do partido, em BH. Apresentei vários projetos na assembleia, o mais importante foi minha participação na constituinte, em 1989, que serviu de modelo para outros estados.
Nessa época, fui o deputado que sempre quis ser. Dediquei-me, exclusivamente, à formulação da nossa constituição, éramos cinco deputados pelo PSDB. Nossa bancada conseguiu aprovar o maior número de emendas. No fim desse trabalho, rodei 86 cidades mineiras para auxiliar na formulação das suas leis Orgânicas, cheguei a escrever uma cartilha junto com minha equipe de gabinete.
Antes de terminar meu terceiro mandato aconteceu um fato inédito, fui reintegrado ao Ministério Público de Minas. Em 1990, saí da assembleia nomeado promotor de Contagem, região metropolitana de BH, onde já me esperavam 1.200 processos, logo garrei no serviço.
Para trabalhar na campanha do Azeredo a governador, tirei licença não remunerada por três meses. Ele me chamou para ser auditor geral do Estado, cargo que ocupei nos quatro anos em que ele foi governador. Depois, fui nomeado Procurador de Justiça do Ministério Público, onde atuei até minha aposentadoria compulsória, aos 70 anos, ou melhor, expulsória (risos).
Continuo filiado ao PSDB e faço parte do Conselho de Ética do estado, desde o 2º mandato do Aécio no governo de Minas, ao qual presto serviço não remunerado. Trabalhei para eleger Dr. Heber, em Guaxupé, subi em todos os palanques com ele. Se necessário, não enjeito uma luta, tô com meu partido e não abro.
Atualmente, continuo eleitor em Guaxupé, nunca transferi meu domicílio eleitoral. Todo mês venho pra cá, fico na chácara onde se reúne toda a família. Leio de tudo, mas detesto computador, acho uma invasão de privacidade tremenda.”
Atualmente, Luiz Vicente tem cinco netos: Mateus, Lívia, Antonino, Luíza e Tiago. Além de Guaxupé, costuma descansar em um recanto ecológico, na Serra da Moeda, que após três anos de luta, na qual Luiz Vicente manteve intensa participação, se tornou parque estadual de reserva florestal, ambiental e paisagística de BH.
Foto:
Em 1991, Luiz Vicente, Zélia, Rúbria, Fernando (genro), Mateus e Lívia (netos), Andréa, Luiz Filho, Raquel, Sálvio Neto e Lucas.
Apoio cultural:
Comentários
Parabéns!! A reportagem ficou impecável!!
Muito interessante a abrangência de temas e o registro da Biografia de cada pessoa que voce escolhe. Eterniza a vida
bjs
Valéria
Muito bom ler seus comentários, obrigada. Saiba que consertei minha falha na história virtual da Carmen, incluindo seu nome na foto. Já o papel, infelizmente, não aceita deslizes...
Volte sempre.
bjs renovados
Sheila
A reportagem é de alto estilo.
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